Japão e Europa trilham caminhos diferentes enquanto G7 alerta para riscos de inflação
Depois de percorrerem por muito tempo uma trajetória semelhante no combate à inflação baixa, Japão e Europa agora parecem adotar abordagens contrastantes em relação à política monetária e aos riscos de aumento dos preços, o que levantou alertas na reunião do Grupo dos Sete desta semana na Alemanha.
O presidente do banco central do Japão, Haruhiko Kuroda, repetiu nesta sexta-feira sua postura “dovish”, inclinada a afrouxamento monetário, dizendo que a recente alta da inflação terá vida curta e não justifica a retirada do estímulo.
“Não há absolutamente nenhuma mudança em nossa visão de que é apropriado manter nossa política de controle da curva de juros, incluindo taxas de juros negativas”, disse Kuroda após participar da reunião dos líderes financeiros do G7.
O tom de Kuroda contrastava com o de autoridades europeias, que estão cada vez mais preocupadas com o salto dos preços, ao menos o suficiente para se comprometerem antecipadamente com elevações de juros.
“Com certeza juros negativos são algo do passado”, disse o membro do Banco Central Europeu (BCE) Joachim Nagel após a reunião do G7.
“O fato é que a dinâmica da inflação mudou profundamente em um período de tempo relativamente curto. Assim, a política monetária mudou na maioria dos países do G7”, disse Nagel.
O núcleo da inflação ao consumidor do Japão superou apenas ligeiramente a meta de 2% do banco central em abril pela primeira vez em sete anos.
Já a inflação na zona do euro atingiu o recorde de 7,4% em abril, bem acima da meta de 2% do BCE, mesmo depois de eliminados os preços de energia e alimentos.
Kuroda insiste que o lento crescimento salarial japonês e a mentalidade deflacionária rígida impedirão que a inflação suba muito.
O caso da Europa ressalta o perigo de ser complacente com o risco de ampliação da inflação. O BCE subestimou a inflação no ano passado e minimizou preocupações sobre a pressão dos preços por meses.
A presidente do BCE, Christine Lagarde, descartou ajustes de juros em dezembro, antes de mudar abruptamente de rumo e abrir as portas para a primeira alta de juros do banco em mais de uma década.
A chave para quando o Japão finalmente poderá se juntar a outras economias ao finalizar seu programa de estímulo extraordinário dependerá do cenário para as expectativas de inflação –e do destino do iene, que recentemente chegou a mínimas em duas décadas, dizem analistas.
A recente queda do iene para a mínima de duas décadas abaixo de 130 por dólar tem sido uma fonte de preocupação para as autoridades japonesas, já que eleva os custos de importação de combustíveis e alimentos.
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