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Ivan Sant’Anna: A história de uma relíquia bárbara – Parte 3

29 ago 2019, 15:14 - atualizado em 29 ago 2019, 15:14

Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite

Caro leitor,

Desde o dia 9 de setembro de 1997, quando o ouro fez seu último   low significativo em Nova York, a US$ 283,25, o mercado não fez outra coisa a não ser subir. Essa alta, que dura até hoje, já decorridos 22 anos, se deveu à escalada dos preços do petróleo e de outras matérias-primas (o ouro serve também como uma espécie de índice das commodities), provocada pelo estrondoso crescimento da economia chinesa.

Em seu espetacular  bull market, o barril de petróleo chegou a ser cotado a US$ 144,68 em julho de 2008. Junto com ele subiram outras commodities, como o minério de ferro, o cimento, o cobre e os grãos. E o ouro, é claro, que bateu US$ 1.896,70 em 2011.

Além das matérias-primas em alta, o que catapultou mesmo o mercado de ouro foi a taxa zero (ou quase zero) de juros implantada pelo Fed para minimizar as consequências da crise do subprime (2007/2009). Isso perdurou até 2016.

Mesmo as pequenas elevações (das taxas) que se seguiram, foram tímidas e mantiveram os juros negativos se considerarmos a inflação americana.

Como escrevi e disse (estas crônicas são gravadas e divulgadas em podcasts), nenhum fundamento é tão favorável ao mercado de ouro como juros absolutos e reais negativos.

Após ter feito uma correção que o trouxe para US$ 1.134,60 em 2016, nossa relíquia bárbara voltou a subir, tendo sido cotada ontem a US$ 1.550,00, 350 dólares abaixo do high de todos os tempos.

No Brasil, o ouro juntou a fome com a vontade de comer. Mercado subindo lá fora e o dólar se valorizando aqui, estamos, como não poderia deixar de ser, vivendo um bull market dourado.

Tanto no curto como no médio prazo, as perspectivas são ótimas. Com juros negativos em diversos países do mundo, o ouro deve continuar subindo. E mais ainda quando cotado em reais e outras moedas emergentes, que estão se enfraquecendo frente ao dólar.

O Banco Central do Brasil resolveu agora vender, no mercado interno de câmbio, dólares de suas reservas internacionais, o que não fazia havia dez anos. Acontece que esse tipo de intervenção só funciona (quando funciona) por um curto período de tempo. O BC vende e o mercado absorve.

Já vi esse filme inúmeras vezes.

Concluindo: posições compradas em ouro físico e futuro no Brasil deverão continuar dando alegria.

Só não podemos esquecer de uma coisa. Investir em ouro custa dinheiro. Se for em barras, despesas de custódia. Se no mercado futuro, corretagens e spreads de rolamento da posição.

Ao contrário das ações e dos títulos de renda fixa, nos quais os investidores recebem dividendos ou juros, o ouro não rende absolutamente nada. Tal como acontece com o iene japonês e o franco suíço (que têm juros negativos), o único ganho é uma alta nas cotações.

Você pode comprar ações de uma empresa sólida e rentável e mantê-las em carteira para o resto da vida. Mas não faça isso com o ouro.

Se a década de 2020 for de recessão mundial (e muita gente acredita nisso), o preço do ouro, seja em dólares ou reais, vai cair.

Portanto, caro amigo leitor, cuidado. Dedo no gatilho para vender ao primeiro sinal do fim deste bull market da relíquia bárbara.

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