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Irani (RANI3): CFO fala sobre ‘perfil único’ na Bolsa, potencial de crescimento e momento do mercado de papel

13 ago 2024, 17:00 - atualizado em 22 ago 2024, 17:18
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Irani é a única companhia de embalagens sustentáveis na B3; empresa quer se tornar 3ª maior produtora de embalagens do Brasil (Foto: Divulgação)

O CFO da Irani (RANI3), Odivan Cargnin, empresa produtora de papel para embalagens e de papelão ondulado, conversou nesta semana com Money Times sobre a companhia.

Entre os principais destaques da conversa, Cargnin falou sobre o perfil “único” da empresa na bolsa brasileira, esclareceu as diferenças da companhia em relação à Suzano (SUZB3) e à  Klabin (KLBN11), e falou sobre como estão as operações da empresa.

A Irani reportou um lucro líquido de R$ 40,065 milhões no segundo trimestre, queda de 82,5% na comparação com o 2T23 (R$ 228,746 milhões). O número ficou abaixo do consenso do mercado, que esperava ganhos de R$ 47 milhões.

CFO fala sobre negócio da Irani

Money Times: Como a companhia se diferencia de outras empresas listadas na B3? Há uma confusão quanto a atuação da empresa, pensando em empresas como Suzano e Klabin?

Odivan Cargnin: A Irani é a única empresa de embalagens sustentáveis listada na bolsa brasileira, especialmente no novo mercado da B3. Nós produzimos e vendemos exclusivamente embalagem, ou seja, é uma tese única para aquele investidor que quer estar exposto a uma tese secular de embalagem fabricada à base de recurso natural renovável, que é a floresta plantada, e tem na sua ponta final, como consumidor, o mercado que nós atuamos, a indústria alimentícia, a indústria do varejo, que usa as embalagens sustentáveis como forma de entregar o seu produto para os seus clientes.

A Irani é a única empresa que é o pure play desse setor da bolsa brasileira. Então, acho que é uma tese única. Tem outras empresas que têm também embalagem no business, mas de uma forma única, de uma forma exclusiva, a Irani é a única tese que tem disponível na bolsa.

Somos listados desde 1977, mas fizemos um re-IPO recentemente, em 2020. A empresa tem hoje 2.300 funcionários, possuímos plantas industriais em Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. E, enfim, estamos expostos a esse mercado, tanto alimentício quanto mercado de exportação, os frigoríficos, que usam bastante embalagens para exportar proteína. Então, a Irani é uma tese única em relação às embalagens sustentáveis. 

MT: O que foi positivo e o que pesou sobre os resultados da empresa no 2T24? 

OC: O segundo trimestre veio de uma história, desde 2023, quando quando começou um ciclo negativo para os preços de embalagens. Em relação ao segundo trimestre do ano passado, os preços, tanto de papelão ondulado quanto de papel para embalagem, reduziram em torno de 7%,  o que afetou negativamente os resultados.

Da mesma forma, houve um incremento do preço das aparas, que é um dos insumos principais que nós temos para a produção de papel, que é o papel reciclado, por conta das enchentes do Rio Grande do Sul. A gente compra aparas naquela região e acabou que, pelo evento climático no estado, houve uma disrupção no suprimento das aparas, o que acabou influenciando preços no país todo, impactando as nossas margens.

Por outro lado, o mercado, em termos de volume, está bastante pujante. A demanda segue bastante forte. Os números da Empapel, que é a entidade que divulga os dados consolidados do setor da embalagem, apresentou crescimento de 6% no primeiro semestre no Brasil. E para julho também já foi divulgado o resultado, que apresentou um crescimento de 8% em relação a julho do ano passado.

Ou seja, existe essa tendência muito positiva em termos de demanda, que é um pouco atenuada por conta de capacidades novas que entraram no mercado. A queda de preços se explica pela forte demanda do mercado, mas assim que as novas capacidades de produção estiverem ocupadas, o equilíbrio entre oferta e demanda volta a se equilibrar.

Esse é um cenário do segundo trimestre. E no nosso caso específico da Irani, nós tivemos um Ebitda, uma margem Ebitda, um lucro líquido dentro do previsto, porque também nós estamos colhendo os frutos da Plataforma Gaia, que foi um investimento que nós fizemos nos últimos três anos, de mais de R$ 1 bilhão, onde os retornos começam a aparecer. Então, se for comparar o segundo tri deste ano com o segundo tri do ano passado, você vai ver uma estabilidade de resultados.

MT: Qual o perfil do acionista da Irani?

OC: Hoje nós temos mais de 90 mil acionistas na base, tivemos um salto muito grande desde o IPO, nós tínhamos menos de 3 mil acionistas em 2020, e hoje estamos com mais de 90 mil, por conta da característica da empresa. A Irani é uma empresa small cap, é uma empresa onde nós temos uma política financeira bastante clara,  didática, onde a pessoa física entende o fluxo de dividendos. Nós distribuímos dividendos trimestralmente, sempre na Assembleia, a alavancagem estando dentro do parâmetro de 2,5x, nós distribuímos mais de 25% do lucro do ano anterior, o que faz 50% de payout, que a gente procura manter a alavancagem sempre dentro desse parâmetro para justamente dar essa previsibilidade de dividendos para os nossos acionistas, e também trabalhamos para aumentar o lucro e com isso aumentar o fluxo de dividendos.

É um tipo de investimento muito característico da pessoa física, que acaba tendo uma demanda bastante grande do nosso papel. Uma coisa interessante também é que a pessoa física não está só no equity, nós temos um CRA emitido também do lado da dívida, é uma debênture que a securitizadora emitiu um CRA em cima da nossa debênture, que é risco Irani, o dinheiro veio para o nosso caixa e também nós temos um volume bem grande da pessoa física nesse CRA.

Então às vezes o investidor tem tanto uma posição em ações como uma posição em renda fixa, exposta a companhia tanto surfando a tese circular no equity, mas também a parcela de uma aplicação de renda fixa isenta, de imposto em renda, como é o CRA. Então para nós é uma fonte muito importante de financiamento das nossas operações, do nosso crescimento, e por outro lado a gente também entrega um retorno super, primeiro menos volátil, um retorno adequado para quem entra nesse tipo de papel, e a pessoa física consegue acompanhar e ficar exposta também a uma tese circular, que é a tese das embalagens sustentáveis, como são as embalagens feitas de fibra renovável, como é o papel.



MT: Como a celulose impacta o negócio da Irani?

OC: Essa é uma pergunta sempre gostamos de esclarecer, porque apesar de nós estar lá na cesta das empresas de papel, embalagem e celulose aqui no Brasil, a Irani não vende celulose nem compra celulose para a sua produção. Ou seja, nós não estamos expostos às cotações internacionais e às variações de custos da celulose.

Mas nós sim temos terras, florestas e produzimos celulose, toda para consumo próprio, o que dá inclusive uma vantagem competitiva para a empresa, por ter esse controle da cadeia produtiva, essa estabilidade dos custos O único insumo que é volátil ao qual somos expostos são as aparas, que representam 19% do nosso custo total.

A nossa exportação representa 15% do faturamento, e nós exportamos papel, além de derivados.

MT: O mercado de embalagens onduladas representou 57% da receita da empresa no 2T24, enquanto papel para embalagens sustentáveis respondeu por 37% das receitas. Qual a importância desses negócios? Há metas de expansão? 

OC:  No caso da embalagem de papel ondulado, ele é muito utilizado em frigoríficos, agroindústria, setor alimentício, que tem uma perspectiva super positiva, seja pelo consumo no mercado interno, seja pela exportação de proteína. Nossas plantas são localizadas muito perto das plantas industriais dos principais frigoríficos do Brasil, então tem uma perspectiva super positiva.

E o segmento de papel para embalagem, ele também acaba sendo embalagem, nós não convertemos em embalagem de final, que é um papel fabricado para fazer sacos e sacolas. Então você vai no shopping center hoje, você vê as pessoas comprando, com uma sacolinha na mão, é uma sacolinha de papel.

Eu sempre falo que o shopping representa a transição entre o que já aconteceu e o que ainda está em curso na substituição do plástico por papel. Há alguns anos, você via a maioria das pessoas com sacolinha de plástico, agora mais de 90% é papel. O papel até virou sinônimo de requinte,  ou seja, é uma embalagem mais sofisticada. Os varejistas preferem a embalagem de papel porque confere um maior significado para o seu produto. A Irani se beneficia muito dessa transição em curso. 

Números da Associação Brasileira de Embalagens do ano de 2023, já mostram que, em relação a 2020, a participação do papel na “pizza” de embalagens, quando se considera plástico, vidro, alumínio, cresceu 6% em termos de participação e o plástico reduziu, mostrando essa tendência de substituição.

MT: 85% das receitas vieram do mercado interno, no entanto, houve uma queda de receita no mercado interno, com um crescimento de 11% para exportações. Vocês planejam aumentar a participação nas exportações ou isso é uma questão pontual por um câmbio mais elevado?

OC: Essa é uma flexibilidade que nós temos e, dependendo do que o câmbio direcionar, podemos dispobibilizar uma quantidade maior de papel e produto para exportação em detrimento do mercado interno. Quando o mercado interno está melhor, invertemos o fluxo.

Não temos grandes planos para exportar mais, ou seja, criar plantas direcionadas à exportação. A exportação é sempre secundária. O mercado brasileiro é muito grande, é um dos maiores mercados de embalagem do mundo.

MT: Como vocês enxergam essa queda de quase 23% na ação da Irani em 2024? Vocês veem a ação barata? Como a tragédia no Rio Grande do Sul afetou a companhia?

OC: Na verdade, o mercado como um todo caiu. Entre as small caps, a ação até performou acima da média, por conta dessa dinâmica do mercado de capitais brasileiro ainda muito fraco, diria, nesse ano de 2024.

Aí a gente pode discutir as causas, o nível de juros, o nível de incertezas, acho que tem uma série de coisas na economia brasileira que estão impedindo as pessoas de ir para o mercado de ações e preferindo a renda fixa.

Agora, a empresa continua performando super bem, com perspectivas super positivas. Assim como os analistas têm falado, a gente espera que essa dinâmica se altere em breve, seja por uma questão de mudança de tendência de juros, seja por uma percepção maior do potencial de valorização das ações.  E aí eu não digo só a Irani, mas a bolsa como um todo, que tem negociado a múltiplos muito, muito baixos em relação à sua média histórica.

MT: Como caminha a evolução da Plataforma Gaia? O que a empresa tira de valor em termos de custo e produtividade? Devemos ver o início das operações de novos projetos neste fim de 2024 e no próximo ano?

OC: Os principais projetos da Plataforma Gaia já foram iniciados. Nós temos 11 projetos dentro do que chamamos de Plataforma Gaia.

Os principais deles são o Gaia 1, 2 e 3, que é uma caldeira da recuperação, investimento de R$ 600 milhões. Os outros projetos são evoluções tecnológicas, são adequações de fábricas que têm seu retorno, mas com impacto menor no conjunto da empresa como um todo.

A dívida já está dentro do balanço e agora começamos ca capturar o retorno. O Gaia 1, por exemplo, nos deu uma geração de energia renovável muito grande. Nós deixamos de comprar energia no mercado.

Conseguimos também expsandir a produção da celulose, que utilizamos para fabricar papéis de maior valor agregado. Mas tudo isso acontece em uma hora de baixa do mercado. Quando as condições estiverem mais próximas do normal com preços e volumes, devermos capturar muito mais retorno com os projetos.

MT: Vocês anunciaram o pagamento de R$ 10,1 milhões em dividendos intercalares, a serem pagos em 22 de agosto. Os investidores podem esperar novos pagamentos nos próximos meses? Como funciona a política de dividendos da companhia.

OC: Nós procuramos sempre preservar a saúde financeira da empresa, e a sua continuidade, a sua perenidade. Então a alavancagem nossa é super controlada. Nosso objetivo é não superar as 2,5 vezes na relação entre dívida líquida e Ebitda em 12 meses. Sempre que estiver abaixo desse patamar, o pay-out do dividendo é 50% do lucro.

MT: A margem da empresa passou de 58% no 2T23 para 10,2% no 2T24. Isso preocupa a companhia? 

OC: Esse 58% foi decorrente de R$ 161 milhões que vieram de um processo tributário que nós ganhamos e contabilizamos no segundo trimestre do ano passado. Então ele “poluiu” positivamente o segundo trimestre.

MT: Quais são os próximos passos da Irani? Vamos ver um novo ciclo de investimentos com a Plataforma Néos?

OC: Estamos agora trabalhando na Plataforma Neós. Diferente da Plataforma Gaia, agora sim a gente vai ter expansão de capacidades em plantas novas. Nós almejamos ser o terceiro maior produtor de embalagens no Brasil.

O Brasil é um mercado muito grande, ou seja, ser o terceiro é uma posição super relevante. Para nós significa um crescimento bem grande para chegar lá, o que gera potencial, inclusive, de retorno sobre o capital. Estão previstas novas plantas de embalagem, uma nova de papel, uma nova linha de celulose e também a ampliação da base florestal da companhia.

Confira a entrevista completa

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Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo.
pasquale.salvo@moneytimes.com.br
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Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo.
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