Ivan Sant’Anna: Os mercados estão chatos
Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite
Caro leitor,
Se há uma coisa que atrai os especuladores, é a volatilidade. Quando os ativos se movimentam com violência para cima ou para baixo, é aí que surgem boas oportunidades de lucro. Só que isso não acontece neste momento. Está tudo muito chato.
Comecemos pelas declarações e twitters de Donald Trump e Jair Bolsonaro. Como as pessoas se acostumam com tudo, já não ligam muito para as excentricidades (para usar um termo light) de ambos.
Num dia, Trump debocha de Kim Jong-un, chamando-o de “aquele gordinho baixinho”. Uma semana depois o classifica como grande líder, num encontro entre ambos em Cingapura.
Mais uma reunião entre os dois, desta vez em Hanoi, capital do Vietnã. Eles não entram em acordo sobre o programa nuclear norte-coreano e Donald Trump parte no Air Force Number One deixando a mesa posta para o jantar de gala. Quem deve ter se dado bem foi o pessoal da cozinha, que possivelmente levou a “janta” pra casa.
Parou nisso? Não. Pouco tempo depois, eles surgem dando pulinhos pra lá e pra cá sobre a listra branca que demarca a fronteira entre as duas Coreias, em Panmunjon, um dos pontos mais fortificados do mundo. Pareciam estar brincando de amarelinha (se você é da era dos jogos eletrônicos, não sabe do que estou falando).
Esse tipo de coisa, que entusiasmou alguns americanos, e revoltou outros, já deixou de ser importante. Caramba! Acontece todo dia. Não causa nenhum efeito nos mercados, que querem saber de assuntos mais sérios: unemployment; decisões do Fomc; pronunciamentos do chairman do Fed, Jerome Powell.
Aqui no Brasil, não é diferente. Seja na guarita do palácio da Alvorada, seja em seus twitters, Jair Bolsonaro ora diz que a Noruega chacina baleias num festival bárbaro (a celebração é realmente sanguinolenta e absurda; só que acontece na Dinamarca), ora se autodenomina “capitão motosserra”. Isso quando não está insultando estadistas de outros países.
Ofende a primeira-dama da França, Brigitte Macron, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o provável futuro presidente da Argentina, Alberto Fernández, de graça. Simplesmente de graça.
Como se não bastasse, desautoriza Ricardo Galvão, diretor do Inpe, por ter afirmado o óbvio: a floresta amazônica está sendo dizimada para extração de madeira e ouro, criação de pastos e plantio de soja.
Nos Estados Unidos, os arrazoados de Trump ainda causam certo espanto, por se tratarem de novidade. No Brasil, ao contrário, já virou piada desde que Lula assumiu em 2003: “Minha mãe nasceu analfabeta”, disse ele. Veio então Dilma que falou em estocar o vento. Com um intervalo de 853 dias, nos quais trocamos os disparates pelas mesóclises, as asneiras vêm agora do capitão-presidente.compra
“Hitler era de esquerda”, ele proclamou ao visitar o museu do Holocausto em Israel.
Concluindo: em meu juízo, essas bobagens já não afetam mais os mercados, que se acostumam com tudo. O que pesará daqui pra frente serão as taxas de juros, o avanço nas reformas e no programa de privatização, além de IPOs atraentes.
Nos Estados Unidos, logo o grande fundamento se resumirá às eleições presidenciais do dia 3 de novembro de 2020. Aí, sim. Cada palavra do candidato à reeleição vai se transformar em voto ganho ou perdido.
Um abraço,
Ivan
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P.S.: Hoje eu quero te fazer uma pergunta: você investiria em Petrobras ou Correios? Isso pode ser uma das maiores oportunidades de ganhos da década para investidores atentos. A última vez que tivemos uma onda de privatizações, ainda com o ex-presidente FHC, algumas porradas, não raramente milionárias, foram vistas na Bolsa. Entenda todos os detalhes aqui.