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Ivan Sant’Anna: Crescer para os lados, é a solução

11 jul 2020, 11:00 - atualizado em 10 jul 2020, 20:23
“Tudo indica que chegou a vez de um novo ciclo de papéis novos na Bolsa”, diz o colunista (Imagem: Freepik/creativeart)

Raciocinando por exagero ou absurdo (reduction ad absurdum, na definição de Aristóteles em Analytica Priora), imaginemos que apenas três ações fossem negociadas na B3 (B3SA3). Banco do Brasil, Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4), por exemplo.

Como as aplicações em títulos de renda fixa não estão rendendo nada, e cada vez mais investidores se voltam para a Bolsa, esses três papéis estariam hipervalorizados. Felizmente, há três ou quatro centenas de outros, embora não em quantidade e liquidez suficientes para absorver o fluxo de dinheiro que está migrando para a renda variável.

Nessa toada, logo teremos múltiplos P/L (relação preço/lucro) e ebitdas (Earnings before interest, Taxes, Depreciation and Amortization – Receitas antes dos juros, Impostos, Depreciação e Amortização) obscenos.

Repetindo: o número de companhias listadas na B3 é ínfimo se levarmos em conta a quantidade de sociedades anônimas de grande porte existentes no Brasil.

No atual cenário de escassez de papéis rentáveis, é preciso que haja grande quantidade de IPOs para que o mercado possa crescer horizontalmente. Caso contrário, estaremos nos encaminhando para uma bolha. E bolha, como todos sabem, estoura. Pior, estoura nas mãos dos últimos que entraram na roda.

Quem acompanha de perto a movimentação das ações, sabe que novos IPOs estão para acontecer ainda este ano e no primeiro semestre de 2021. Não na velocidade ideal, mas estão.

Na página 24 de meu livro Projeto Maratona (Editora de Cultura, 2009) explico como esses lançamentos começaram.

“Vieram então os descobrimentos. As viagens de Cristóvão Colombo (1492), Vasco da Gama (1497), Américo Vespúcio (1499), Pedro Álvares Cabral (1500) e Fernão de Magalhães (1519) foram apenas o ponto de partida para inúmeras outras. O financiamento dessas expedições ensejou a oportunidade de investimentos de altíssimo risco, contrabalançados por retornos espetaculares quando as caravelas retornavam abarrotadas de especiarias, ouro, prata, seda e produtos os mais diversos.

Em 24 de setembro de 1599, por exemplo, 24 comerciantes de Londres fundaram uma empresa com o capital de 72 mil libras, subscrito por 125 acionistas. Objetivo: importar pimenta das Índias, comércio até então exclusivo dos holandeses.

Com as bolsas de valores e de commodities e a negociação de cotas-partes desses empreendimentos além-mar, a pequena burguesia pôde sonhar com riquezas até então só acessíveis aos nobres. Tímida e lentamente, o capital começou a ser democratizado.”

Ao longo da história, sempre houve IPOs fraudulentos. Nas páginas 346 e 347 de meu livro Os mercadores da noite, edição da Inversa, menciono dois deles:

“…na década de 1710, tendo Paris como cenário, um escocês, de nome John Law, para uns gênio das finanças, para outros espertalhão, falsário e, até mesmo, assassino – batera-se em duelo, de maneira não muito leal, em Londres, em 1694 −, estabeleceu a Compagnie de’Occident. Esta foi agraciada pela coroa francesa com os direitos de exploração de ouro no território da Louisiana, na época pertencente à França.

Law ofertou ações da nova companhia ao público. A aceitação foi fantástica, embora não houvesse nenhum indício da existência de ouro na Louisiana. Uma investigação mais apurada mostraria que a Compagnie de”Occident nem mesmo chegou a iniciar uma prospecção. Mas isso era um detalhe irrelevante para os especuladores parisienses. Lançaram-se ávidos à compra e venda dos novos papéis, no velho mercado de valores da Rue Quincampoix.

Em 1720, o mercado vacilou. Um príncipe, De Conti, suscitara algumas dúvidas sobre a existência daquele ouro. John Law respondeu aos rumores contratando centenas de mendigos nas ruas de Paris. Equipou-os de pás e picaretas. Fê-los marchar pela cidade, como se dirigissem à Louisiana. Mas, quando, algumas semanas depois, os especuladores viram os pedintes de volta, em seus pontos tradicionais, perderam as esperanças. O mercado desabou, lançando na miséria milhares de investidores.

Enquanto em Paris as pessoas se lançavam em busca da fortuna fácil, em Londres, não se fazia por menos. A South Sea Company, fundada por Robert Harley, conde de Oxford, vendia ações ao público, acenando-lhe com a possibilidade de lucros gigantescos, a serem obtidos na exploração das riquezas da costa ocidental da América do Sul. Relegava-se a um segundo plano o fato de que a Coroa de Espanha, soberana das terras em questão, autorizara a South Company a fazer uma única viagem anual à região.

A febre tomou conta dos investidores ingleses. Entre janeiro de 1720 e o fim do verão daquele ano, quando sobreveio o crash, as ações da South Company pularam de 128 libras para mil.”

Mercados, B3
“o atual cenário de escassez de papéis rentáveis, é preciso que haja grande quantidade de IPOs para que o mercado possa crescer horizontalmente”, explica Ivan Sant’Anna (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

O crash de outubro de 1929 também se deveu, em grande parte, à enorme quantidade de IPOs sem a menor consistência.

No auge do grande bull market brasileiro de ações que durou de 1967 a 1971, os aplicadores compravam tudo que aparecia pela frente. O resultado não podia ser outro. Uma geração de investidores que poderiam mudar o país para sempre, e para melhor, simplesmente se perdeu.

O fenômeno se repete ciclicamente, em todos os cantos.

Entre 1994 e 2000, centenas de milhares de americanos acharam que poderiam ficar ricos comprando ações de empresas virtuais, as chamadas dot.com, a maioria originária de fundo de quintal.

Percebendo que aquilo poderia se transformar em um novo 1929, o chairman do FED, Alan Greenspan, acabou com a festa ao classificá-la como “exuberância irracional”.

No Brasil, uma nova ocasião ideal para expansão saudável e horizontal do mercado de ações ocorreu no final da década de 2000. Sob a batuta de Henrique Meirelles, o Banco Central administrava com maestria as reservas cambiais e a taxa Selic.

Como se não bastasse, o PIB crescia a taxas robustas, tendo chegado a 6,1% em 2007. Sem pressões inflacionárias, diga-se de passagem.

A Bolsa respondeu a contento e os IPOs se sucederam.

Veio então a crise do subprime, subestimada como “marolinha” pelo presidente Lula. O governo não agiu a tempo e deu no que deu: uma década de crescimento pífio.

Agora, tudo indica que chegou a vez de um novo ciclo de papéis novos na Bolsa. Com a taxa Selic no nível mais baixo de todos os tempos, restaram poucas opções de investimento que não os de renda variável.

Mais do que necessários, imprescindíveis, os IPOs já começaram a ressurgir. Com uma novidade. Além da B3, algumas empresas estão lançando ações na Nasdaq.

Esses lançamentos tanto podem ser péssimos negócios como investimentos espetaculares, não raro para toda a vida.

O importante é agir sob a orientação de um especialista.

A Inversa, conta com gente que se debruça em análises não só das perspectivas futuras das empresas que estão sendo lançadas como também de seus respectivos setores de atividade.

Se tudo ocorrer como se espera, teremos um crescimento saudável e horizontal do mercado brasileiro de ações. Isso evitará inevitáveis bolhas e seus respectivos crashes.

Aproveito para indicar a leitura do livro “Ivan: 30 Lições de Mercado” de minha autoria. Você pode ter adquirir as verdades mais importantes que TODO investidor deve saber, clique aqui.

Um grande abraço,

Ivan Sant’Anna.

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