Irmãos Batista no ramo de cervejas? Veja possível impacto para Ambev (ABEV3), segundo BTG Pactual
Os irmãos Joesley e Wesley Batista — controladores da JBS e da J&F — estariam de olho em parcela de Itaipava para entrar no negócio de cervejas. Segundo informações do colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, os irmãos estariam conversando com o empresário Walter Faria para a aquisição de 50% da companhia brasileira do Grupo Petrópolis.
Na visão do BTG Pactual, os detalhes sobre uma possível transação são escassos e há um alto nível de especulação, no entanto, traz à tona um risco que não estava no radar dos analistas.
O banco comenta que o mercado de cervejas brasileiro é único, uma vez que na maioria dos grandes mercados existe a característica de um monopólio ou duopólio bem definido. No Brasil, recordam que por cerca de 15 anos desde o surgimento da Ambev (ABEV3), o mercado contou com quatro cervejeiras, mas com a Ambev dominando 2/3 do mercado.
Em 2016, com a aquisição da Brasil Kirin pela Heineken, o mercado ficou dividido numa disputa entre três empresas, com o Grupo Petrópolis permanecendo como o último nome local independente.
Há cerca de dois anos, o Grupo Petrópolis entrou com pedido de recuperação judicial (RJ), sendo que o BTG via dois possíveis desfechos principais:
- (i) que a RJ daria ao grupo o oxigênio necessário para se reerguer, recuperando a alavancagem operacional perdida durante a pandemia;
- (ii) que a RJ talvez fosse o último passo antes da venda de ativos da Petrópolis.
“No caso do segundo cenário, sempre consideramos a Heineken como um possível comprador, o que reestruturaria o mercado brasileiro de cervejas em um duopólio disputado por Ambev e Heineken”, afirmam.
O BTG observa que a recuperação judicial desempenhou um papel importante na recuperação de volumes e participação de mercado. Após encerrar 2023 com uma taxa de utilização de capacidade de 41%, a companhia adotou uma estratégia de preços que avaliam como altamente agressiva, focada em maximizar a alavancagem operacional.
Contudo, essa abordagem parece ter mudado recentemente, com a Petrópolis aumentando seus preços médios de forma constante nos últimos meses.
“Esse movimento nos levou a acreditar que o mercado pode estar se dirigindo para um equilíbrio de preços mais disciplinado. A Petrópolis está novamente ficando sem oxigênio? Em nossa visão, o cenário em que a Petrópolis perde participação de mercado é aquele em que a Ambev mais se beneficia”.
Com entrada dos irmãos Batista, Ambev seria prejudicada?
Na avaliação do BTG, a entrada de um outro nome — que não a Heineken — no mercado de cervejas brasileiro certamente pode mudar o panorama. “Novamente, tudo isso é altamente especulativo neste momento, mas essa possibilidade parece representar um desafio para a Ambev”, ponderam.
Como líder de mercado em uma indústria amplamente madura, os analistas apontam que o o crescimento de longo prazo dos lucros da Ambev depende fortemente da manutenção de um poder de precificação sustentável.
O atual cenário com sinais recentes de um comportamento mais racional por parte da Petrópolis contribuíram para uma melhora no mercado, e o BTG vê a Heineken permanecendo como o único concorrente significativo a apresentar riscos.
“Um aumento na competição vinda da Petrópolis provavelmente prejudicaria a capacidade da Ambev de sustentar seu potencial de crescimento dos lucros”, concluem.