JBS (JBSS3): ‘A participação da J&F e do BNDES é um empecilho para dupla listagem’, vê Genial
Há 16 meses, desde julho do ano passado, a JBS (JBSS3) tem trabalhado para realizar a dupla listagem de suas ações, com os papéis negociados na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) e B3.
O head de commodities da Genial Investimentos, Igor Guedes, em conversa com o Money Times, reforçou que o frigorífico acredita que terá uma base maior de investidores com a listagem.
“Existe um potencial desconto para pares como a Tyson Foods, que seria uma empresa com um portfólio de produtos mais similar ao que a JBS conta hoje, com a Tyson negociando com um múltiplo mais esticado que a JBS, que sempre foi assim, historicamente”, vê.
De acordo com o analista, na percepção da JBS, o frigorífico não acessa essa base de investidores por conta das suas ações primárias serem no Brasil, com os American Depositary Receipts (ADRs) na bolsa de NY contando com uma liquidez muito baixa.
O que tem impedido a dupla listagem da JBS?
Guedes reforça que a holding J&F da família Batista conta com um percentual muito relevante das ações (48.34%) da JBS, o que não é muito bom pelo lado da governança corporativa.
“Eles eventualmente teriam de dissipar um pouco dessas participações para não cair em nenhuma malha fina da SEC. Essa parece ser a questão que mais gera ruídos nesse tema da dupla listagem”, comenta.
O head da Genial lembra que o BNDES também conta uma participação relevante no frigorífico (20.81%) e que há alguns meses foram veiculadas notícias de que o banco poderia fazer uma venda dessas ações no mercado secundário.
“No mesmo dia que saíram notícias sobre uma possível venda da fatia do BNDES, a JBS anunciou um programa de recompra de ações. A nossa interpretação foi, caso o BNDES fizesse essa venda para o mercado secundário e não tivesse compradores do outro lado, isso pressionaria o valor do ativo na bolsa, fazendo as ações caírem. Há um free float relativamente baixo para uma empresa do market cap da JBS”, pontua.
Alto nível de concentração pela família Batista e o BNDES é empecilho
Segundo Guedes, o movimento de recompra de ações pela JBS seria uma forma da própria empresa compra seus papéis e garantir o nível de estabilidade do preço da ação, caso o BNDES se desfizesse uma participação relevante das ações.
A Genial questionou a JBS sobre o tema, que por sua vez, disse não poder responder pelo BNDES e que o programa de recompra de ações se deu pela visão do frigorífico de que as ações estão baratas.
“O alto nível de concentração pela família Batista e o BNDES é certamente um empecilho para a SEC aprovar a dupla listagem. Fora isso, há um potencial benefício para redução da desalavancagem, assim como o alongamento da dívida de curto prazo, melhorando a relação dívida líquida/Ebitda. Acessando o mercado de capitais de dívidas dos EUA através da dupla listagem seria melhor, mas por outro lado, eles já tem bonds emitidos nos EUA, com parte da dívida já atrelada ao dólar”.
Para o head de commodities, o prazo para aprovação do processo está mais devagar do que a Genial imaginava. “A expectativa inicial era para o começo de 2023, o que não aconteceu, depois disseram fim de 2024, sendo que já estamos em novembro. É possível que isso ocorra no 1º semestre do ano que vem, mas acredito que essa questões relacionadas à governança corporativa estão travando”.
Na semana passada, ouvimos Bruno Corano, economista e fundador da Corano Capital, gestora e asset em NY, citou que os principais impasses da SEC (Securities and Exchange Commission) para listagem se dá por conta de questões passadas.
“A JBS herda um histórico de ter sido envolvida em escândalos, com questionamentos em termos de compliance de até onde ela seria absolutamente íntegra. Mas parece que essa ‘novela’ da listagem está caminhando”, disse.
A JBS como uma empresa norte-americana
De acordo com Guedes, assim que a companhia conseguir destravar todo a burocracia com a SEC, a ideia do frigorífico é garantir liquidez para o papel.
“Existe uma conversa, que eles já estão tendo com as assets, com o buy-side americano e restante do mundo, já que há uma seção de mercados emergentes dentro das assets”, diz.
Caso o processo avance, com a listagem primária ocorrendo em NY, a empresa se comunicaria com fundos de investimento não pela seção de mercado emergentes, e sim como uma empresa norte-americana.
O analista aponta que a Beef North America responde por 20-30% do Ebitda da JBS, e que somadas a Pilgrim Pride, que é a divisão de frango, e a US Pork, esse total responde por quase 50% da empresa, uma participação relevante do Ebitda da JBS no mercado norte-americano.
“A busca pela dupla listagem faz sentido já que eles entendem que há um desconto histórico para Tyson, que eles querem expurgar do múltiplo, além de ter um acesso mais amplo ao mercado de capitais nos Estados Unidos, o que baixaria o custo da dívida. Além disso, a empresa quer fazer uma reestruturação do plano de vista societário, então há algumas vantagens”.
O Money Times entrou em contato com assessoria da JBS sobre o tema, que disse:
A proposta de dupla listagem criará oportunidades para a Companhia, colaboradores, comunidades em que atua e todos os stakeholders. O processo segue em trâmite normal na Securities and Exchange Commission (SEC).
A JBS mantém relacionamento permanente com investidores e parceiros nacionais e estrangeiros, que têm dado recorrentes demonstrações de confiança na credibilidade e na robustez de nossas políticas e operações.