Ivan Sant’Anna: Fundamentos conflitantes
Por Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite
Caro leitor,
Ontem, segunda-feira, eu esperava uma reação maior das bolsas de São Paulo e Nova York. Diversas boas notícias se contrapunham ao persistente quadro recessivo brasileiro e aos números fracos divulgados sobre a economia norte-americana.
Entre elas, um entendimento de Donald Trump com Xi Jinping, entendimento esse que pode dar fim à guerra comercial travada pelos dois países desde a posse de Trump.
No plano tupiniquim, Jair Bolsonaro foi a Osaka, para a reunião do G20, sem maiores pretensões. Cara sortudo. Voltou com perspectivas de um acordo do Mercosul com a União Europeia.
Esse tratado, que ainda precisa ser referendado pelo Congresso em Brasília, assim como pelos poderes legislativos dos parceiros sul-americanos, além do Parlamento Europeu, será, a médio e longo prazo, extremamente benéfico para nossa economia.
Foi mais um passo em direção à abertura comercial, que se iniciou com Collor e FHC mas que, nos 14 anos do PT, se limitou às repúblicas bolivarianas e afins, fora algumas nações africanas sem expressão.
Embora o Ibovespa tenha subido 372 pontos (+ 0,37%) e o Dow Jones um pouco mais, foi pouco. Ficou claro que o mercado está mais antenado com as perspectivas recessivas de curto prazo nos dois países.
Tal como vem acontecendo todas as segundas-feiras, o boletim Focus emitido pelo Banco Central foi um desânimo só. O crescimento (se é que podemos chamá-lo assim) do PIB este ano foi revisado de 0,87% para 0,85%.
Ainda de acordo com o Focus, a perspectiva de inflação para 2019 caiu de 3,82% para 3,80% e a de 2020, de 3,95% para 3,91%.
Last but not least, já se estima uma taxa Selic ao final de dezembro em 5,50%, o que significa uma redução de um ponto percentual no segundo semestre.
Para 2020, a taxa básica projetada é de 6%. Se lembrarmos que há pouco tempo o Focus calculava 8% para 2020, a conclusão é óbvia: a “quase recessão” (que pode se transformar em recessão pra valer) está nos cálculos dos agentes econômicos.
Nos Estados Unidos, a soft landing (aterrissagem suave após um período de crescimento prolongado) está perigando se transformar em hard landing(pouso forçado).
O índice de gerente de compras (PMI – Purchasing Manager’s Index)marcou o segundo pior resultado desde setembro de 2009, naquela ocasião consequência da crise do subprime.
Já os investimentos em construção (lembre-se que agora estou escrevendo sobre os Estados Unidos) sofreram uma queda de 0,8%.
A diferença entre a rentabilidade dos títulos de dez anos do Tesouro americano para os de três continua caindo. Os curtos rendem mais, sinal inequívoco de expectativa de contração econômica.
Enfim, não há grandes motivos para foguetório no Brasil, mesmo com a mais do que provável aprovação da reforma da Previdência e o acordo Mercosul/UE agora se mostrando uma realidade palpável e não um sonho distante.