Ivan Sant’Anna: O burro e o elefante
Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite
Caro leitor,
Antes de mais nada, esta crônica não é nenhum tipo de fábula, como o título poderia sugerir. Elefante é o símbolo do Partido Republicano dos Estados Unidos; burro, dos democratas. Essa simbologia tem história.
No Rio de Janeiro, os torcedores do Flamengo não eram chamados, pelos adversários, de urubus, numa ofensa racial? Pois bem, espertamente, eles passaram a adotar o urubu como símbolo. Tanto é assim que seu centro de treinamento é chamado de Ninho do Urubu.
O mesmo aconteceu com o candidato democrata, Andrew Jackson, nas eleições presidenciais americanas de 1828. Ao ser chamado de burro (jackass) pelos republicanos, Jackson passou a usar o animal como emblema eleitoral.
Um elefante representa o Partido Republicano. A razão aqui é bem mais simples. O paquiderme foi usado nas eleições de 1864, vencidas por Abraham Lincoln, como figura representativa do GOP (Grand Old Party).
Até agora, os Estados Unidos tiveram 19 presidentes republicanos e 15 democratas. Outros dez eleitos eram candidatos independentes ou filiados a partidos menores, hoje extintos ou inexpressivos.
Em tese, um republicano é a favor da diminuição da carga tributária, do enxugamento do Estado e da participação em conflitos no exterior.
Os democratas, por sua vez, costumam defender uma espécie de wellfare state, com aumento dos impostos. Geralmente são isolacionistas e protecionistas.
Donald Trump é um político híbrido, com características próprias. É mais protecionista (America, first) que os jackass. Poucos americanos são indiferentes a ele. Ou gostam ou detestam.
Daqui a pouco mais de um ano, teremos eleições presidenciais nos Estados Unidos. Obviamente, é muito cedo para se fazer especulações sobre quem será o vencedor. Se, na última disputa, quase todo mundo errou o prognóstico até a véspera, que dirá com tanta antecedência.
Mas, como as eleições irão mexer muito com o mercado, é melhor começar a dar algumas palas sobre os pretendentes com mais chances.
Donald Trump é o que todo mundo conhece. Um homem que tuita tudo que lhe vem à cabeça e faz questão de insultar pessoas, adversários, companheiros de partido e chefes de Estado estrangeiros. Demonstrar boas maneiras não é o seu forte.
Já se encontrou duas vezes com um dos maiores tiranos da face da terra, o norte-coreano Kim Jong-un. Encara de igual para igual o chinês Xi Jinping, mas tem medo do russo Vladimir Putin.
Numa entrevista ao lado de Putin, Trump disse que as acusações do FBI contra o colega de Moscou eram falsas.
Se a economia americana estiver bem, Donald deve se reeleger em 3 de novembro de 2020. Aliás, isso é prática comum nos Estados Unidos. Os dois últimos que perderam reeleições foram Bush pai, por causa de uma recessão, e Jimmy Carter, em função da crise dos reféns da embaixada americana em Teerã.
Do lado democrata, a não ser que surja um outsider atropelando por fora, os favoritos a concorrer são, pela ordem: Elizabeth Warren, Joe Biden e Bernie Sanders.
Warren tem como principal plataforma a tributação anual de fortunas acima de US$ 50 milhões. Esse imposto alcançaria uns 75 mil contribuintes, 0,0025% da população e renderia ao governo US$ 2,75 trilhões em dez anos. Daria para fazer um extenso programa de obras públicas e renovar o Obamacare.
Joe Biden, favorito até pouco tempo, teve seu filho Hunter envolvido em negócios suspeitos com países suspeitos. Se Joe for o indicado, Donald Trump terá um bom alvo para seus ataques.
Bernie Sanders, 78 anos, recém-infartado, é socialista declarado. Seus eleitores são essencialmente jovens.
Para o mercado de ações, o preferido é Donald Trump. Sanders, o terror. Eleições americanas nem sempre dão fortes emoções. Não raro se sabe quem vai vencer com várias semanas (ou até meses) de antecedência.
Por outro lado, se a vitória de um dos pretendentes só for conhecida na noite das eleições, os diversos mercados de ações e instrumentos financeiros experimentarão enorme volatilidade, que se estenderá pelo resto do mundo.