Colunistas

Ivan Sant’Anna: Um Brasil que ninguém conhece

10 out 2019, 10:30 - atualizado em 10 out 2019, 10:30
“Que a taxa Selic termine o ano em 4,50%, já é quase consenso. E, tal como escrevi em outra crônica, o consenso faz a taxa, o Copom obedece e não o contrário”, afirma Ivan Sant’Anna

Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite

Caro leitor,

Ontem, foi divulgado o IPCA de setembro. Surpreendeu a todos. Enquanto a média de expectativa do mercado financeiro era de uma inflação de 0,03%, veio uma deflação de 0,04%. Computados os últimos doze meses, o número está em 2,89%.

Embora esteja na profissão desde 1958, jamais testemunhei um cenário como este. Cansei de ver o mercado eufórico, e o governo se jactar com uma inflação de 2,89% ao mês. Sim, ao mês.

Também já vi duas ou três deflações mensais, que se seguiram a planos heterodoxos (Cruzado, Cruzado Novo, Novo Cruzado, Bresser, Verão, Collor, Collor 2, etc.). Só faltou o Cruz Credo.

Foram momentos passageiros. Todo mundo tinha plena consciência de que eram fugazes, frutos de congelamento de salários e preços e de tablitas deflatoras. Nada mais do que preços represados, que só apareciam na cotação do dólar paralelo e do ouro.

+ Conheça aqui o método que já está ajudando 2.998 pessoas a ganhar até três vezes mais do que o Ibovespa de forma acelerada.

Vi também, acreditem, o governo fechar, em julho, a inflação do ano. Isso aconteceu com Delfim Netto, na pasta da Fazenda, em 1973, no último ano da administração Médici, que deixou o pepino para o Geisel descascar.

Voltando ao momento atual, o último prognóstico dos economistas consultados pelo pessoal da mesa da Inversa é de um IPCA de 3,1% para 2019, portanto próximo do piso da meta inflacionária (vejam bem: eu escrevi “piso”), que fora fixado em 2,75%.

Que a taxa Selic termine o ano em 4,50%, já é quase consenso. E, tal como escrevi em outra crônica, o consenso faz a taxa, o Copom obedece e não o contrário.

Tomando por base os 3,1% de inflação e os juros de 4,50%, poderemos virar o réveillon com um retorno real de 1,4% nos títulos do Tesouro.

Ontem, o Ibovespa se comportou de acordo com os fundamentos. De um lado, o Senado bateu o martelo com o Planalto com relação à quarta e última rodada de votação da reforma da Previdência. Veio então esse IPCA fora do tradicional contexto tupiniquim. São números japoneses, quem diria.

No início do ano, muita gente apostava num Ibovespa ao redor de 125 mil, caso a PEC previdenciária fosse aprovada sem grandes desidratações, que foi mais ou menos o que aconteceu.

Só que agora o ambiente, e por conseguinte o mood dos investidores e especuladores, é outro. Dinheiro na carteira ou parado em conta corrente no banco já não assusta. Aliás, se usarmos setembro como base, dá até um lucrinho de 0,04%.

Acho que Previdência é passado. O mercado está sempre olhando para a frente. E nos próximos seis meses vai ficar focado nas privatizações e nos resultados das IPOs.

Mas, atenção: no cenário atual, qualquer ganho de 5% na Bolsa é porrada. Por isso, dificilmente irão acontecer rallies cavalares. No máximo, algumas promenades no bosque.

Este Brasil que surgiu como que por encanto ninguém conhece. Deflação, juros anuais de quatro e meio por cento… Parece lenda.

Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.