ITUB4, BBDC4, BBAS3, SANB11: Veja como a Americanas (AMER3) pode encolher os dividendos dos bancos
Os bancos, tidos até pouco tempo atrás como porto seguro em tempos de economia ruim, agora vivem momentos de turbulência. A situação vinha se agravando desde o ano passado, quando analistas e investidores começaram a sentir aumento de inadimplência.
Porém, após o rombo da Americanas (AMER3) o setor ganhou mais uma dor de cabeça (assim como seu acionista) — que, ao contrário de outras empresas em situação delicada, pegou em cheio os bancos.
Segundo o TradeMap, Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC), Banco do Brasil (BBAS3) e Santander (SANB11) lucraram R$ 19 bilhões no quarto trimestre, alta de 2,6%. Apesar do crescimento, a cifra fica aquém para um setor conhecido por sua lucratividade. No primeiro trimestre de 2022, por exemplo, a quantia bateu em R$ 24 bilhões.
“Em linhas gerais, vimos repetição do que a gente tinha visto. Inadimplência, aumento de atraso, especialmente bancos expostos a pessoa física e pequena empresa. Foi o que vimos em Bradesco e Santander”, resume Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama.
Olhando no detalhe, porém, percebe-se como o Banco do Brasil distorceu os números. A estatal viu o seu lucro saltar 61% no trimestre. Do outro lado, Bradesco e Santander caíram 54% e 57%, respectivamente. Veja na tabela abaixo:
Com base nesse comparativo, vê-se o Itaú, que se livrou em 100% da Americanas, como o grande vencedor. Não à toa, o papel segue na preferência de carteiras recomendadas de corretoras e no portfólio de grandes gestoras, como a IP, uma das mais tradicionais do mercado, com R$ 40 bilhões sob gestão.
“Na área de atacado, em 2022, realizou mais emissões de renda fixa do que BTG e XP (XP) somados. O que mais temos ouvido dos competidores é que não está fácil competir com o Itaú atualmente”, sintetiza trecho da carta.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, diz que os bancos saíram mais machucados do que o esperado, o que se refletiu no preço das ações”. “Mas ainda continua sendo referência, com uma visão bem sólida em um momento negativos como agora fevereiro, estamos vendo que está se segurando”, pondera.
Dividendos em risco?
Com o lucro em queda, investidores se perguntam como devem ficar o pagamento de dividendos dos bancões. O setor é famoso por sua distribuição de bilhões, porém a entrega tem sido afetada pela alta da inadimplência e pela necessidade de investimentos para fazer frente às fintechs.
No ano passado, por exemplo, de acordo com a Economática, o volume de proventos foi o menor desde 2014, somando R$ 9,78 bilhões.
Para este ano, o cálculo é simples: menos lucros, menos dividendos.
“É bastante possível que a distribuição de dividendos dos bancos seja impactada pela Americanas”, observa Milton Rabelo, analista da VG Research.
Ele esclarece, porém, que as Provisões para Devedores Duvidosos (PDDs) realizadas pelos bancos não constituem exatamente um calote, mas sim uma conta que reduz temporariamente os lucros da instituição até que haja mais clareza sobre se o crédito será pago ou não pela instituição devedora.
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“Essas provisões necessárias diminuem, ao menos temporariamente, os lucros dos bancos. Se não houver mudanças nas políticas de distribuição de dividendos e JCPs, isso implica em um volume menor de proventos repassados aos acionistas”, expõe.
Já Flávio Conde, da Levante Investimentos, coloca que a Americanas não irá afetar a distribuição de dividendos dos bancos todos da mesma forma.
“Afretará, principalmente, o Bradesco. Itaú e Banco do Brasil conseguiram compensar perdas que tiveram. O Itaú teve uma queda pequena. Já o Bradesco caiu 75%. Provavelmente irá distribuir 25%, isso até abril”, discorre.
Bancos: Um porto seguro menos seguro?
Mesmo que o sistema financeiros seja considerado ainda uma proteção, fato é que as condições estão mais arriscadas, principalmente para instituições expostas à pessoa física.
Além disso, com o caso Americanas, agora investidores, agentes dos mercados e até o governo observam uma crise de crédito, quando os bancos fecham a torneira para novos empréstimos, se criando.
“A Americanas foi motivador de uma cautela em geral e no crédito corporativo. Os bancos estão percebendo que as empresas terão mais dificuldade de se financiar”, discorre Soares, da Órama.
Fábio Sobreira, sócio e analista da Harami Research, também recorda que os juros altos pioram a situação. A Selic está em 13,75% e de acordo com o último Boletim Focus, a taxa prevista para 2023 foi mantida em 12,75%. Há um mês, a projeção era de 12,50%.
“Se ela se mantiver alta por muito tempo, teremos uma crise de crédito e as empresas não vão conseguir pegar dinheiro a juros altos. Isso já vem acontecendo”, argumenta.
Conde, da Levante, comenta que o setor está mais inseguro não só por conta da Americanas, mas também devido outras empresas, principalmente do setor varejista, que podem pedir para renegociar as dívidas ou entrar em recuperação judicial.
Recentemente, pelo menos duas marcas, Marisa (AMAR3) e Tok&Stock, pediram reestruturação das suas dívidas.
“Já estamos vivenciando uma crise de crédito. A emissão de novas dívidas está com queda muito grande. Tivemos aumento de spread, corte de ratings e muitas empresas tomando iniciativas de reestruturação de dívida que é bem notável. Não é uma super crise, mas é relevante”, completa o analista da Órama.
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Rabelo diz que, de fato, a emissão de crédito privado está temporariamente congelada após a descoberta das fraudes na Americanas, “mas o nosso cenário-base é de que esse susto não prejudique estruturalmente a concessão de crédito ao longo do ano”
“Os bancos parecem dispostos a aumentar suas carteiras corporativas em 2023, ainda que haja um clima de mais cautela. Nosso cenário-base é que deverá haver uma normalização ao longo do ano em relação a essa questão”, discorre.
2023: o que esperar?
A palavra da ordem para este ano, segundo analistas, será a análise de crédito. A visão é de que ganhará quem souber emprestar para as empresas e pessoas físicas certas, algo que ocorreu com o Itaú no último trimestre e que o Bradesco ficou devendo.
“O desafio dos bancos é conseguir ao mesmo tempo expandir as suas carteiras de crédito e manter os seus índices de inadimplência sob controle, apesar do cenário macroeconômico muito desafiador. Em última instância, os resultados dos bancos serão influenciados pelo nível de assertividade das suas análises a respeito da capacidade de pagamento de potenciais tomadores de crédito”, argumenta Rabelo, da VG Research.
Em relatório, o Bradesco BBI cortou o preço-alvo e rebaixou a recomendação de Itaú e Banco do Brasil de compra para neutro e Santander de neutro para venda.
A corretora espera que 2023 seja um ano desafiador em termos de NPL (empréstimo de cobrança duvidosa, em português) para os bancos, pois acredita que a qualidade dos ativos das empresas tende a se deteriorar devido às altas taxas de juros e à economia mais fraca.
“Além disso, acreditamos que o ruído regulatório não deve ser ignorado para o banco, especialmente no que diz respeito à remoção de IoC e tributação de dividendos”, completa.