Colunistas

Ivan Sant’Anna: o preço justo do dólar

25 nov 2019, 15:08 - atualizado em 25 nov 2019, 15:08
Se considerarmos a inflação brasileira, aquele um a um de 1º de julho de 1994 equivaleria hoje a R$ 6,08 (Imagem: Pixabay)

Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite

Caro leitor,

Ao ser lançado em 1º de julho de 1994, portanto há pouco mais de 25 anos, o real foi cotado ao par contra o dólar. Só que isso não duraria muito tempo. “Claro que começou a subir”, pode estar pensando o leitor que era muito jovem, ou talvez nem tivesse nascido, naquela ocasião.

“Errado, meu chapa”, eu rebato. “Nos três primeiros meses, o real se valorizou contra a moeda americana”.

Escaldado por tantos planos de estabilização anteriormente fracassados, o Banco Central, dessa vez presidido por Pedro Malan, elevou as taxas de juros a tal nível que se tornou mau negócio apostar contra o real.

Em outubro daquele ano, o dólar chegou a ser vendido a R$ 0,82. Depois passou a subir, cruzou o nível do par e a cotação nominal vem subindo até hoje. Não linearmente. Muito pelo contrário. Houve grandes altas e baixas.

Se considerarmos a inflação brasileira, aquele um a um de 1º de julho de 1994 equivaleria hoje a R$ 6,08. Mas obviamente temos de deduzir a inflação americana no período. Então o número, por pura coincidência, cai para os níveis atuais.

Ou seja, descartando-se as demais conjunturas (taxas de juros, confiança no país, balança comercial, perspectivas de crescimento ou de recessão), o real a R$ 4,20 está no preço justo. Examinemos cada um desses fundamentos.

Descartando-se as demais conjunturas (taxas de juros, confiança no país, balança comercial, perspectivas de crescimento ou de recessão), o real a R$ 4,20 está no preço justo (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Taxa de juros

O que sempre manteve o real competitivo foram as nossas taxas. Só que essa mamata acabou. Se o COPOM mantiver a tendência de cortes que vem praticando nos últimos tempos, logo os juros reais estarão próximos de zero ou até negativos. Isso é altista para o dólar.

Confiança no país

Por mais que as reformas estejam andando, as privatizações sendo concretizadas, ou prestes a se concretizarem, algumas atitudes do presidente Jair Bolsonaro minam, no exterior, a credibilidade sobre o que ele possa fazer nos próximos três (ou sete) anos de governo.

Só para ficar num exemplo, essa de criar um partido político tipo clã familiar, parece coisa de republiqueta. Tira o ânimo de se investir aqui. Sem contar outras asneiras como dizer que queimadas e desmatamentos ilegais são aspectos culturais inerentes à índole do povo brasileiro.

Cascata! Isso nada tem a ver com cultura. Trata-se de ganância pura e simples, além de serem crimes previstos em lei, só cometidos por falta de punição aos infratores.

Balança comercial

Ainda não começou a reagir à alta do dólar. Nesse fundamento, o ano de 2019 está sendo uma decepção.

Perspectivas de crescimento

Embora nitidamente a economia tenha parado de encolher, ainda está fazendo uma espécie de fundo redondo (para usar linguagem de grafista). O retorno ao crescimento robusto pode demorar mais do que se poderia esperar.

Um abraço,

Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.