Ivan Sant’Anna: Direto da UTI
Ivan Sant’anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite
Eu já fui submetido a duas cirurgias nos intestinos. A primeira, em dezembro de 1970, para a retirada de alguns pólipos, foi programada com antecedência. Durante 48 horas, meu tubo digestivo foi totalmente esvaziado e limpo. Minha alimentação se resumiu a soros com nutrientes. Não houve nenhum tipo de complicação.
Já a segunda teve lances de dramaticidade. Logo após o almoço, quando eu caminhava pela avenida Rio Branco, no Centro do Rio, acompanhado do técnico Zagallo, meu apêndice se rompeu.
Levado de ambulância para a Casa de Saúde São Vicente, na Gávea, fui operado pelo cirurgião Fernando Paulino, um virtuose do bisturi. Isso não impediu que a ruptura do apêndice se transformasse em peritonite. Se evoluísse para septicemia, e quase evoluiu, meu esqueleto estaria há quase meio século no cemitério São João Batista.
Portanto, sei por experiência própria a gravidade do estado de Jair Bolsonaro, esfaqueado logo após o almoço.
Fomos surpreendidos pela notícia de que Bolsonaro, durante a noite de 12 para 13 de setembro, passou por uma nova cirurgia, emergencial, para desobstrução do intestino.
Já se cogita a possibilidade de o deputado-capitão não participar da campanha eleitoral do segundo turno, uma vez que, no primeiro, já era praticamente certa sua ausência, antes mesmo desse imprevisto.
Em minha opinião, a direção da campanha de Bolsonaro está cometendo um grave erro ao tentar substituí-lo por um dos filhos, ou por seu economista, Paulo Guedes, ou por seu candidato a vice, general Hamilton Mourão, ou até mesmo pelos três.
Fosse eu o estrategista da campanha (e vejam que nem vou votar no capitão), Jair Bolsonaro deveria aparecer diretamente do CTI ou do quarto do Albert Einstein falando mensagens curtas, quase inaudíveis, legendadas.
Nos debates, deixaria sua cadeira vazia. E qual seria o adversário que teria coragem de atacar uma pessoa que não está ali por ter sido vítima de um atentado que quase deu cabo de sua vida?
No segundo turno, cada candidato terá metade do tempo no programa eleitoral e nas inserções na TV.
Eu repetiria a tática: frases curtas, balbuciadas, respiração ofegante, legendas e, quem sabe, um fundo musical reproduzindo o hino nacional bem baixinho.
Isso ajudaria a derrubar a rejeição de Bolsonaro, calcanhar de Aquiles de sua candidatura.
Pensando melhor, em vez do hino nacional, quem sabe o do Exército, muito usado na Cadeia da Legalidade liderada pela Rádio Guaíba, de Porto Alegre, por Leonel Brizola, em agosto de 1961, para levar seu cunhado Jango ao poder logo após a renúncia de Jânio Quadros.
“…A paz queremos com fervor
A guerra só nos causa dor
Porém, se a Pátria amada
For um dia ultrajada
Lutaremos sem temor…”