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Itália pode ter nota rebaixada para ‘junk’ pela Moody’s

25 abr 2023, 16:28 - atualizado em 25 abr 2023, 16:28
Moody's
A Moody’s, cuja próxima avaliação de crédito sobre a Itália está prevista para 19 de maio, classifica o país em Baa3, um degrau acima de junk (Imagem: REUTERS/Andrew Kelly)

A Itália se destaca como o único país acompanhado pela Moody’s Investors Service sob o risco de perder sua classificação de grau de investimento, disse a empresa nesta terça-feira.

Em relatório que analisa como os países lidaram nas últimas três décadas com rebaixamentos para a categoria “junk”, ou de alto risco, a terceira maior economia da zona do euro foi sinalizada como uma candidata proeminente para tal ajuste de status. A Moody’s não deu detalhes sobre a probabilidade de isso acontecer.

“A Itália é atualmente o único soberano com ‘rating’ Baa3 e perspectiva negativa”, escreveram analistas como Kelvin Dalrymple e Scott Phillips. “O crescimento lento e os custos de financiamento mais altos podem enfraquecer ainda mais a posição fiscal da Itália.”

As observações destacam como a trajetória mais tranquila da Itália nos mercados de títulos este ano ainda pode ser revertida. O prêmio pago pelo seu título de 10 anos em relação à dívida alemã, considerada mais segura, tem sido negociado em uma faixa estreita no último mês e se encontra atualmente em 187 pontos-base, abaixo dos 250 pontos-base no final de 2022.

O recente otimismo decorre de um período mais calmo na política, do objetivo declarado do governo italiano de prudência fiscal e do apoio antifragmentação do Banco Central Europeu. Embora a ferramenta de compra de títulos nunca tenha sido usada, esta tem oferecido um grande apoio aos países periféricos desde seu anúncio em meados de 2022, pois investidores esperam que o BCE intervenha se houver um grande estresse no mercado.

A Moody’s, cuja próxima avaliação de crédito sobre a Itália está prevista para 19 de maio, classifica o país em Baa3, um degrau acima de junk. A perspectiva está negativa desde agosto – uma avaliação pessimista do país, cuja coalizão fragmentada liderada pela primeira-ministra Giorgia Meloni assumiu o cargo há quase exatamente seis meses.

Por outro lado, na semana passada, a S&P Global Ratings reafirmou sua avaliação sobre a Itália com um degrau acima: BBB e perspectiva estável. A Fitch Ratings tem uma visão semelhante e divulga sua próxima avaliação sobre o país em 12 de maio.

“As perspectivas macro italianas para 2023-24 não parecem tão sombrias quanto inicialmente esperado, e Meloni até agora evitou um forte confronto com a UE”, disse Evelyne Gomez-Liechti, estrategista de juros do Mizuho International. “Mas a tendência de abertura de spread deve permanecer até que a Moody’s e a Fitch divulguem suas decisões.”

Segundo os analistas da Moody’s, a Itália enfrenta “riscos elevados” em torno da implementação de reformas cruciais destinadas a revigorar seu potencial de crescimento, citando medidas que incluem aquelas associadas ao recebimento de recursos do Fundo de Recuperação da União Europeia.

Qualquer possível rebaixamento para junk atingiria o orgulho nacional e levaria o país a um território desconhecido, com uma designação que deixaria seus títulos menos atraentes para investidores.

Tal medida não afetaria sua participação nos programas de compra de títulos do BCE: a dívida do governo é elegível desde que pelo menos uma das quatro principais agências de rating avalie a Itália como grau de investimento.

A coalizão de direita de Meloni teve o cuidado de não adotar medidas radicais. O orçamento apresentado recentemente, com o déficit e a dívida em trajetória descendente, além dos planos de continuar investindo na economia, foi bem recebido por analistas.

No entanto, o endividamento da Itália supera 140% do PIB, enquanto o crescimento permanece lento em termos históricos. Além disso, há um maior escrutínio sobre a dificuldade do país para alocar e gastar recursos do Fundo de Recuperação da União Europeia. O país corre o risco de não concluir alguns projetos necessários para desbloquear os fundos até o prazo de 2026.

A Moody’s disse que 28 países se tornaram “anjos caídos” desde 1995. Desses, apenas 12 conseguiram recuperar os ratings de grau de investimento, sendo que o prazo varia entre cerca de três e 14 anos e o processo envolve “grandes transformações”, incluindo melhorias institucionais e fortalecimento das finanças do governo.

A avaliação da S&P na sexta-feira foi mais otimista.

“A perspectiva estável reflete nossa expectativa de que a dívida do governo da Itália em relação ao PIB diminuirá em 2023-2026, à medida que o crescimento econômico aumenta no próximo ano, apoiado por investimentos da UE, demanda externa e estabilização dos termos de comércio”, disse a agência de rating. “Esta avaliação é equilibrada contra o risco de uma reversão na entrega de reformas críticas.”