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Ivan Sant’Anna: O mercado não é um cassino

02 set 2019, 15:13 - atualizado em 02 set 2019, 15:13

Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite

Caro leitor,

Na terça-feira de 2 de novembro de 1976, estava eu com vários amigos num cassino de Lake Tahoe, na divisa da Califórnia com o estado de Nevada. O grupo (éramos onze, todos homens) comemorava uma maxidesvalorização do cruzeiro, em razão da qual havíamos dado uma porrada no mercado de ORTNs cambiais.

Pois bem, havíamos adquirido ingressos para um show de Sammy Davis Jr. no teatro do cassino, cuja entrada ficava quase ao lado da mesa de roleta onde eu estava havia umas seis horas apostando no 11 preto e cercando-o por todos os lados (quem já jogou roleta sabe do que estou falando).

Alguém da turma me chamou:

“Vai começar o show, Ivan. Vamos pro teatro.”

“Sabe duma coisa, cara. Esse Sammy Davis é muito chato”, respondi com a maior sem-cerimônia. “ Prefiro ficar aqui na minha roleta. Ainda mais agora que o 11 começou a entrar.”

Se perdi uns 40 dólares do ingresso do teatro, deixei pelo menos trinta vezes isso na mesa de jogo enquanto o Sammy cantava a 50 passos de distância.

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Durante muitos anos, eu não podia ver uma roleta que entregava até as calças, se eles a trocassem por fichas.

Montevidéu, Punta del Leste, Las Vegas, Veneza, Jamaica, Bahamas, San Juan de Puerto Rico, Curaçau… Tem dinheiro meu espalhado por todos esses lugares. Ainda bem que naquela época eles não aceitavam cartões de crédito.

A última vez que me depenaram foi em 1982, num cassino clandestino de Campos do Jordão. Aí parei de vez. Nunca entrei num bingo, não jogo no bicho e não aposto na mega sena.

Cigarros − Comecei a fumar em 1953, aos 13 anos de idade, e parei no dia 22 de novembro de 1990. Consumia três maços por dia, quatro se saía à noite. Fumava em aviões, mesmo quando estava pilotando, no carro com as janelas fechadas por causa do ar-condicionado, na sauna e até em elevador se estava sozinho.

Para parar, usei a seguinte tática nas últimas semanas de consumo: Acendia um cigarro no outro, o que dava uns seis maços do despertar ao dormir. Fora isso, punha despertador para as duas da manhã para dar umas baforadas.

Fiquei totalmente intoxicado e parei para sempre. Já lá se vão quase 30 anos.

Álcool – Cheguei a beber um litro de vodca ou de Jack Daniel’s por noite. Nesse item, minha solução foi simples. Não compro mais. Se ganho, ou se saio à noite, bebo. Caso contrário, lei seca. Por volta de uma da manhã, um prato de feijão com farofa substitui a bebida. O cardiologista não aprova o método (por causa dos triglicerídeos) mas foi a solução que encontrei.

Só que o maior dos meus vícios foi especular sem tréguas nos mercados futuros internacionais. Simplesmente não conseguia ficar sem posição. Saia de um short de S&P500 e ficava comprado em açúcar. Vendia feijão vermelho na bolsa de Tóquio e comprava madeira (lumber) em Chicago.

Passar o fim de semana zerado era um tédio.

Entre ganhos e perdas, saí no azul nessas transações. Caso contrário não teria ficado tantas décadas no mercado. Mas teria ganhado muito mais se tivesse me concentrado em alguns poucos trades.

Caro amigo leitor, se quiser ser um vencedor em bolsas e futuros, só vá na boa. Ou pelo menos naquela que ache boa. Não saia comprando nem vendendo feito um tresloucado.

Nós estamos em um momento onde a economia brasileira está passando por grandes transformações. Liberais e modernizantes. Boas empresas surgirão em IPOs de ótimas perspectivas. No Brasil, as taxas de juros, reais e nominais, são as menores de todos os tempos.

Tudo isso é festa para o mercado de ações.

Claro que ainda teremos reveses pela frente. Se o cenário fosse perfeito, o Ibovespa já estaria acima de 150.000 pontos. Ele sempre chega antes do desfecho dos fatos.

Sem afobação, ouvindo quem entende, assinando as publicações certas, despindo-se da ganância, você tem tudo para encontrar a grande oportunidade de sua vida nos próximos meses.

Só não deixe que o mercado se torne um vício.

Após ter enricado para valer, separe um por cento do que ganhou na Bolsa, dê um pulo a Las Vegas e faça uma fezinha no 11 preto em minha homenagem. Tomando um gole de Jack Daniel’s, é claro.

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