Ivan Sant’Anna: Eleições 2022
Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite
Caro leitor,
Depois que Fernando Henrique Cardoso conseguiu reformar a Constituição, criando a reeleição (usando métodos pouco éticos, diga-se de passagem), todos os presidentes, governadores e prefeitos, assim que tomam posse, pensam em se reeleger quatro anos mais tarde.
Isso atrapalha, e muito, as administrações. Só que esses titulares de cargos majoritários costumam ficar na moita. Faltando um ano, um ano e meio, no máximo, é que se dizem candidatos, “atendendo aos anseios do povo”. O cinismo não é o fraco deles.
Desde a PEC constitucional que, em 1997, criou a reeleição, todos os presidentes foram reeleitos, com exceção de Michel Temer, que nem se candidatou – não tinha a menor chance.
Até Dilma Rousseff, com índices baixíssimos de popularidade, obteve um novo mandato, do qual, diga-se de passagem, seria defenestrada. É verdade que o marqueteiro de madame Rousseff, João Santana, fez uso de uma campanha suja, exibindo Marina Silva tirando o prato de comida dos pobres e Aécio Neves elevando o preço dos combustíveis. Colou.
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Pois bem, Jair Bolsonaro não só se declara candidato como faz questão de atacar aqueles que estão dispostos a enfrentá-lo nas urnas. Já se encacetou com o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, com o de São Paulo, João Doria, e chamou Luciano Huck de “pau mandado da Globo”. Tudo porque eles se declaram pretendentes à sucessão.
Só livrou a cara de Sérgio Moro porque este, em recente entrevista à revista Veja, disse que, além de não ser candidato, apoia a reeleição do capitão presidente.
Faltam dois anos e onze meses para as eleições de 2022. Isso é uma eternidade em termos de política. Vejamos o que aconteceu 1.100 dias antes de eleições passadas.
O general Eurico Gaspar Dutra nem sabia que o então ditador Getúlio Vargas, havia 12 anos no poder, e do qual Dutra era ministro da Guerra, seria deposto em agosto de 1945, quatro meses antes das eleições daquele ano.
Um mil e cem dias antes de voltar ao Catete, em 1950, Getúlio era um exilado em São Borja, no Rio Grande do Sul, onde morava de favor em uma estância pertencente a um dos seus irmãos.
Entre o suicídio de Vargas e as eleições de 1955, vários presidentes (Café Filho, Carlos Luz e Nereu Ramos) se sucederam num entra e sai provocado por diversas crises políticas. Mas o escolhido de fato foi Juscelino Kubitschek, governador de Minas, que, se pretendia o Catete, nunca deu conta disso a ninguém com a tal antecedência dos mil dias.
Jânio Quadros era extremamente popular em São Paulo, nos quase três anos antes das eleições de 1960, quando acabou sendo eleito numa coligação liderada pela UDN. Em 1957 poderia se jurar que o candidato udenista seria Carlos Lacerda, líder inconteste do partido.
Só que, para garantir a vitória sobre o PSD e o PTB, Lacerda preferiu abrir mão de seu nome e apoiou Jânio, que venceu, tomou posse e renunciou sete meses mais tarde.
Após o governo conturbado de Jango, vice de Jânio Quadros, veio o regime militar. E se os generais combinavam com antecedência o sucessor de cada um deles, o público não ficava sabendo.
Um mil e cem dias antes de tomar posse, após a doença de Tancredo Neves, José Sarney era apenas um apoiador da ditadura. Jamais sonhara que seria vice da chapa oposicionista vencedora (em eleições indiretas), muito menos, é claro, que o eleito morreria sem tomar posse.
Só em dezembro de 1987, portanto dois anos antes de sua eleição, é que a candidatura de Fernando Collor de Mello começou a se delinear. Isso aconteceu num jantar em Pequim, quando seu nome foi lançado por um grupo de alagoanos, numa espécie de ação entre amigos, aparentemente sem a menor chance.
Seis meses antes da primeira eleição de FHC, a candidatura de Lula era barbada. Mas veio o Plano Real, deu certo, e o resto é história.
Dilma Rousseff só foi eleita porque Lula queria pôr no palácio alguém inexpressivo (o tal poste) para mostrar sua força política.
Um mil e cem dias antes de sua eleição em segundo turno, Jair Bolsonaro era apenas um deputado do baixo clero da Câmara dos Deputados, onde sua atuação se limitava a de ser despachante dos policiais, agentes penitenciários e militares de baixa patente.
Claro que, por ser presidente, Bolsonaro é o favorito para 2022. Se agir como os demais políticos, vai abrir as burras do Tesouro em seu último ano de primeiro mandato.
Só que apostar nele nesta altura é perda de tempo. Se você, caro amigo leitor, conseguir antever o que vai acontecer na economia brasileira nos próximos doze meses já será ótimo. Vai ganhar muito dinheiro.
Puro exercício de adivinhação pensar em eleições presidenciais neste momento. Só mesmo Lula (que em minha opinião estará inelegível) e Bolsonaro que se afobam desse jeito. Talvez porque tenham medo um do outro.