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Ivan Sant’Anna: A história de uma relíquia bárbara – Parte 2

28 ago 2019, 14:47 - atualizado em 28 ago 2019, 14:47

Por Ivan Sant’Anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite

Caro leitor,

bear market 1980/1997 do ouro na verdade começou com uma bull trap (armadilha de touros). Por esse nome, o mercado define as situações nas quais os fundamentos parecem altistas mas as cotações caem, pegando os touros no contrapé.

Em dezembro de 1979, a União Soviética invadira e ocupara o Afeganistão, permanência essa que duraria até fevereiro de 1989. Até então se acreditava que o ouro servia como defesa para crises internacionais.

Esse conceito valeu por muito tempo. Mas na década de 1980 havia outras melhores, definidas como fly to quality (fuga para a qualidade). Os mercados de moedas, de instrumentos financeiros e de índices futuros de ações desempenhavam de modo muito melhor esse papel defensivo.

Com o dólar forte, e nesta crônica estamos falando do ouro cotado na moeda americana, não havia como o ouro subir.

Só que a queda teve um detonador: o colapso da prata. Os irmãos Hunt – magnatas do petróleo e homens mais ricos dos Estados Unidos −, no final da década de 1970 haviam decidido dar um corner na prata.

Para quem não sabe, corner é a operação perfeita, o ippon do mercado. Eis como o defino na página 294 de meu livro Os mercadores da noite, edição da Inversa:

O corner existe quando uma pessoa ou instituição compra determinado ativo em quantidade maior do que a existente daquele ativo. Por exemplo, se alguém consegue comprar 1 bilhão de dólares de determinada série de obrigações do Tesouro, e só foram emitidos 900 milhões daquela série, esse alguém conseguiu estabelecer um corner. Nessas condições, as cotações sobem a níveis estratosféricos.”

 Níveis estratosféricos… Pois é. Os Hunt puxaram o preço da prata de US$ 5,00, no início de 1979, até US$ 50,50, nos primeiros dias de 1980, alta de mais de mil por cento no espaço de um ano.

Só que os estatutos das bolsas têm cláusulas que lhes permitem interferir nos mercados quando elas (as bolsas) ficam ameaçadas de quebrar.

Foi justamente o que aconteceu na ocasião. A Comex impediu a abertura de novas posições compradas no mercado futuro de prata.

Com isso, estando os Hunts manietados, a prata despencou. O ouro veio junto. Mas, como escrevi acima, foi apenas o detonador. Cairia de qualquer maneira por causa da força do dólar e dos altos juros praticados pelo Fed.

Entre os US$ 843,00, high de 1980, e US$ 283,25, low de 9 de dezembro de 1997, quando o bear market terminou, a cotação do ouro não teve uma queda constante e linear. Muito pelo contrário. Houve diversas bear traps.

No crash de 19 de outubro de 1987 ( Black Monday), por exemplo, o ouro no início do dia subiu US$ 19,90. Mas logo veio o medo de uma depressão (os traders pensaram num novo 1929) e o preço desabou.

Durante o bear market 1980/1997, por algum tempo o mercado estacionou em 500 dólares a onça. Depois caiu abruptamente para 400, em apenas quatro sessões, quando fez novo pit stop. A última parada se deu no nível de 300, já perto do low.

No próximo e último episódio desta trilogia da Warm Up Pro a respeito do ouro, falarei sobre o atual bull market, que já dura 22 anos. Embora nesse período tenha havido o ataque de 11 de setembro, a invasão do Afeganistão e a segunda guerra do Golfo, o fundamento principal passou a ser taxas de juros.

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