Exportações

Itamaraty havia avisado sobre controle chinês da covid em alimentos; prática levará a maior rigor sanitário em geral

19 jun 2020, 14:47 - atualizado em 19 jun 2020, 15:35
China Carnes
Exigência chinesa dos fornecedores sobre descontaminação na covid nas carnes pode se estender a todos os alimentos envolvendo outras questões sanitárias (Imagem: REUTERS/Fang Nanlin)

A notícia de que a China vai exigir declaração dos fornecedores sobre a ausência do coronavírus nos alimentos saiu hoje (19), mas já no dia 17 o Ministério das Relações Exteriores distribuía ofício (ver mais abaixo) interno e também endereçado ao setor privado alertando que “autoridades locais (chinesas) estão adotando medidas preventivas que poderão afetar as exportações brasileiras de produtos cárneos”.

Ainda que não haja evidências comprovadas de transmissão do Sars-CoV-2 nos produtos alimentícios – o governo chinês suspeita de mutação no vírus na Europa e chegado à China em salmão importado em nova onda – o tema está alinhado com o que se espera no futuro em relação às questões sanitárias do agronegócio.

E já debatido aqui no Money Times (31/3) por Marcos Jank, professor e pesquisador do Insper sobre cadeias globais do agronegócio. Em sua análise, Jank advertia que a urgência sanitária, com a explosão da crise do novo coronavírus, acabará sendo uma ponte automática para exigências de controles mais duros sobre alimentos em geral.

E estaria em linha com a volta também de um comércio mundial mais administrado, quase que uma dose menor de globalização, segundo o ex-presidente do Asia-Brazil Agro Alliance, organização sediada em Cingapura representando entidades setoriais brasileiras, incluindo as de carnes.

“O assunto é seríssimo”, completa o especialista em comércio global, adicionando que o documento do Itamaraty, que chegou à Abiec (exportadores de carne bovina), é sinal importante para o Brasil. Ainda que não haja menção direta aos riscos de que controles mais rigorosos passem a ser exigidos de fornecedores e importadores chineses sobre todos os gêneros alimentícios.

No último tópico do documento da diplomacia, assinado pelo embaixador em Pequim Paulo Estivallet de Mesquita, pela Divisão de Promoção e Negociação de Temas do Agronegócio, o Brasil é citado mais uma vez diretamente: “A depender dos resultados da investigação sobre a origem da contaminação no mercado de alimentos de Pequim, as autoridades chinesas poderão, eventualmente, impor restrições à importação de produtos cárneos brasileiros e/ou solicitar maiores informações sobre as medidas preventivas adotadas pelos frigoríficos para evitar a contaminação dos alimentos a serem exportados”.