Ivan Sant’Anna: Uma aposta, 2019 já fez sua máxima
Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite
Caro leitor,
Às vezes, alguns leitores me enviam mensagens reclamando quando escrevo sobre política.
“Você deveria se limitar ao mercado financeiro”, eles sugerem. Mas quando os fundamentos da Bolsa e do câmbio são políticos, só me resta falar do assunto.
Se as cotações estivessem sendo influenciadas por condições climáticas (seca ou inundação – weather market), estaria comentando meteorologia.
Caso o tema em voga fosse inflação, taxa de juros e eleições, estaria dedicando meus textos a inflação, taxa de juros e eleições.
Só que o assunto dos últimos meses foi basicamente a reforma da Previdência. Aos 45 do segundo tempo (falta a prorrogação, na próxima semana), o Senado tungou mais R$ 76,4 bilhões da economia esperada para os próximos dez anos. Se o motivo foi justo, não vem ao caso. Mas tungou.
O mercado não gostou nem um pouco desse corte inesperado. Pior, nos destaques votados ontem (e felizmente derrotados) havia a possibilidade de que a reforma perdesse outros R$ 201,3 bilhões, hipótese em que a desidratação teria outro nome: quebra do sistema previdenciário.
Não se pode descartar os tombaços sucessivos que Nova York vem sofrendo. Claro que isso também influenciou a queda de São Paulo.
Voltando à reforma, segundo o relator Tasso Jereissati, “alcançamos um resultado muito bom, não um resultado ótimo”.
No início do ano, quando o assunto começou a ser tratado, a expectativa do governo era de uma economia de R$ 1,2 trilhão, valor esse que, caso o segundo turno de votação no Senado não enxugue mais nada, deverá ficar em pouco mais de R$ 800 bilhões em uma década.
Cá entre nós, esses números podem melhorar, dependendo da economia voltar a crescer, trazendo a reboque maior arrecadação do INSS.
O low do ano no Ibovespa ocorreu logo no primeiro dia útil (2 de janeiro), quando o índice foi cotado a 87.537. Na época, inclusive tive a audácia de escrever a crônica “O Ibovespa já fez a mínima de 2019”.
Hoje vou repetir a dose. Acho que a máxima também já aconteceu, a 106.650, no dia 10 de julho, quando a PEC previdenciária foi aprovada em 1º turno na Câmara dos Deputados. Antes dos destaques castradores, bem entendido.
No meu juízo, essa economia de R$ 800 bilhões se deve única e exclusivamente aos esforços do ministro da Economia, Paulo Guedes, do secretário da Previdência, Rogério Marinho, dos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, e dos relatores Samuel Moreira (Câmara dos Deputados) e Jereissati.
Durante todo esse tempo, o presidente da República, Jair Bolsonaro, se preocupou em preservar os direitos dos militares e policiais, como tem sido seu papel desde que assumiu uma cadeira na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, em 1989. Aliás, na ocasião, seu projeto mais comentado foi o de que os militares tivessem passe gratuito nos ônibus, trens e metrô da cidade.
O Brasil teve a sorte de Bolsonaro ter se encantado com Paulo Guedes, liberal convicto da Escola de Chicago. Tivesse escolhido para a pasta da Economia um ultranacionalista, como o próprio capitão-presidente foi durante quase toda a sua vida pública, nós estaríamos ferrados.
Ferrados da porra, só para usar a linguagem em voga no Planalto.