Ivan Sant’Anna: Barril de pólvora
Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite
Caro leitor,
No sábado, dia 14, o José Castro (Zezinho), meu colega especialista da Inversa, enviou a seguinte mensagem às 15:40:
“Drones atacam maior refinaria de petróleo do mundo, na Arábia Saudita” – A Agência Internacional de Energia (AIE) afirmou que os mercados globais de petróleo estão atualmente “bem abastecidos, com amplos estoques comerciais”.
A matéria foi colhida no site da revista Veja.
Imediatamente, comecei a pesquisar o que acontecera, para projetar as consequências nos diversos mercados financeiros mundiais, com destaque para as cotações do petróleo na Nymex, em Nova York.
“Os sauditas correm para restabelecer a produção de petróleo após o ataque incapacitante”, foi a manchete do site da Bloomberg.
“Irã condena a acusação dos Estados Unidos sobre os ataques às instalações petrolíferas sauditas – Os americanos disseram que Teerã estava por trás dos ataques de drones em duas refinarias de petróleo e não os rebeldes iemenitas”, postou a BBC em sua página principal.
“O ataque ao campo de petróleo saudita muda as regras do jogo – O ataque é uma escalada dramática nos conflitos do Golfo (Pérsico), mesmo que os iranianos não sejam os responsáveis pelos drones ou mísseis”, foi a conclusão da CNN.
“Da pressão máxima para o engano máximo: Irã nega acusações dos Estados Unidos sobre o ataque à Arábia Saudita”, escreveu a Al Jazeera.
Assim que acordei ontem, dei uma olhada em O Globo. Para meu profundo desapontamento, e até mesmo revolta (já que sou assinante do jornal), o destaque da primeira página é uma foto da praia da Joaquina que está sendo disputada pelos municípios de Búzios e Cabo Frio.
Sobre os acontecimentos no Oriente Médio, absolutamente nada na capa.
Ah, para ninguém dizer que estou sendo injusto com o jornal, no canto inferior esquerdo da página 38, seção Mundo, está escrito “Rebeldes iemenitas (coisa que nem a Bloomberg, nem a CNN, nem a BBC, nem a Al Jazeera garantem) atacam centro de petróleo saudita”.
“Ah, Ivan”, pode estar dizendo o leitor. “Você está comparando um jornal com sites de notícias. Isso não é justo.”
Pois bem, dei uma olhada no site da Globo.com. Não havia sequer menção ao ataque no Oriente Médio.
Conclusão: O Globo virou um jornaleco provinciano. Fora alguns bons colunistas, não vale a pena usar suas páginas para se informar sobre os acontecimentos. É muito melhor ler sites especializados como o da Inversa.
No momento em que escrevo esta frase, são 19:00 de domingo. As bolsas do Extremo Oriente ainda não abriram. Mas tenho certeza de que o petróleo vai subir violentamente. (Nota de atualização: na abertura do mercado, hoje, barril chegou a subir quase 20% em Londres).
Se o incidente de sábado tiver sido um fato isolado, teremos no mínimo um squeeze (gargalo na distribuição) no mercado de óleo cru na Nymex.
Para ter certeza disso, basta a gente se pôr na posição de alguém que está vendido em petróleo a descoberto. O cara vai se cobrir a qualquer custo.
Não podemos descartar a hipótese de desdobramentos dos acontecimentos de sábado.
Por exemplo:
− Bombardeio de instalações iranianas de petróleo por parte dos Estados Unidos, da Arábia Saudita ou de ambos.
− Novos ataques de drones.
Desde que comecei no mercado, há 61 anos, já vi a Guerra dos Seis Dias, a Guerra do Yom Kippur, as duas guerras do Golfo, a Guerra Irã/Iraque, fora incontáveis escaramuças menores e atentados.
Todas essas ocasiões foram altistas para o petróleo. E elas poderão se repetir em maior ou menor intensidade.
O clichê (barril de pólvora) voltou a se manifestar.
Um abraço,