IPOs à vista? Entenda por que potencial nova leva de empresas estreantes na Bolsa será diferente
Desde a boa fase em 2021, o mercado não tem presenciado novas estreantes na Bolsa, o que pode ser explicado principalmente pela deterioração do cenário macroeconômico, com os juros do Brasil saindo das mínimas de 2% para níveis atuais de dois dígitos.
A seca de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) atingiu em cheio a B3. Não à toa, a perda de interesse de empresas que buscam no mercado de capitais uma forma de financiamento para suas operações está ligada ao ciclo de aperto monetário mais recente do país, que chegou a levar a taxa Selic aos 13,75%.
Com o início de flexibilização dos juros em agosto, o cenário pode voltar a ficar mais atrativo para os IPOs, avaliam agentes do mercado. Especialistas veem o movimento acontecendo em breve – bem provável que não em 2023, mas o ano de 2024 traz boas promessas.
Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, levanta que um gatilho importante para as empresas buscarem financiamento na Bolsa é trazer atratividade para a renda variável, o que realmente aconteceu em 2021.
Com o início do processo de flexibilização da política monetária no Brasil, Spiess acredita que uma retomada de IPOs pode acontecer em breve.
Para isso, o mercado precisa navegar na mesma tração vista no segundo trimestre, quando o Ibovespa arrancou para os 120 mil pontos.
“A gente ganhou espaço para não só começar o corte nos juros, como também almejar ganhos maiores”, afirma.
Na mesma linha que Spiess, Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos, destaca que a retomada dos IPOs depende do cenário macroeconômico e de um aumento no volume de capital estrangeiro no Brasil. Por conta disso, o movimento deve engatar apenas em 2024, embora as sinalizações do mercado, como a onda recente de follow-ons, estejam preparando o terreno.
“Estou um pouco cauteloso, mas 2024 tem potencial para ter uma retomada dos IPOs”, afirma.
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Diferente desta vez
O último boom dos IPOs foi marcante para investidores locais. Em 2021, foram 46 empresas se lançando no mercado e movimentando mais de R$ 65,6 bilhões, enquanto os follow-ons (ofertas subsequentes de ações) superaram 25 operações.
O que acabou frustrando boa parte das expectativas do mercado foi o mau desempenho de grande parte dessas empresas, com alguns nomes chegando a perder 80-90% na Bolsa desde a estreia.
Dessa vez, o mercado deve entrar em um ciclo mais saudável, diz o analista da Empiricus.
“Foi o mercado falando: ‘Você não deveria estar aqui.’ Essa é a leitura”, comenta Spiess. “Agora não. Agora, a gente talvez tenha um movimento mais saudável: menor em quantidade, mas com uma qualidade muito melhor.”
Na avaliação de Spiess, embora o ambiente atual seja mais hostil, existe ao mesmo tempo uma “janela” com expectativas mais razoáveis para as empresas. Dessa forma, não existe uma pressão exacerbada sobre a administração para buscar resultado no curto prazo em detrimento do longo prazo, defende.
“Consequentemente, com a economia real ruim, a gente deve ter empresas de melhor qualidade buscando esse tipo de escrutínio”, afirma.
Harada, da Blackbird, avalia que, por parte dos investidores, haverá mais cautela.
“Diferentemente do cenário em que teve uma leva expressiva de IPOs e pessoas entrando, agora, eles [investidores] terão um pouco mais de cautela na análise das empresas”, reforça o especialista.
Harada lembra que a maioria das empresas que chegaram com a onda de ofertas em 2021 sofreu com uma queda expressiva e tem lidado com resultados trimestrais fracos. Isso levanta um ponto de atenção nos investidores, diz.
Nessa próxima retomada de IPOs, os especialistas acreditam que haverá muito mais teses de qualidade, com foco menor em “growth“.
“Estaria com olhos melhores para empresas de setores resilientes, mais defensivos. Até porque o cenário não está todo claro”, comenta Harada. Alguns potenciais setores levantados por ele são energia e construção civil (este último considerando o cenário de queda da Selic, que pode trazer volumes maiores de vendas).
Próximo IPO a caminho?
Neste mês, a 2W Ecobank informou o mercado que engajou o Itaú BBA, o BTG Pactual e o Santander Brasil para avaliar a viabilidade e estruturar um potencial IPO.
Não é a primeira vez que a companhia tenta engatar sua entrada na bolsa brasileira. Bem no meio do boom dos IPOs, em 2020, a 2W Ecobank, na época 2W Energia, entrou com um pedido inicial de companhia aberta junto à Comissão de Valores Imobiliários (CVM). Por conta da piora do mercado, o IPO não andou para frente.
Em fato relevante, a empresa informou que a efetiva realização do IPO em potencial está sob análise da companhia e de seus acionistas, não havendo definição sobre seus termos e condições, incluindo o volume efetivo a ser captado, o preço por ação ou o cronograma para a sua implementação.
Caso o processo siga para frente, a empresa dará fim à seca que persiste desde o segundo semestre de 2021 na Bolsa brasileira.