Economia

IPCA: O que impulsiona a inflação no Brasil (e por que ela deve aumentar)

09 fev 2022, 10:18 - atualizado em 09 fev 2022, 10:24
Inflação; dinheiro
Inflação subiu em janeiro (Freepik)

IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 0,54% em janeiro deste ano, registrando a sua maior alta do mês desde 2016. Nos últimos meses, foi acumulada uma alta de 10,38%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta quarta-feira (9).

Diversos fatores levaram o IPCA a aumentar no primeiro mês do ano — e a inflação tem tudo para aumentar também no mês de fevereiro, segundo os especialistas ouvidos pelo Money Times.

Segundo Andre Braz, economista do FGV-IBRE, a alta na inflação pode ser percebida em setores como “vestuário, artigos para decoração de residências, automóveis, entre outros”. Na alimentação, para o economista, a “alta ficou em alimentos in natura, como cenoura, batata e tomate”.

Para ele, por questões sazonais como as férias de janeiro, certas áreas da economia não passaram por altas significativas — o que deve mudar no mês que vem.

“Alguns serviços ficaram até negativos, porque comida fora de casa, aluguel de casa, tudo isso ficou negativo. Já passagens aéreas e táxi por aplicativos, ou ficaram negativos, ou subiram muito pouco. Isso é normal, porque janeiro é o mês das férias e é natural que eles subam menos”, afirma.

Já bens duráveis e semi-duráveis, como automóveis e roupas, segundo Braz, continuam a subir, “o que mostra a pressão inflacionária”.

“Esses setores são muito dependentes de energia, que está cara, e de combustíveis também. Então, se a pressão para a fabricação desses produtos está mais forte, eles ficam mais caros. Com isso, você vê um carro, um vestuário saindo da fábrica mais caro, exatamente pela pressão de custos”, diz. “Se não fossem esses efeitos sazonais compensando a queda das passagens aéreas, entre outros, o índice ainda seria maior”, completa.

Além disso, segundo Paulo Feldmann, professor de economia na USP, é preciso levar em conta que a inflação brasileira não é de consumo, mas sim de oferta.

“A inflação comum, que acontece com frequência, mesmo no Brasil, é a de de demanda, quando o consumo cresce muito, as pessoas saem às compras, não tem produto, e o preço sobe. Dessa vez, não estamos vendo isso, mas sim uma inflação de oferta. Faltam produtos”, diz.

Feldmann também cita outros fatores para o crescimento do IPCA e, mais para a frente, uma alta contínua na inflação. Para ele, “a coisa mais problemática no momento é a gasolina”.

“O preço da gasolina está alto, e ele acaba influindo em quase tudo, porque tudo tem que ser transportado. E a gasolina está em alta porque o barril de petróleo está alto e o dólar também. Em fevereiro, o dólar começou a cair um pouco, e isso talvez seja até benéfico, mas, em janeiro, o dólar ainda estava na faixa de R$ 5,6 ou R$ 5,7, o que impactou o valor da gasolina”, explica.

“E esse impacto, além de tudo, não é só sobre a gasolina, ele irradia em tudo. Quando o dólar está alto, tudo que é importado, fica mais caro, e, infelizmente, a gente importa muita coisa do ponto de vista industrial, de manufatura, como computador, smartphones, remédios, porque a gente não consegue fabricar esses produtos, e o preço, então, fica alto”, afirma.

Feldmann, assim como Braz, também afirma que o preço da energia elétrica no ano passado afetou a inflação em janeiro e que, apesar de a situação ter melhorado em partes, continuará a causar efeitos negativos no bolso do brasileiro.

“Fora isso, a inflação do ano passado foi muito influenciada pelo preço da energia elétrica, que subiu muito no Brasil por conta da seca, da necessidade de colocar em funcionamento as termelétricas, que encarecem muito, e isso acabou repercutindo na economia inteira. Tanto gasolina quanto energia elétrica afetam tudo”, diz.

Sobre o preço dos alimentos, Feldmann destaca o problema na oferta interna de produtos.

“Estamos sofrendo com o problema de que faltam produtos agrícolas e alimentos aqui dentro porque os produtores preferem vender para o exterior do que interiormente, então sobra pouco produto para venda no Brasil, e o preço sobe. A oferta é muito pequena”, afirma.

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E para o mês que vem?

De acordo com o economista da FGV, para fevereiro, não deve ser esperada uma queda expressiva na gasolina. O mês ainda traz as questões de mensalidades escolares, o que deve aumentar o índice inflacionário.

“Para fevereiro devemos ter uma inflação parecida com a que tivemos no mês passado, ela deve oferecer pouca trégua, vamos acumular uma persistência no trimestre que deve sustentar a taxa inflacionária mais alta. A inflação avançou — e isso deve se repetir em fevereiro”, diz.

Feldmann também acredita nisso e faz uma previsão nada otimista para os outros meses de 2022.

“Janeiro foi só uma pequena amostra do que deve acontecer neste ano, que tende a ser muito difícil. A queda na renda do brasileiro tonar impossível o crescimento do país”, conclui.

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