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Ivan Sant’Anna: dezembro é dos touros

03 dez 2019, 10:37 - atualizado em 03 dez 2019, 10:38
Em minha opinião, os fundos múltiplos, assim como os de renda variável, já estão dando a sustentação típica de fim de ano na Bolsa

Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite

Caro leitor,

Ontem tudo indicava que a Bolsa de Valores trabalharia em baixa. Senão vejamos:

O índice industrial Dow Jones da NYSE se enfraqueceu ao longo de todo o pregão. Donald Trump acusou o Brasil e a Argentina de estarem desvalorizando suas moedas para tornar as exportações mais competitivas. Em represália, anunciou que irá restaurar tarifas sobre aço e alumínio produzido nos dois países.

“Se for necessário, ligo para o Trump”¸ foi o pronunciamento de Jair Bolsonaro, com a ingenuidade que lhe é peculiar.

Segundo João Borges, comentarista da Globo News, “gestores de grandes fundos de investimentos europeus informaram a autoridades brasileiras que seus cotistas não querem mais ter dinheiro aplicado aqui”. Eles simplesmente sabem que não foi o ator Leonardo DiCaprio que pôs fogo na Amazônia.

O Congresso Nacional empurrou para 2020 as reformas econômicas.

Diz-se à boca pequena em Brasília que a PEC que repõe a prisão após julgamento em segunda instância será adiada indefinidamente, já que muitos congressistas serão afetados pela emenda.

De favorável à Bolsa, apenas as baixíssimas taxas de juros, reais e nominais. Mas isso é notícia velha. Não havia razão para que afetasse o mercado de ontem.

Em minha opinião, os fundos múltiplos, assim como os de renda variável, já estão dando a sustentação típica de fim de ano na Bolsa para que suas cotas encerrem o período gregoriano de 2019 com uma rentabilidade excepcional.

“Mas…”, pode estar questionando o caro amigo leitor “assim procedendo, eles começam 2020 de um ponto muito alto, artificial”.

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Os gestores de fundos geralmente ganham suas gratificações, taxas de sucesso, bônus, etc. tendo como base o período de 1º de janeiro a 31 de dezembro. São também esses doze meses que os gerentes de bancos usam para empurrar cotas de fundos para os clientes.

“Veja aqui, dona Albertina. Nosso fundo Premium Master Diamante, exclusivo de ações, rendeu 18% no ano passado. Isso contra uma inflação que mal passou de três e meio por cento”.

Em 1979, quando, após ter sido diretor e sócio de corretora e de banco, voltei a trabalhar como empregado (operador de open market numa distribuidora), tivemos um resultado excepcional. Naquela época, os salários não eram lá grandes coisas. O que valia mesmo era o bicho, pago anualmente sobre o lucro.

Pois bem, o bicho de 79 seria creditado em fevereiro de 1980, após o fechamento oficial do balanço. Surgiu então uma oportunidade de especulação que parecia promissora. Mesmo assim, numa discussão com os demais operadores, sugeri que ficássemos quietos, como passarinhos na muda, até que a abençoada gratificação entrasse em nossas contas.

Fui voto vencido. Entramos no trade infalível que se mostrou um desastre. Na hora de anunciar o bicho, que, supúnhamos, seria de uns seis salários, um dos sócios da empresa não deixou por menos: “Não dá pra pagar gratificação, a não ser um valor simbólico, já que tudo indica que em 1980 a gente vai levar ferro”.

Pode ser que esteja acontecendo algo bullish para as ações, um acontecimento do qual eu não tenha conhecimento, mas essa alta de ontem me pareceu o início de uma puxada de fim de ano para os gestores faturarem seus bônus às custas das Albertinas da vida.

Por enquanto, não estou recomendando ninguém a vender, mas fiquem atentos ao comportamento do mercado. É o que farei nas próximas semanas.

Um abraço,

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