Itaú (ITUB4) sobe e Bradesco (BBDC4) cai: O que motivou resultados diferentes?
A temporada de balanços do quarto trimestre de 2023 (4T23) trouxe surpresas positivas e negativas entre alguns dos maiores players bancários do país, como Itaú (ITUB4), e Bradesco (BBDC4).
Enquanto o primeiro trouxe um lucro além do esperado, surpreendendo o mercado e saltando na bolsa, outro registrou uma queda no resultado, caindo 15,9% na B3 nesta quarta (7).
No caso do Itaú, o banco apresentou um resultado recorrente de R$ 35,6 bilhões, alta de 15,7% em relação ao ano anterior, refletindo um crescimento da carteira de crédito, além de uma maior margem com passivos.
Já o Bradesco decepcionou o mercado trazendo um resultado aquém do esperado, com R$ 2,8 bilhões de lucro no balanço do 4T23, apresentando uma queda de 37,7% sobre o período anterior e ficando bem abaixo do consenso do mercado, que esperava R$ 4,7 bilhões.
- Por que Bradesco decepcionou o mercado com resultado do 4T23? Analista Larissa Quaresma comenta balanço do bancão e responde o que fazer com as ações agora; Confira no Giro do Mercado:
O que diferencia o resultado do Itaú e Bradesco?
Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, afirma que as ações do Bradesco subiram dias antes da divulgação balanço na expectativa do plano estratégico. “A ação subiu muito na expectativa do plano estratégico do que pelo resultado em si, que foi muito fraco”, diz.
A analista explica que, em relação aos números, apesar do lucro crescer 80% na comparação anual, no 4º trimestre de 2022, foi feito um provisionamento para a Americanas. “Então a base de comparação não foi válida”, afirma, dizendo que prefere a base trimestral para efeito de comparação. Por este critério, banco registrou queda de 37%.
O aguardado plano estratégico do banco também influenciou negativamente: “O plano tem um período longo, de 5 anos, com a perspectiva de atingir o ROE (retorno sobre o capital investido) acima do capital só em 2026”
Carteira de crédito do Bradesco decepcionou
Houve também “uma decepção em todas as linhas” do banco, diz Quaresma. “Vemos uma carteira de crédito caindo, os spreads médios também caíram”, diz. Ela afirma que o crescimento da inadimplência do banco também foi um ponto importante, sendo muito afetada por outras empresas.
“Houve provisionamento adicional, um right-off, quando o banco reconhece a perda de parte daquele dinheiro emprestado”, afirma, salientando ainda que o setor de serviços foi outra decepção do balanço do Bradesco.
“Vemos outros bancos acelerando a parte de investment banking, com assessorias de fusões e aquisições, as emissões de ações e títulos de dívida (…) o Bradesco não participou de forma relevante disso. A receita dessa área caiu 40% na comparação trimestral”, afirma, citando o Itaú, que, segundo a analista, registrou uma aceleração nessa linha de receita.
Hugo Baeta, analisa de Renda Variável da AF Invest, diz que a principal diferença de lucro está no provisionamento, com o Bradesco assumindo “maior exposição a pequenas e médias empresas e ao público de menor renda”.
Ele diz que o banco “foi mais agressivo na concessão de crédito nos últimos anos, e por isso apresentou uma inadimplência mais alta, consequentemente uma provisão maior”, além de ter sido o banco mais exposto às Lojas Americanas.
Baeta também afirma que o banco conseguiu controlar suas despesas de forma mais eficiente, “principalmente quando levamos em consideração o crescimento das receitas”.
“O Itaú fez uma transformação digital mais rápida, enquanto o Bradesco ainda parece estar no processo”, diz. “Ele reestruturou melhor as áreas e soube se adaptar melhor à competição com as fintechs”, afirma.
Sobre a área de serviços, outro setor no qual o Itaú superou o Bradesco, o banco “conseguiu crescer mais em cartões, adquirência (o processo de liquidação de uma transferência eletrônica por cartão de crédito e de débito, a partir da intermediação entre vários sistemas) e seguros”, afirma.
Veja o balanço e o guidance do Bradesco