Colunistas

Ivan Sant’Anna: Barril de pólvora

16 set 2019, 14:43 - atualizado em 16 set 2019, 14:43

Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite

Caro leitor,

No sábado, dia 14, o José Castro (Zezinho), meu colega especialista da Inversa, enviou a seguinte mensagem às 15:40:

“Drones atacam maior refinaria de petróleo do mundo, na Arábia Saudita” – A Agência Internacional de Energia (AIE) afirmou que os mercados globais de petróleo estão atualmente “bem abastecidos, com amplos estoques comerciais”.

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A matéria foi colhida no site da revista Veja.

Imediatamente, comecei a pesquisar o que acontecera, para projetar as consequências nos diversos mercados financeiros mundiais, com destaque para as cotações do petróleo na Nymex, em Nova York.

“Os sauditas correm para restabelecer a produção de petróleo após o ataque incapacitante”, foi a manchete do site da Bloomberg.

“Irã condena a acusação dos Estados Unidos sobre os ataques às instalações petrolíferas sauditas – Os americanos disseram que Teerã estava por trás dos ataques de drones em duas refinarias de petróleo e não os rebeldes iemenitas”, postou a BBC em sua página principal.

“O ataque ao campo de petróleo saudita muda as regras do jogo – O ataque é uma escalada dramática nos conflitos do Golfo (Pérsico), mesmo que os iranianos não sejam os responsáveis pelos drones ou mísseis”, foi a conclusão da CNN.

“Da pressão máxima para o engano máximo: Irã nega acusações dos Estados Unidos sobre o ataque à Arábia Saudita”, escreveu a Al Jazeera.

Assim que acordei ontem, dei uma olhada em O Globo. Para meu profundo desapontamento, e até mesmo revolta (já que sou assinante do jornal), o destaque da primeira página é uma foto da praia da Joaquina que está sendo disputada pelos municípios de Búzios e Cabo Frio.

Sobre os acontecimentos no Oriente Médio, absolutamente nada na capa.

Ah, para ninguém dizer que estou sendo injusto com o jornal, no canto inferior esquerdo da página 38, seção Mundo, está escrito “Rebeldes iemenitas (coisa que nem a Bloomberg, nem a CNN, nem a BBC, nem a Al Jazeera garantem) atacam centro de petróleo saudita”.

“Ah, Ivan”, pode estar dizendo o leitor. “Você está comparando um jornal com sites de notícias. Isso não é justo.”

Pois bem, dei uma olhada no site da Globo.com. Não havia sequer menção ao ataque no Oriente Médio.

Conclusão: O Globo virou um jornaleco provinciano. Fora alguns bons colunistas, não vale a pena usar suas páginas para se informar sobre os acontecimentos. É muito melhor ler sites especializados como o da Inversa.

No momento em que escrevo esta frase, são 19:00 de domingo. As bolsas do Extremo Oriente ainda não abriram. Mas tenho certeza de que o petróleo vai subir violentamente. (Nota de atualização: na abertura do mercado, hoje, barril chegou a subir quase 20% em Londres).

Se o incidente de sábado tiver sido um fato isolado, teremos no mínimo um squeeze (gargalo na distribuição) no mercado de óleo cru na Nymex.

Para ter certeza disso, basta a gente se pôr na posição de alguém que está vendido em petróleo a descoberto. O cara vai se cobrir a qualquer custo.

Não podemos descartar a hipótese de desdobramentos dos acontecimentos de sábado.

Por exemplo:
− Bombardeio de instalações iranianas de petróleo por parte dos Estados Unidos, da Arábia Saudita ou de ambos.
− Novos ataques de drones.

Desde que comecei no mercado, há 61 anos, já vi a Guerra dos Seis Dias, a Guerra do Yom Kippur, as duas guerras do Golfo, a Guerra Irã/Iraque, fora incontáveis escaramuças menores e atentados.

Todas essas ocasiões foram altistas para o petróleo. E elas poderão se repetir em maior ou menor intensidade.

O clichê (barril de pólvora) voltou a se manifestar.

Um abraço,

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