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Ivan Sant’Anna: Trump é um Dom Quixote

06 ago 2019, 19:48 - atualizado em 06 ago 2019, 19:48

Caro leitor,

Durante a madrugada de domingo para segunda no Ocidente, com os mercados chineses já em horário de expediente normal, o yuan voltou a ser cotado a sete por um contra o dólar, o que não acontecia desde 2008.

Até a última sexta-feira, a China fixava o valor de sua moeda. Mas bastou que a liberasse e a barreira psicológica dos 7 foi rompida.

O fato nada mais é do que um novo capítulo da guerra comercial entre chineses e americanos. Como estamos falando das duas maiores potências econômicas do planeta, isso tem reflexo em todos os mercados mundiais.

Ao longo dos 24 fusos horários, as bolsas despencaram. O dólar se desvalorizou contra as moedas fortes, principalmente o iene e o franco suíço, e ganhou preço frente às emergentes.

A coisa não parou por aí. Após o fechamento dos pregões americanos, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos acusou a China de ser uma manipuladora de moedas. Isso fez com que o S&P500 caísse mais um por cento na abertura dos mercados asiáticos e que o yuan fizesse novos lows.

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Fosse essa a única frente de batalha de Donald Trump, talvez ele até pudesse se dar bem. Mas o presidente americano é um Don Quixote que luta contra vários moinhos de vento ao mesmo tempo.

O Fed, por exemplo, poderia ajudar Trump nesta guerra, reduzindo as taxas de juros, digamos, em meio por cento. Note-se que eles não são obrigados a aguardar a próxima reunião do Fomc, programada para os dias 17 e 18 de setembro, para fazer isso.

Os governadores da Reserva podem tomar esse tipo de decisão através deconference calls a qualquer momento. Só que, como Trump está acusando o chairman Jerome Powell de sabotador, se o Comitê baixar os juros neste momento ficará parecendo que seus integrantes estão se curvando para a Casa Branca.

Faltam 15 meses para as eleições presidenciais americanas. Imaginemos o seguinte cenário: bolsas caindo, diminuição no ritmo de crescimento da economia e guerra aberta no front externo com os chineses.

Em Fevereiro de 1991, após a vitória da coalizão liderada pelos Estados Unidos na Guerra do Golfo, a popularidade do presidente George H. W. Bush (Bush pai) atingiu 89%.

Veio, então, uma recessão, com os índices de desemprego subindo dramaticamente. O velho Bush perdeu as eleições de 1992 para o democrata Bill Clinton, até pouco tempo antes um obscuro governador do Arkansas.

Voltando a Donald Trump, sua taxa de aprovação jamais foi lá essas coisas. O máximo que conseguiu foi se aproximar de um fifty/fifty. Se a economia desandar por causa da crise com os chineses, ele poderá perder o Salão Oval para um democrata.

Tudo isso somado, é provável que estejamos no limiar de um bear market de respeito. É bom ficar de olho nesse ciclo do urso que pode estar se iniciando. Ainda mais se levarmos em conta que, entre os presidenciáveis democratas, há vários socialistas.

Vá lá, socialistas para padrão americano, mas mesmo assim socialistas. E não é exatamente a linha de pensamento que Wall Street prefere.

Convido você agora a ouvir o podcast de hoje do Marink Martins, meu amigo e especialista em mercados internacionais. Ele fala sobre a Guerra Comercial, avaliando os encontros entre chineses e americanos e os desdobramentos para investidores. É só entrar aqui para ouvir.

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Ivan Sant’Anna

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