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IPOs de construtoras patinam no Brasil em meio à oferta recorde

04 set 2020, 10:09 - atualizado em 04 set 2020, 10:10
cimento construção civil
O setor imobiliário, incluindo construtoras, está emitindo um dos sinais mais fortes de perigo com o excesso de oferta (Imagem: REUTERS/Washington Alves)

As empresas brasileiras estão fazendo fila para abrir o capital em números recordes, mas o mercado de ações começa a dar sinais de que em alguns setores, especialmente o de construção, está perto de seu ponto de saturação.

Das três ofertas públicas iniciais de ações de pior desempenho no Brasil neste ano, duas são do setor imobiliário. Uma construtora que abriu o capital nesta semana teve de fixar o preço de suas ações 14% abaixo do piso da faixa inicialmente proposta, e caiu mais 5% em sua estreia na Bolsa. Duas concorrentes cancelaram seus planos de fazer IPOs nos últimos dois meses.

“O mercado tem penalizado nomes de setores superofertados, preocupado com a evolução do cenário competitivo”, disse em entrevista Gabriel Trebilcock, gestor da Ace Capital, com sede em São Paulo.

As ofertas de ações dispararam 38% neste ano, para R$ 89,8 bilhões, incluindo IPOs de R$ 12,4 bilhões, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Com as taxas de juros em níveis mínimos históricos, os investidores buscam melhores retornos em ações e as empresas estão correndo para abrir capital no mercado.

O setor imobiliário, incluindo construtoras, está emitindo um dos sinais mais fortes de perigo com o excesso de oferta. Das 46 empresas que fizeram registro de IPO, 19 – ou cerca de 41% – são deste setor.

Construção Civil
As ofertas de ações dispararam 38% neste ano, para R$ 89,8 bilhões, incluindo IPOs de R$ 12,4 bilhões, de acordo com dados compilados pela Bloomberg (Imagem: Reuters/Rahel Patrasso)

E entre os 11 IPOs deste ano, o de pior desempenho é o da Moura Dubeux (MDNE3), maior incorporadora imobiliária do Nordeste do Brasil. Suas ações caíram 50% desde que a empresa abriu o capital em 11 de fevereiro.

O presidente da empresa, Diego Villar, disse estar confiante de que o preço das ações vai se recuperar.

“Nossas ações caíram porque, como todas as construtoras, paramos de lançar novos projetos no início da pandemia do coronavírus, a fim de preservar caixa”, disse Villar em entrevista. “Mas agora estamos de volta com os lançamentos e as vendas em junho, julho e agosto são as maiores em 18 meses.”

Do R$ 1,1 bilhão captado na oferta pública inicial de ações da Moura Dubeux, 82% foram para o pagamento de dívidas com bancos, incluindo três líderes da operação: Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

Villar disse que isso ajudou a economizar R$ 180 milhões em custos financeiros por ano, e os ativos que haviam sido dados como garantia dos empréstimos agora estão liberados e podem ser vendidos para gerar caixa e lucro imediato.

A rede de drogarias d1000 (DMVF3) também usou os recursos do IPO para pagar dívidas, e teve o segundo pior desempenho este ano.

A empresa sediada no Rio de Janeiro levantou cerca de R$ 424,7 milhões e entregou cerca de metade como pagamento aos credores. Desde o IPO em 7 de agosto, as ações caíram 30%.

A d1000 não quis comentar.

Em terceiro lugar na lista está a Mitre (MTRE3), cujas ações despencaram cerca de 25% desde que levantou R$ 905,7 milhões em 4 de fevereiro.

“Não lançamos nenhum projeto no primeiro semestre, apenas trabalhamos o estoque, que já era baixo”, disse Rodrigo Cagali, diretor financeiro da Mitre, em entrevista. A empresa está lançando quatro projetos neste trimestre, totalizando cerca de R$ 450 milhões, disse ele.

Farmalife d1000
A rede de drogarias d1000 também usou os recursos do IPO para pagar dívidas (Imagem: Divulgação)

“A Mitre vem demonstrando sólidos resultados operacionais e financeiros, com endividamento saudável e robusta posição de caixa”, disse Cagali.

No início deste ano, a construtora de imóveis de baixa renda Direcional (DIRR3) desistiu dos planos de listar ações de sua unidade Riva 9, e a incorporadora You Inc cancelou seu IPO.

Em 1 de setembro, a Lavvi (LAVV3) fixou o preço de sua oferta pública inicial em R$ 9,50 por ação, abaixo da faixa de preço proposta de R$ 11 a R$ 14,50. As ações agora estão a R$ 8,86.

Villar e Cagali afirmam que a queda nos preços das ações de suas empresas não reflete dificuldades específicas das companhias, mas é o resultado das oscilações naturais do setor em um mercado altamente volátil. O índice brasileiro do mercado imobiliário BM&FBovespa Real Estate Index caiu 30% este ano, em comparação à queda de 13% do Ibovespa.

Os IPOs feitos antes do surto de Covid-19 tendem a embutir preços iniciais bem mais altos para as ações das empresas, porque os investidores nunca poderiam imaginar que uma pandemia tão prejudicial à economia estaria por vir, disseram eles.

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