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IPO da Mitre: pule fora, recomendam 3 analistas (simples assim)

24 jan 2020, 20:14 - atualizado em 24 jan 2020, 22:21
Empreendimento da Mitre Realty
Inflacionada: ação da Mitre está cara para o seu tamanho (Imagem: Divulgação/Facebook/Mitre Realty)

A Mitre Realty tenta convencer os investidores de que pode gerar muita riqueza para quem participar de seu IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês). Mas, no que depender das primeiras manifestações de analistas, o melhor que você pode fazer é ficar de fora. (veja o prospecto da operação no final da matéria)

É raro encontrar unanimidade no mercado, mas essa é a recomendação expressa de três relatórios divulgados nos últimos dias, com letras maiúsculas e em negrito, ou destacadas em vermelho.

Para quem tem dúvidas sobre a clareza dos alertas, basta ler algumas passagens. “Nossa recomendação é de que você fique de fora desse IPO”, afirma a Capital Research. “A nossa recomendação é: fique fora do IPO da Mitre”, diz a Nord Research. “Sugerimos aos nossos assinantes que não participem do IPO da Mitre”, pontua a Empiricus Research.

No geral, os textos elogiam a atual estrutura financeira da Mitre e seu posicionamento de mercado, mas levantam sérias dúvidas sobre a capacidade da construtora de entregar tudo o que prometeu no prospecto do IPO.

Problemas

A primeira ressalva dos analistas é operacional. Após a abertura de capital, a Mitre pretende lançar R$ 1,5 bilhão por ano em Valor Geral de Vendas (VGV) no próximo triênio. O problema é a magnitude desse salto. Os relatórios lembram que a construtora tem bons números, mas numa escala bem menor.

Para se ter uma ideia, a Capital Research lembra que isso é muito mais do que a Mitre lançou entre 2016 e 2018 somados: R$ 637 milhões. É, também, quase o triplo dos R$ 600 milhões que lançou no ano passado.

Imóveis setor imobiliário
Retomada: venda de imóveis voltou a crescer (Imagem: REUTERS/Nacho Doce)

“Vemos um risco muito grande de execução no salto pretendido para o R$ 1,5 bilhão, já que a construtora teria que expandir a sua capacidade produtiva em praticamente 25% ao ano (isso em cima dos lançamentos totais de 2019, de longe o maior patamar da história da companhia)”, resume a Capital.

Na prática, crescer tanto pode significar problemas tão variados, quanto não cumprir os cronogramas de obras (e pagar multas aos clientes por isso), entregar produtos de qualidade inferior para cumprir o prazo e ver as dívidas com fornecedores descarrilar.

Outra questão é mais técnica, porém, bastante compreensível. O prospecto destaca que a Mitre possui o maior ROE (Retorno sobre Patrimônio Líquido, na sigla em inglês) do setor, com 53% no acumulado de nove meses de 2019, ante uma mediana de apenas 5,4% (o valor que divide ao meio as empresas analisadas).

Matemática

Mas há um detalhe nessa conta que muda tudo – e os analistas sabem. O patrimônio líquido da companhia é pequeno (R$ 60 milhões). Logo, dividir o lucro por um número pequeno, encontrando um quociente elevado, não é um grande mérito.

“Vale destacar que o indicador é influenciado, também, pelo baixo patrimônio líquido da companhia — e note que, com a capitalização referente a esta oferta, o patrimônio vai aumentar, jogando assim a rentabilidade para baixo”, lembra a Nord Research.

Even EVEN3
Even: ação de uma das favoritas do setor está mais barata que a da Mitre (Imagem: Money Times/Gustavo Kahil)

Por fim, para tristeza dos coordenadores do IPO, a Mitre não é a primeira construtora a chegar à bolsa. Há rivais com que pode ser comparada, e que não a deixam bem na foto. É a famosa comparação de múltiplos. O mais básico é o P/L (relação Preço/Lucro).

A Capital observa que, mesmo se as ações forem vendidas pelo menor preço proposto (R$ 14,30), o P/L seria de 17,8 vezes. No preço médio de R$ 16,80, a proporção sobe para 20,9 vezes. E, se o IPO for um sucesso e as ações saírem pelo preço máximo sugerido (R$ 19,30), o indicador bate em 24 vezes.

Quero ser grande

Para se ter uma ideia, a Even (EVEN3), a favorita da Capital no setor de construção civil, é negociada atualmente por 17 vezes. “Mesmo no piso da faixa de preço indicativa, a margem de segurança é pequena, tendo em vista outras opções na bolsa, como a Even, nossa top pick do setor”, afirma a casa de análise.

Traduzindo, a empresa quer se equiparar a gigantes do mercado, com um histórico bem estabelecido de execução e geração de valor.

A situação é resumida pela Empiricus Research da seguinte forma: “vemos a Mitre pedindo um preço de ‘gente grande’ (valor de mercado de R$ 1,7 bilhão na faixa média de preço). Mas, em nossa opinião, o preço pedido pela empresa torna o investimento pouco convidativo frente aos riscos de execução do grande salto de volume de lançamentos que a companhia pretende realizar.”

E arremata: “a Mitre pode até se tornar o próximo Neymar, mas já pede o preço do craque do Barcelona, não o do Neymar ‘de 11 anos’ do Santos. Portanto, temos que ser cautelosos, pois podemos terminar com um Jean Chera na carteira.”

Confira o prospecto:

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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