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Ivan Sant’Anna: Negócios da China

14 ago 2019, 13:53 - atualizado em 14 ago 2019, 13:53

Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite

Caro leitor,

Anteontem, segunda-feira, dia 12, o Ibovespa caiu dois por cento, fechando abaixo dos 102.000 pontos. Queda parecida tiveram os índices americanos de ações: o Industrial Dow Jones cedeu 1,49%; S&P500, 1,23%; Nasdaq, 1,20%.

Simultaneamente, a Bolsa de Buenos Aires se esfarinhou, com o índice Merval caindo inacreditáveis 37,93%, bem mais do que os crashes de Nova York em 1929 e 1987 ( Black Tuesday Black Monday).

A razão pela qual Wall Street despencou foi a notícia (tuitada por Donald Trump, como sempre) de que as negociações comerciais sino-americanas estavam fracassando. O derretimento argentino se deveu à vitória do candidato kirchnerista Alberto Fernández nas primárias para a eleição presidencial de 27 de outubro.

Aqui no Brasil, os telejornais elegeram como razão para a queda da Bolsa de São Paulo a crise argentina. Isso é um exercício de adivinhação. Foram as duas coisas. Alguns traders brasileiros venderam porque Nova York caía, outros porque Buenos Aires evaporava e um terceiro grupo liquidou seus papéis simplesmente porque todo mundo estava liquidando (efeito manada).

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Ontem, terça-feira, São Paulo e Nova York abriram em ligeira baixa. De repente, vi em meu smartphone que as duas bolsas dispararam.

A explicação veio num comentário de meu colega Mateus Fontanini, num dispositivo que os especialistas da Inversa mantêm para trocar ideias.

“ A informação de que chineses e americanos voltaram a conversar sobre comércio e tarifas em alto nível, ainda que por telefone, foi a melhor notícia em duas semanas para o mercado. Os investidores que andavam no deserto reagiram forte e, em minutos, todos os índices de NY dispararam, tendo à frente as techs do Nasdaq (+ 2,22%), Dow Jones em alta de 1,33% e S&P500 subindo 1,66%. O Ibovespa acaba de renovar máxima em alta de 1,19%, aos 103.129.”

Como o caro amigo leitor pode ver, o Brasil não se limita a chorar pela Argentina. Também ri por Nova York.

Se as negociações entre os Estados Unidos e China se estenderem até o fim do ano, os chineses têm tudo para depenar Washington. Nessa ocasião, faltarão onze meses para as eleições presidenciais de 2020, aborrecimento esse pelo qual Xi Jinping não terá de passar.

Por dezenas de vezes, Wall Street já deixou claro que não quer briga com Pequim. Sempre que as conversas entre as duas potências engasgam, a Nyse leva um tombo.

O instituto americano de pesquisas online Civiqs, que se destaca dos concorrentes pelo enorme número de respostas que recebe em seus questionários, acaba de divulgar uma tabela e um mapa que mostram que, se as eleições fossem hoje, os democratas teriam 394 votos no Colégio Eleitoral, contra 144 dos republicanos.

A pesquisa revela mais: 54% dos americanos desaprovam o governo Donald Trump, contra 43% que o aprovam. Nas faixas etárias abaixo de 50 anos, Trump perde em todas. Entre 50 e 64 anos, há um empate: 49% a 49%.

O presidente só ganha entre os idosos (acima de 65 anos): 52% a 46%. Ganha por pouco entre os homens (50 a 47) e leva um chocolate das mulheres (61 a 36). Sim, as suffragettes decidem eleições.

Tudo isso é prematuro, já que ainda não se sabe quem vai ser o candidato democrata.

Voltando ao caso argentino, tudo indica que o próximo presidente será Fernández. Isso é péssimo para o Brasil, já que Bolsonaro anda destruindo as pontes que poderiam ao menos manter o Mercosul coeso para, no mínimo, fechar o acordo de livre comércio com a Comunidade Europeia.

Péssimo para o Brasil mas não necessariamente para a Argentina.

Explico: há anos os chineses andam ocupando, com sucesso, os espaços vazios na África e na América Latina. Ainda mais que os hermanos são grandes produtores de carne, trigo e soja, entre outras commodities agropecuárias.

Um abraço.

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