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Ivan Sant’Anna: Fomc e Copom não decidem nada

19 set 2019, 11:26 - atualizado em 19 set 2019, 11:26

Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite

Caro leitor,

Na hora em que começo a escrever este artigo, o Fomc (Federal Open Market Committee – Comitê Federal de Mercado Aberto) do Fed (Federal Reserve Bank) já anunciou uma redução de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros.

Mais tarde, após o fechamento do mercado aqui no Brasil, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) fez a mesma coisa. Só que a dose foi em dobro: corte de 0,5 ponto percentual.

Quem decide essas coisas é o mercado. Tanto o Fomc quanto seu equivalente brasileiro apenas obedecem ao consenso que se estabeleceu entre os agentes econômicos.

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É verdade que há ocasiões em que a expectativa varia, digamos, entre 0,25 e 0,50 ponto percentual, tanto para baixo como para cima. Nesses casos, a decisão também costuma sair num dos dois percentuais.

Ou seja, esses órgãos de política monetária não fazem outra coisa a não ser o que se espera deles. E não tinha como ser diferente. Afinal de contas, essas alterações nos juros são aquilo que o mercado acha necessário, tanto no caso de estímulo ao crescimento (redução das taxas) como de freio a um surto inflacionário (aumento das taxas).

Nos Estados Unidos, o que pesa mesmo é a entrevista do chairman do Fed (atualmente Jerome Powell), que explica o porquê da decisão tomada (como se todo mundo já não soubesse) e, aí sim é importante, dá dicas sobre as próximas alterações.

Esses tips dão partida aos novos consensos que se materializarão na reunião seguinte. Forma-se assim um ciclo cujo propósito é jamais dar sustos nos mercados, evitando um excesso de volatilidade.

No Brasil, o que importa é a ata da reunião do Copom, geralmente divulgada na semana seguinte à da decisão tomada. Ela tem o mesmo objetivo das coletivas do Powell. Ou seja, dar início às démarches que desaguarão no encontro seguinte.

Isso tudo que escrevi acima não consta de nenhum protocolo. Trata-se apenas de um hábito que deu certo. E no que dá certo não se deve mexer.

Detalhe importantíssimo: há exceções. Decisões inesperadas, por força do surgimento de um fato novo. E, justamente quando elas acontecem, o mercado se torna errático, por ter levado uma bola nas costas.

Eu gostava mesmo era das reuniões do Bundesbank (Banco Central da Alemanha) antes do advento do euro, época em que o marco alemão disputava com o iene japonês o segundo lugar em importância mundial, só perdendo para o dólar.

Nas vésperas das reuniões do Bundesbank, um comunicado lacônico se limitava a proclamar: “Após a reunião de política monetária não haverá coletiva de imprensa.”

Era o que bastava para que o mercado soubesse que as taxas se manteriam inalteradas.

Por outro lado, a recíproca não era verdadeira. Melhor explicando: o fato de que haveria a coletiva não significava que os juros seriam elevados ou reduzidos. Isso sempre deixava um clima de suspense no ar.

Eu, como especulador no mercado de moedas da IMM em Chicago, e operador frequente do marco alemão, adorava aqueles dias de mistério.

Agora, com o mundo se encaminhando para deflação e taxas de juros negativas, o Copom e o Fomc perderam a graça. Se tornaram carimbadores de decisões óbvias.

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