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Ivan Sant’Anna: Hong Kong é da China. E ponto final.

20 ago 2019, 14:40 - atualizado em 20 ago 2019, 14:40

Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite

Caro leitor,

Hong Kong é uma ilha situada ao sul da China, país ao qual pertence, embora disponha de certa autonomia política e econômica. A ligação com o continente se dá através de três pontes, em cujas proximidades o exército chinês acaba de dispor centenas de tanques e carros de transporte de tropas.
Eles estão ali parados, aguardando ordens.

Se fosse vantajoso, a China invadiria Hong Kong em dois tempos. Acabaria com os protestos que estão acontecendo na ilha contra uma lei de extradição que foi até revogada. Mas os caras têm outras reivindicações.

A invasão não seria nenhuma novidade nem abriria um precedente.

No início dos anos 1950, a República Popular da China, então sob o comando de Mao Tsé-Tung, incorporou o Tibete ao seu território. O mundo ocidental protestou, protestou, e se limitou aos protestos.

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Dez anos mais tarde, os chineses anexaram Goa, então colônia de Portugal, que obviamente não esboçou nenhuma reação, a não ser verbal.

O mesmo aconteceu com Macau, só que através de negociações encerradas em 1999.

Essas invasões que ocorreram na área de influência chinesa também se deram na Europa, no âmbito do Pacto de Varsóvia, aliança militar dos países satélites soviéticos, a então chamada “Cortina de Ferro”.

Entre 23 de outubro e 10 de novembro de 1956, o povo húngaro (a Hungria fazia parte do Pacto) se revoltou contra Moscou. Conseguiu sustentar o movimento por esses 18 dias, na esperança de um auxílio americano, que não aconteceu.

Os chineses não invadem Taiwan porque sabem que isso poderia causar um conflito armado de grandes proporções, com enorme morticínio dos ilhéus. Mas não lhes dá tréguas

Os tanques do Exército Vermelho invadiram Budapeste, e outras cidades do país, deixando entre 2.500 e 3.000 húngaros mortos, além de 13 mil feridos.

Doze anos depois, em 1968, foi a vez de os tchecos se revoltarem. Tropas do Pacto de Varsóvia sufocaram a rebelião: 137 mortos.

Voltando à situação chinesa, há outro território que eles consideram província rebelde. Trata-se de Taiwan, a 500 kms da China Continental, ilha muito maior do que a de Hong Kong e tão rica quanto.

Os chineses não invadem Taiwan porque sabem que isso poderia causar um conflito armado de grandes proporções, com enorme morticínio dos ilhéus. Mas não lhes dá tréguas.

Durante anos, os taiwaneses representaram toda a China na ONU. Até que a política de distensão sino-americana, comandada por Henry Kissinger na administração Richard Nixon, inverteu os papéis.

Taiwan foi expulsa das Nações Unidas. A partir daí, qualquer país que estabeleça relações diplomáticas com a “província rebelde” tem imediatamente sua embaixada fechada em Pequim.

Por enquanto, a China precisa (embora cada vez menos) de Hong Kong democrático e semi-independente. No dia em que isso deixar de acontecer, os tanques do Exército do Povo atravessarão a ponte se for necessário para exercer plenamente sua autoridade na ilha.

O Ocidente vai esbravejar, mas não fará nada, tal como não fez nos casos do Tibete, de Goa, de Macau, de Praga e de Budapeste.

Haverá grande agito no mercado, com as bolsas de valores despencando e o capital migrando para o dólar (fly to quality).

A crise não durará muito. Há décadas e mais décadas, as nações (principalmente as nuclearizadas) respeitam as áreas de influência uma das outras.

Gostemos ou não, Hong Kong é da China.

Um abraço.

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