Ivan Sant’anna: O perigo da indolência econômica no Brasil
Nota do editor: A rede de lojas de produtos esportivos Centauro começou a coletar reservas para a oferta pública inicial de ações que sua controladora pretende fazer na Bolsa no próximo dia 17. Este pode ser o início de uma onda de estreias na Bolsa que não se vê em pelo menos 12 anos. Neste documento, nós alertamos que este movimento estava prestes a acontecer, trazendo a possibilidade de transferência de um patrimônio de até R$ 130 bilhões para as mãos de investidores. Clique aqui para ler esse documento e ter acesso à nossa avaliação sobre a oferta, que será divulgada por nossa equipe ainda esta semana.
Por Ivan Sant’anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite
Caro leitor,
De acordo com o Relatório Focus divulgado pelo Banco Central ontem pela manhã, a previsão do mercado para o crescimento do PIB brasileiro em 2019 caiu de 2%, número da semana passada, para 1,98%. Para 2020, essa redução foi de 2,78% para 2,75%.
Parece pouco, mas está acontecendo todas as semanas. Cada segunda é um pequeno corte nas projeções.
Esse tipo de estimativa costuma se transformar em profecias autorrealizáveis. O industrial se retrai porque o comércio não compra, o comércio não repõe seus estoques porque as vendas estão fracas. Tudo porque o consumidor final está com medo de gastar.
O teatro brasileiro está acabando por falta de público. Isso também acontece com o futebol. Os torcedores só vão aos jogos mais importantes, geralmente partidas de mata-mata dos torneios continentais. Quando você, caro amigo leitor, estiver vendo o replay de um gol na televisão, dê uma olhada na arquibancada. Geralmente está vazia.
Se estiver completamente lotada é porque o jogo é do campeonato inglês.
Para que esse comportamento pífio do consumo se transforme em recessão, basta que a PEC da Reforma da Previdência não passe no Congresso ou que surja uma “bolsonarada” que signifique um ponto muito abaixo da curva.
Os brasileiros estão entrando em estado de indolência econômica. Já vi, ou li a respeito, isso acontecer em várias épocas e em diversos países.
Como todo mundo sabe, o grande crash da Bolsa de Valores de Nova York mergulhou os Estados Unidos em profunda depressão.
Para tentar sair do buraco, o presidente Franklin Delano Roosevelt, que tomou posse em março de 1933, lançou o New Deal.
O programa era simples e engenhoso. Entre outras medidas de estímulo à economia, o governo federal contratou operários para cavar buracos nas margens das rodovias e plantar árvores.
A ideia não era desprovida de lógica. O salário desse pessoal daria início ao giro da roda econômica, começando pelas compras no comércio que resultariam em encomendas na indústria.
Sendo baixo os salários dos cavadores de solo e plantadores de árvores, logo eles procurariam empregos melhores, empregos esses criados em consequência de seus gastos.
Só que o pessoal, que passara quatro anos comendo na fila da sopa gratuita e dormindo em albergues públicos, preferiu poupar, mesmo que guardando seus dólares numa caixa de sapato ou debaixo do colchão. Isso lhes rendia 5,33% ao ano.
Não, eu não fiquei louco. Em 1933, a deflação nos Estados Unidos foi de 5,33%. Esse foi o rendimento do dinheiro parado.
A economia americana só foi salva (se é que se pode escrever um sacrilégio desses) pela irrupção da Segunda Guerra Mundial.
Acho que existe risco de no Brasil acontecer um fenômeno parecido com esse, embora não tão drástico.
As pessoas podem simplesmente deixar de gastar para investir, mesmo que à custa de sacrifício pessoal.
Embora as taxas de juros, absoluta e real, estejam em seus níveis mínimos, não descarto a hipótese de o COPOM baixá-las ainda mais, quem sabe de 6,5% para 6%.
Dá para se lucrar com isso.