Ivan Sant’Anna: IPO da fortuna
Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite
Caro leitor,
Faço questão de manter no mínimo dez exemplares de cada livro impresso que publiquei. Três deles tiveram edições com capas diferentes. É o caso de Os mercadores da noite (BM&F, Rocco, Sextante, Arqueiro e Inversa), Caixa-preta (Objetiva e Ponto de Leitura) e 1929 (Objetiva e Inversa). São, portanto, 23 capas. Corrigindo: 24. Os mercadores foi traduzido para o inglês sob o título de The Sunday Night Traders.
Esses 240 livros são meu estoque estratégico. Pode surgir algum produtor de cinema ou televisão (como foi o caso de Rapina, The Sunday Night Traders e Bateau Mouche). E eles costumam pedir alguns livros para estudar o custo da produção ou coisa parecida.
Pois bem, uma vez por ano faço um inventário desses livros. Ontem, foi o dia. Ao contá-los um a um, descobri que só tenho nove exemplares de Em nome de Sua Majestade, publicado pela Objetiva em 2006.
Como esse título está esgotado na editora e nas livrarias, recorri, como sempre faço, à Estante Virtual. No estoque deles havia, espalhados por sebos de todo o país (com os quais a Estante tem convênio) 75 unidades novas e 231 usadas de Em nome de Sua Majestade.
Por R$ 5,00, mais R$ 8,35 de frete, adquiri, de uma livraria de Piracicaba, interior de São Paulo, um exemplar novo. Pronto. Repus meu estoque estratégico.
Digamos que quisesse comprar, digamos, O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, que li quando criança. Encontraria na Estante Virtual 181 livros novos e 75 usados, por um range de preços entre R$ 10,00 e R$ 1.250,00.
Se optasse pelo clássico dos clássicos do jornalismo investigativo, A Sangue Frio, de Truman Capote, teria 86 exemplares à minha disposição.
Por que estou escrevendo essas coisas? Para promover vendas da Estante Virtual? Nada disso. O que quero salientar é a façanha que eles perpetraram ao dominar o ciclo da logística: casar livrarias, sebos e leitores num país de dimensões continentais como o Brasil.
A Estante Virtual pertence à Livraria Cultura e tem mais de 4 milhões de clientes. Suas prateleiras virtuais contêm aproximadamente 20 milhões de livros provenientes de 3 mil sebos e livrarias.
Se quiser abrir o capital, a Cultura/Estante poderá ser uma excelente IPO.
E por que fariam isso se está tudo dando certo? A resposta é simples. Se a gente der uma olhada na Amazon.com, verá que vender livros para eles foi apenas o pontapé inicial. Hoje, você pode entrar no site e adquirir um agasalho para o seu cachorro ou uma cabana indígena para suas crianças passarem uma noite no jardim ou no quintal da casa.
O mais difícil, a Estante Virtual já fez. Agora é só expandir o leque. Talvez para isso seja necessário uma IPO. Poderá, quem sabe, mais capitalizada, intermediar a venda de discos antigos de vinil, vestidos de noiva, carros de colecionador, um potinho de caviar Beluga.
Caro amigo leitor ou intermediário financeiro. Prospectar ou investir em empresas como a Estante Virtual, desde que elas se disponham a abrir o capital e crescer para todos os lados, pode ser o grande negócio de sua vida.
Fique de olho vivo nesses empreendimentos de potencial quase ilimitado.
Quem sabe vem aí a IPO de sua fortuna. Só para adoçar sua boca, lembro que a Amazon.com, que começou apenas vendendo livros novos estocados em um armazém, é a 13ª empresa do mundo em faturamento. Nada menos do que US$ 233 bilhões anuais.
Um abraço.