Aviação

Jato de fuga de Ghosn também transportou ouro venezuelano

03 jan 2020, 15:18 - atualizado em 03 jan 2020, 15:18
A MNG Jet diz que os clientes podem fazer o que quiserem com a aeronave fretada, desde que não seja ilegal (Imagem: Reprodução/LinkedIn MNG Jet)

Quer transportar toneladas de ouro ou levar um ditador a um lugar seguro? Precisa tirar um executivo da prisão domiciliar e transportá-lo clandestinamente para o outro lado do mundo?

A empresa escolhida por Carlos Ghosn para sua audaciosa fuga do Japão foi uma operadora de voos charter turca cujas aeronaves ajudaram a fazer tudo isso e muito mais.

Dois aviões operados por uma unidade da MNG Holding, um conglomerado com serviços de hotelaria, finanças e transporte, fizeram a rota tortuosa de Osaka para Istambul e depois Beirute, transportando secretamente Ghosn para seu país de origem, segundo uma autoridade turca.

Embora os detalhes ainda estejam sendo revelados, a dramática fuga chama a atenção para a empresa e para o mundo privado dos voos charter. O governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, usou aeronaves da MNG para enviar ouro para Istambul. Reza Zarrab, um trader de ouro que violou as sanções dos EUA ao Irã, recorreu à empresa para administrar seu avião particular.

Os jatos fretados oferecem aos clientes uma capa de privacidade. Os aviões geralmente pertencem a um grupo, mas são operados e administrados por uma empresa especializada. Ainda assim, é possível rastrear os números e registros da cauda, parcialmente quebrando o sigilo. Foi assim que o nome da MNG surgiu no drama de Ghosn.

“Tenho certeza de que estão no radar de todos agora”, disse Michael Burton, advogado especializado em direito do comércio internacional.

A MNG Jet diz que os clientes podem fazer o que quiserem com a aeronave fretada, desde que não seja ilegal. No entanto, a empresa afirmou que abriu um processo criminal relacionado aos voos de Ghosn que, segundo a MNG Jet, significaram “o uso ilegal de seus serviços de fretamento de jatos”.

“Da mesma forma que uma agência de aluguel de carros, a MNG Jet aluga aviões e não se responsabiliza pelo que os passageiros fazem com eles”, escreveu a empresa em resposta por e-mail a perguntas. “De acordo com o código da aviação internacional, não é papel, responsabilidade e direito da MNG Jet investigar as razões por trás das viagens ou verificar o conteúdo da bagagem transportada pelos passageiros nos aviões.”

Uso ilegal de jatos

A empresa afirmou que abriu um processo criminal relacionado aos voos de Ghosn que, segundo a MNG Jet, significaram “o uso ilegal de seus serviços de fretamento de jatos” (Imagem: Divulgação)

A Turquia deteve sete pessoas, que incluem quatro pilotos, e está investigando o transporte de Ghosn.

A MNG possui uma importante unidade de carga que faz negócios com clientes como UPS e DHL. Essa unidade, a MNG Airlines, presta serviços à Rússia, China, Cazaquistão, Alemanha, Reino Unido e Oriente Médio. Uma afiliada de menor porte, a MNG Jet, opera pelo menos meia dúzia de aeronaves no Aeroporto Ataturk de Istambul.

A unidade MNG disse que alugou dois jatos para dois clientes diferentes: um programado para voar de Dubai a Osaka e depois para Istambul, e outro de Istambul a Beirute. A empresa acrescentou que os contratos de fretamento não pareciam estar conectados e que o nome de Ghosn não aparecia em nenhuma documentação de voo. A MNG não forneceu os nomes nos contratos.

Segundo a empresa, um funcionário da MNG Jet, que está sendo investigado pelas autoridades turcas “admitiu que falsificou os registros”. Ele também “confirmou que agiu por contra própria, sem o conhecimento ou a autorização da administração da MNG Jet”, disse a empresa.

Quando Ghosn embarcou em uma das aeronaves da empresa em Osaka, ele se tornou o mais recente passageiro em um jato que foi seguido meticulosamente no último ano por detetives amadores. O jato fez várias viagens de Caracas a Istambul, transportando ouro para o governo venezuelano, ansioso por arrecadar divisas, segundo uma pessoa a par do assunto. Essas rotas foram confirmadas pelo flightradar24.com, com sede na Suécia.

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