IRB não convence mercado e ações fecham em queda de 16,17%
Em meio à turbulência que atingiu as ações da IRB Brasil (IRBR3), a companhia realizou conferência com o mercado, que contou com a participação do presidente interino do conselho e o presidente interino/diretor financeiro.
Desde ontem, José Carlos Cardoso, antigo presidente, e Fernando Passos, antigo diretor financeiro, não fazem mais parte do IRB. A XP Investimentos resolveu manter a recomendação sob análise.
Nesta quinta-feira (05), os papéis voltaram a fechar em forte queda, perdendo 16,17% a R$ 15,97.
Os 5 pontos principais da conversa do IRB com os analistas hoje
Para os analistas, é importante destacar que uma nova administração sempre pode mudar os rumos de uma companhia. Porém, a perda de um presidente, diretor financeiro e o presidente do conselho em menos de uma semana é uma mudança bastante drástica para o mercado assimilar.
A equipe da corretora avalia que o impacto é principalmente grande considerando que ainda não há um novo presidente da empresa ou do conselho, o que poderia oferecer uma melhor percepção sobre como serão as novas práticas de negócio.
Eles também apontam que ainda não existe visibilidade sobre o tamanho do possível impacto que essas mudanças podem ter com clientes, retrocessionários, reguladores (CVM) e o mercado.
“Como resultado, o que justifica manter a recomendação das ações sob análise, com todas as nossas projeções anteriores não mais válidas, e sem intenção de revisão no curto prazo”, diz a XP.
Durante a conversa, apontam os analistas, a administração demonstrou confiança nos demonstrativos contábeis publicados pela resseguradora até então, ou seja, não são esperadas revisões de números passados. Na opinião dos administradores, o nível de divulgação e a claridade das mesmas são o grande desafio, e não os números em si.
A expectativa da XP era de que os novos administradores passassem certo tempo analisando os números e buscando ajuda externa/especializada extra, então acreditam que o mercado pode tomar essa informação com certa cautela.
O presidente interino do conselho afirmou que a saída de Ivan Monteiro foi devido a questões pessoais, porém não afirmou especificamente questões relacionadas a saúde, conforme havia sido dito na última teleconferência.
Os executivos do IRB afirmaram que estão atualmente investigando a situação, que disseram ser séria. O conselho não estava ciente dos rumores, nem teve acesso a lista de acionistas onde a Berkshire se mostrava como acionista.
Não ficou claro se Márcia Cicarelli vai de fato ser indicada ao conselho, conforme a companhia havia dito na última teleconferência, uma vez que a indicação dela faz parte das investigações.
Para a XP, o IRB talvez passe a divulgar um relatório de discussão da gestão (MD&A), embora ainda não seja claro se vão passar a divulgar resultados recorrentes e não apenas o contábil.
A equipe acredita que a divulgação de resultados recorrentes pode ser bem recebida pelos participantes do mercado. Mas, no geral, os administradores deixaram claro que vão fazer melhores divulgações, inclusive com mais notas explicativas.
Quando questionados sobre práticas comerciais de curto prazo dos antigos administradores, o presidente do conselho se disse não preocupado, uma vez que tais condutas poderiam ter um impacto pequeno no resultado como um todo.
Outro ponto destacado foi que os administradores não acreditam que os recentes eventos podem ter impacto na operação.
O presidente interino do conselho disse que as projeções oficiais estão mantidas e que, mesmo se alteradas por convicção do novo CFO, devem sofrer apenas pequenas alterações.
Tombo
As ações do IRB Brasil RE chegaram a desabar mais de 40% na quarta-feira, em meio a uma crise da confiança disparada após a Berkshire Hathaway afirmar que não é acionista da resseguradora brasileira e nem pretende ser. O movimento ampliava as perdas dos papéis da companhia em 2020 para mais de 50%.
O tombo das ações da companhia, que tem entre os maiores acionistas a Bradesco Seguros (15,2%) e Itaú Seguros (11,1%), representa uma perda de cerca de 8 bilhões de reais em valor de mercado em relação ao fechamento de terça-feira e de pouco mais de 18 bilhões de reais no acumulado do ano.
“A Berkshire Hathaway não é atualmente acionista do IRB, nunca foi uma acionista do IRB e não tem intenção de ser acionista do IRB”, afirmou a empresa de investimentos do bilionário norte-americano em comunicado, citando notícias que circularam na mídia recentemente nesse sentido.
Na última semana do mês passado, o jornal O Estado de S. Paulo publicou que a Berkshire Hathaway, holding de investimentos do bilionário Warren Buffett, havia praticamente triplicado a fatia que detinha na resseguradora em fevereiro. No dia da divulgação da notícia, a ações do IRB fecharam em alta de 6,6%.
Em comunicado ao mercado na véspera, o IRB Brasil RE disse que “nunca afirmou que tal grupo fosse seu acionista”, mas analistas relataram nesta quarta-feira que executivos da empresa disseram, em uma teleconferência na última segunda-feira, que o grupo norte-americano era um investidor da companhia
“Em determinado momento, quando questionados sobre a participação da Berkshire na base de acionistas do IRB, os executivos disseram que têm uma relação próxima com o Sr. Ajit Jain, homem forte da Berkshire Hathaway e responsável pela operação de seguros da holding americana”, afirmou a Eleven Financial.