Ivan Sant’Anna: Os ianques podem estar voltando
Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite
Caro leitor,
Neste fim de semana, me imaginei sendo gestor de um fundo de pensões americano. O que será que eu faria, estando os juros dos países desenvolvidos abaixo de zero?
De cara salta aos olhos as taxas “pagas” em títulos de dez anos por Alemanha, França, Holanda, Suíça e Japão, respectivamente – 0,59% a.a., – 0,29%, – 0,45%, – 0,86% e – 0,22%.
Mesmo aqueles países que remuneram seus papéis com taxas positivas, caso da Grã-Bretanha (+0,44% a.a.), Itália (+0,83%), Espanha (+0,12%) Portugal (+ 0,13%), Grécia (+1,32%) e Estados Unidos (+1,53%), em todos eles a inflação supera os juros.
Durante toda a minha vida de trader, jamais vi isso acontecer. Voltando ao caso do gestor de um fundo de pensão, o cara não consegue se abster de aplicar a maior parte de seus recursos em renda variável, mesmo estando a yield curve invertida (juros longos inferiores aos curtos), que costuma ser indício de recessão à vista e consequente diminuição do lucro das empresas.
Todos os parâmetros para medir se uma ação está cara ou barata têm de ser revistos. Entre eles, price-to-earnings ratio (quociente preço/lucro), Ebitda, sigla de Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização).
Qualquer coisa que dê uma graninha de retorno, mesmo que ligeiramente acima da inflação, está se tornando um bom negócio. Alguns analistas técnicos de boa reputação estão prevendo uma virada abrupta no índice S&P500.
Acho difícil. Com juros negativos, as bolsas de valores tendem a se valorizar já que qualquer queda atrai compradores, o que, por sinal, tem acontecido nos últimos tempos. Em contrapartida, quando vem uma alta há realização de lucros. Então as cotações ficam nesse vaivém.
Num artigo publicado no site da Bloomberg, os comentaristas econômicos Yumi Teso, Marcus Wong e Selcuk Gokoluk dizem ser inevitável que boa parte do dinheiro dos fundos americanos migre para os mercados emergentes. Embora as preferidas ainda sejam as bolsas asiáticas, acho que vai começar a entrar dinheiro na Bovespa.
Como o dólar bateu nos R$ 4,20 e começou a recuar, caso a tendência configure uma reversão, acho perfeitamente viável que a moeda americana caia até R$ 3,90/R$ 3,80.
Nessa hipótese, haverá ganho duplo para os fundos estrangeiros que investirem no Brasil, principalmente se as agências de classificação de risco insinuarem (como acredito que deverão fazer) um retorno do país ao grau de investimento.