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IPO de um clube de futebol no Brasil está mais perto de virar realidade, avalia BTG

16 abr 2022, 13:00 - atualizado em 14 abr 2022, 10:58
No Brasil, algumas equipes de futebol estão adotando o modelo de SAF (Imagem: Unsplash/constantinevdokimov)

O Brasil está mais perto de ver uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) de um clube de futebol, afirma o BTG Pactual (BPAC11), em relatório divulgado no início do mês.

De acordo com o BTG, a indústria do futebol passou por mudanças expressivas nas últimas duas décadas. É um negócio com enorme potencial de crescimento, destaca o banco, que atualmente movimenta bilhões de dólares em todo o mundo a cada ano.

No caso do Brasil, o setor está dando seus primeiros passos, mas já é um negócio disruptivo, com algumas equipes adotando o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), que permite que os clubes recebam investimentos e aprimorem seus modelos de gestão para aumentar a rentabilidade e, consequentemente, melhorar o desempenho em campo via investimentos em infraestrutura, tecnologia e elencos.

“Acreditamos que nos próximos meses devemos ver cada vez mais transações no setor, com os clubes adotando o modelo de SAF e reestruturando suas equipes de gestão”, afirmam Carlos Sequeira e Eduardo Rosman, responsáveis pelo relatório do BTG.

De acordo com os analistas, a migração para o modelo de SAFs é uma mudança muito importante para a indústria futebolística, que possui altos níveis de endividamento.

O BTG destaca, no entanto, que algumas mudanças devem acontecer primeiro. A maior delas é a criação de uma liga de futebol.

Por que criar uma nova liga no Brasil?

Apesar de ser um negócio bilionário, a indústria do futebol no Brasil ainda precisa melhorar seu potencial de geração de receita, sustentabilidade financeira e competitividade, afirma o BTG.

Segundo o banco, os times brasileiros continuam muito dependentes da negociação de jogadores, principalmente das transferências internacionais.

O BTG destaca que, na pandemia, esse movimento se intensificou.

“Os clubes foram forçados a vender mais jogadores do que o normal para arcar com os altos custos fixos dos salários quando os fluxos de receita diminuíram”, lembram Sequeira e Rosman.

“Em relação a receita total, alguns poucos times possuem maior participação nas receitas das vendas de jogadores. Embora existam muitas transações envolvendo jogadores brasileiros, a maioria delas é feita a preços relativamente baixos”, complementam os analistas.

A criação de uma nova liga de futebol brasileira, seguindo o modelo europeu, poderia aumentar as receitas e reduzir a disparidade entre os clubes, diz o BTG.

Gastos com transmissões em canais de TV, plataformas de streaming e demais veículos de mídia acabam consumindo parte da receita dos clubes, gerando pior distribuição de renda entre as equipes.

Com a criação de uma nova liga, as equipes poderiam negociar os direitos de transmissão em um pacote, aumentando o poder de barganha e, por consequência, a distribuição de receita para cada clube.

“Além disso, em um modelo de liga de futebol, a melhor distribuição de receitas permite que clubes menores invistam mais em infraestrutura e funcionários”, acrescentam os analistas.

Os desafios da implementação de uma liga

Uma forte governança é crucial para o sucesso de uma nova liga, diz o BTG (Imagem: Reprodução/Redes Sociais)

Alguns times brasileiros, entre eles Cruzeiro e Botafogo, já sinalizaram interesse na criação de uma liga. Porém, para que esse modelo seja implementado e bem-sucedido, ele precisa ser estruturado e ter interesses alinhados.

O BTG destaca que a agenda de campeonatos devem ser discutidas para evitar que a nova liga prejudique outros torneios e gere conflitos entre equipes.

“O Brasileirão leva um total de sete meses, enquanto as ligas europeias costumam durar quase um ano”, lembra o banco.

Uma forte governança é crucial para o sucesso de uma nova liga, diz o BTG. Calendário, negociações de direitos de mídia, eliminatórias para o torneio e implementação de iniciativas de fair play financeiro são diferenciais importantes.

“A mera existência de uma liga de futebol não é suficiente para fomentar a indústria de futebol nacional. A liga deve oferecer um bom produto ao público, às equipes e aos jogadores”, comenta a instituição.

Até o momento, nenhum acordo oficial foi assinado. O BTG acredita, no entanto, que a indústria caminha na direção certa.

“Naturalmente, o processo de negociação dos aspectos operacionais da nova liga, principalmente as regras de distribuição de receita, é complexo”, afirmam Sequeira e Rosman. “No entanto, está ficando cada vez mais claro que todos se beneficiarão com a criação de uma nova liga de futebol no Brasil, pois não apenas a distribuição de receita melhorará, mas o ‘bolo’ de receita disponível para os times também aumentará”.