Opinião

Ivan Sant’Anna: Black Friday

14 out 2019, 12:14 - atualizado em 14 out 2019, 12:15
Colunista discorre sobre relação entre notícias e valorização dos índices acionários (Imagem: Inversa)

Não, não estou falando de uma sexta-feira de liquidações no comércio, aquela na qual alguns lojistas, após terem subido seus preços em 100%, os reduzem em 50% para iludir os trouxas.

A Black Friday a qual me refiro é a sexta passada, quando as bolsas de valores de São Paulo e Nova York tomaram os freios entre os dentes e dispararam.

Pera aí, Ivan”, vai reclamar aquele leitor que vive me cobrando coerência. “Black não é uma coisa ruim?

Realmente, Black Tuesday foi a terça-feira de 29 de outubro de 1929, quando aconteceu o grande crash da Bolsa de Valores de Nova York que pôs fim aos Esfuziantes Anos Vinte (Roaring Twenties) e deu início à Grande Depressão.

Black Monday é o nome pelo qual ficou conhecida a segunda-feira de 19 de outubro de 1987, dia em que o índice Dow Jones perdeu mais de um quinto de seu valor.

Só que resolvi aderir à onda do politicamente correto e usar a palavra Black para acontecimentos positivos. Aliás, tendo sido boêmio em boa parte de minha vida (agora, sou um monge trapista), sempre preferi o negrume da noite do que a claridade ofuscante do dia.

Portanto, a última sexta-feira, 11 de outubro, foi meu dia de deslumbre com o mercado, minha Black Friday particular. Vamos aos fatos.

Na véspera, quinta, dia 10, escrevi um texto de seis páginas para a newsletter Os mercadores da noite publicada anteontem, sábado, na qual falei sobre a desimportância da briga entre o PSL e Jair Bolsonaro.

Quase meia-noite, matéria feita e refeita, lida e relida, fui fechar o arquivo para encaminhá-la ao Eduardo Laguna, da Inversa. Ao fazê-lo, o computador me perguntou:

“Deseja salvar as alterações?”

Pela terceira vez na vida, desde que comecei a trabalhar com PCs, em 1992, respondi “não” por engano. Na primeira, se perdeu para sempre um dos capítulos de Os mercadores da noite, capítulo esse ambientado no Paquistão. Na segunda, saí para rua e comprei dois pacotes de cigarro (parara de fumar havia uns cinco anos) mas acabei não abrindo.

Nesta última, precisei reescrever “Partidos sem partidários”, publicado anteontem pela Inversa. Mudei totalmente o andamento da história. Acho que ficou melhor.

Enchi toda essa linguiça para dizer que fui dormir às três da manhã. Ao acordar, as bolsas de São Paulo e Nova York haviam aberto em violenta alta. Recorri ao Zezinho, meu colega especialista na Inversa, para saber o que acontecera.

“Otimismo nas conversas entre Trump e Liu He”; “Reunião construtiva sobre o Brexit”; “No Brasil, leilões de petróleo arrecadaram R$8,9 bilhões”; “Cada vez mais provável a queda da Selic para 4,5%”, ele resumiu.

Só noticia boa e as Bolsas corresponderam. Quem sabe minha Black Friday não vai se transformar em um Black October? Usando meu novo sentido para a palavra Black.

Com as taxas de juros (reais e absolutas) caindo inexoravelmente, e a economia brasileira começando a se recuperar, é bem possível que o Ibovespa, que iniciou 2019 na mínima, a 87.535, vá fechar o ano na máxima a cem mil e lá vai fumaça.

Os investidores e especuladores estão ficando sem alternativas a não ser buy on dips, buy on rallies, buy on whatever the market is. Buy now to sell later with a huge profit. Jump on the bandwagon.

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