Moedas

Japão eleva taxa de juros ao maior nível em 16 anos, o que pode pressionar ainda mais o real 

31 jul 2024, 16:33 - atualizado em 31 jul 2024, 16:33
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Divisa japonesa serve como funding para posições ‘short’ contra moedas de carry trade — entre elas, a moeda brasileira. (Imagem: Getty Images)

A ‘Super Quarta’, como é conhecido o dia marcado por decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, também contou com surpresas do Japão. 

Enquanto o Federal Reserve (Fed) manteve os juros na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano, como o esperado, e o Banco Central brasileiro também deve decidir pela manutenção da Selic a 10,50% ao ano, o Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) elevou a taxa básica de juros em 15 pontos-base, da faixa de 0% a 0,1% para o intervalo de 0,15% a 0,25% — ao maior nível em 16 anos. 

O movimento acontece quatro meses depois de a autoridade monetária da quarta maior economia do mundo pôr fim ao ciclo de juros negativos — sendo a primeira alta desde 2007. 

Depois da decisão, o presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, não descartou outro aumento de juros este ano e sinalizou a disposição do banco de aumentar constantemente os custos de empréstimos para níveis considerados neutros para a economia nos próximos anos. 

As declarações de Ueda empurraram o dólar para menos de 151 ienes pela primeira vez desde março.

Isso também é totalmente positivo para o mercado de ações, uma vez que o mercado vinha utilizando uma faixa de 130 a 140 ienes por dólar para avaliar as empresas.

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Mas o que a taxa de juros no Japão tem a ver com o real? 

Nas últimas semanas, a moeda japonesa tem acumulado ganhos contra o dólar em meio a intervenções cambiais do Banco do Japão — com reflexo na desvalorização de quase 14% do real no ano, com um dos piores desempenhos entre os países emergentes. 

O país gastou 5,535 trilhões de ienes, o equivalente a US$ 36,23 bilhões, em intervenções no câmbio entre 27 de julho e 29 de julho, segundo dados do Ministério das Finanças divulgados nesta quarta-feira (31). 

E, agora, com a elevação dos juros, a moeda japonesa tende a se apreciar ainda mais. 

Isso acontece porque em um um ambiente de juros mais elevados, os ativos tornam-se mais atraentes dado a possibilidade de retorno maior, aumentando a demanda pela moeda local. 

“Esta postura mais agressiva, adotada poucas horas antes da reunião do Federal Reserve dos EUA, pode ser interpretada como um indicativo de fortalecimento do iene, à medida que os investidores ajustam suas expectativas para um possível estreitamento do diferencial de taxas de juros entre os EUA e o Japão”, afirma Matheus Spiess, analista da Empiricus. 

Na avaliação da gestora Janus Henderson , o BoJ deve seguir com uma postura contracionista — com a expectativa de novos aumentos de juros adiante. 

“O Japão está apenas no início da normalização das taxas de juros. A verdadeira questão não é sobre o próximo aumento da taxa, mas qual será a taxa terminal”, disse Junichi Inoue, diretor de ações japonesas e gerente de portfólios da Janus Henderson. 

Em linhas gerais, um iene valorizado ante o dólar e a eventual diminuição no diferencial de juros entre Japão e Estados Unidos levam investidores a reverterem as operações de “carry trade” — uma operação em que os investidores tomam ativos em locais com juros baixos para rentabilizar em outros com juros mais altos. 

A valorização do iene pressiona divisas emergentes como o real, já que a divisa japonesa serve como funding para posições ‘short’ contra moedas de carry trade — entre elas, a moeda brasileira. 

Sendo assim, intervenções no câmbio do Japão tendem a provocar uma realização forçada das demais divisas emergentes.