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Ivan Sant’Ana: Você prefere ser dono da Nova Zelândia ou da Amazon?

05 set 2020, 11:00 - atualizado em 04 set 2020, 21:44
AMZN Amazon
“Para mim, tanto a Amazon como a Microsoft, a Apple, a Alphabet e o Facebook estão caros”, afirma o colunista (Imagem: Reuters/Mike Segar)

Antes de mais nada, quero avisar que estou escrevendo esta crônica após o fechamento dos mercados de quinta-feira, 3 de setembro. Portanto, se as Bolsas me aprontarem uma falseta na sexta (ontem, para você que está lendo no sábado), adianto meu pedido de desculpas.

Voltando às Bolsas de quinta, com certeza foi um dia marcante. Após terem feito suas máximas de todos os tempos na véspera, o índice Industrial Dow Jones caiu 2,78%, o S&P 500, 3,61% e o Nasdaq, sobre o qual recaiu a culpa, 4,96%.

A explicação da maioria dos analistas é que as ações das empresas de tecnologia (a maioria negociada na Nasdaq) estavam supervalorizadas.

Como as grandes fortunas costumam ser medidas multiplicando-se o número de ações de propriedade de determinado mega-acionista pela cotação dessas ações, Jeff Bezos, da Amazon, apareceu nos registros da Forbes valendo 205,6 bilhões de dólares.

Sim, 205,6 bilhões de dólares. Isso equivale ao PIB da Nova Zelândia, com suas duas enormes ilhas (North Island e South Island), seus campos, pastagens, montanhas, geleiras, praias tropicais e, como se não bastasse, o povo mais honesto do mundo e uma jovem primeira-ministra que dribla até pandemia.

Ah, e ainda sobram US$ 16,6 bilhões de troco para quem der a Amazon e receber a Nova Zelândia.

É evidente que esses valores estão distorcidos. Só para caracterizá-los melhor, eu pergunto ao caro amigo leitor:

“Você prefere ser dono da Nova Zelândia ou da Amazon?”

Pois bem, para mim, tanto a Amazon como a Microsoft, a Apple, a Alphabet e o Facebook estão caros. E podem cair mais, muito mais. Simplesmente porque o mercado exagerou.

Ficou parecendo bolha. E bolha, todo mundo sabe, quando infla demais, estoura.

Essas correções (ou reversões, só os próximos dias dirão) geralmente começam com o gestor de um grande fundo ou um investidor pesado decidindo.

“Vou vender. Aplico meu dinheiro em Treasuries, mesmo rendendo zero, e aguardo para recomprar esses papéis mais baratos.”

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“As Bolsas americanas (NYSE e Nasdaq) ignoraram um vírus que infectou 6.335.000 pessoas nos Estados Unidos este ano”, argumenta (Imagem: Reuters/Brendan McDermid)

De uma coisa, tenho convicção. Se por caso a Nasdaq ou a Amazon retornarem às proximidades de seus highs históricos, o mercado vai vender. Isso porque a memória da queda desta quinta-feira ficou registrada.

De modo algum acredito que algo semelhante à Black Tuesday (29 de outubro de 1929) possa se repetir agora.

Naquela ocasião, havia uma avalanche de papéis entrando na Bolsa de Valores de Nova York através de IPOs fajutos, concomitante com uma avalanche de otários gananciosos querendo comprá-los pelo preço que fosse.

Até que o número dos primeiros (IPOs fajutos) superou o dos segundos (os otários).

Aconteceu, então, uma queda lógica. Tão lógica que o Dow Jones só foi se recuperar um quarto de século depois, tendo a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial no meio do caminho.

Já em 19 de outubro de 1987, por ocasião da Black Monday (logo eles vão ter de mudar esses Blacks porque estão pegando mal – quem disse que o urso é preto; não pode ser polar?), oportunidade em que o Dow Jones perdeu um quinto de seu valor em um único pregão, o mercado corrigiu rapidinho.

Quem comprou ações no low da Black Monday se deu bem. Multiplicou seu capital dez vezes em 33 anos. Se subtrairmos desse ganho a inflação americana no período, mesmo assim foi bom negócio, um lucro real de 475%.

Em ambos os casos, não computei a reaplicação de dividendos recebidos.

Desta vez, os fundamentos são sólidos, com o FED prometendo manter os juros a quase zero por longo tempo. Mas não tão sólidos que façam com que o mercado se mantenha permanentemente em alta. Isso simplesmente não existe.

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“Passando ao mercado tupiniquim, acho que o Ibovespa apresentou um ótimo desempenho”, afirma (Imagem: B3/Linkedin)

Afinal de contas, as Bolsas americanas (NYSE e Nasdaq) ignoraram um vírus que infectou 6.335.000 pessoas nos Estados Unidos este ano, das quais 191.000 morreram até agora. Sem contar outros tantos milhões de assintomáticos não testados.

Ignoraram também uma queda no PIB só semelhante à dos anos da Grande Depressão.

Baseado nos fatos e argumentações expostos acima, acredito que as Bolsas americanas estão fazendo apenas uma correção do exagero.

Passando ao mercado tupiniquim, acho que o Ibovespa apresentou um ótimo desempenho. Na quinta-feira, enquanto o Nasdaq, o S&P e o Dow se esfarinhavam, a B3 caiu apenas 1,17%, com o índice se mantendo acima dos 100.000 pontos.

Aqui no Brasil, a não ser que surja um fato negativo totalmente inesperado, acho que a Bolsa é para cima.

Sugiro ao prezado assinante que aproveite os recuos para ir às compras.

Com critério, por favor. Porque tem muita porcaria a preço baixo, simplesmente porque são empresas que valem pouco mesmo.

Nós, da Inversa, estamos aqui para ajudá-los nessa seleção. Basta clicar neste link.

Um forte abraço e um ótimo fim de semana.

Ivan Sant’Anna

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