Economia

Dólar nas alturas e economia aquecida pressionaram inflação a estourar a meta em 2024 – e não deve ser diferente em 2025, diz Inter

10 jan 2025, 11:24 - atualizado em 10 jan 2025, 17:29
inflação IPCA
2024 não vai ser o último ano de estouro da meta da inflação (Imagem: Gadini/Pixabay)

A combinação da alta do dólar e da economia aquecida foi determinante para o estouro da meta de inflação em 2024, afirma o economista sênior do Inter, André Valério.

A meta perseguida pelo Banco Central (BC) era de 3%, com uma banda de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. No entanto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,52% em dezembro e fechou 2024 em 4,83%.

Em entrevista ao Money Times, o economista destaca que o impulso fiscal contribuiu para o aumento da incerteza doméstica, que empurrou o dólar para níveis históricos. A moeda atingiu sua cotação recorde em dezembro do ano passado, no patamar de R$ 6,27.

Do lado da atividade, o mercado de trabalho dinâmico e os serviços fortes mantiveram a economia em expansão. A inflação de serviços encerrou 2024 com alta acumulada de 4,78%. 

“O resultado de dezembro reforça a piora da dinâmica inflacionária dos últimos meses, reflexo da deterioração cambial e da economia aquecida”, diz Valério.

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2024 não vai ser o último ano de estouro da meta

Para o economista do Inter, as pressões vistas em 2024 devem seguir no radar em 2025 — ano em que a inflação deve estourar a meta mais uma vez. A desvalorização cambial nos últimos meses, devido ao cenário de maior aversão a risco, deve ser o principal fator para a aceleração da inflação.

Os juros mais elevados nos Estados Unidos (EUA) e a percepção de maior risco fiscal no Brasil devem manter a moeda no novo patamar. Recentemente, inclusive, o Inter revisou a projeção do câmbio para este ano de R$ 5,70 para R$ 6.

A casa espera que o IPCA siga acelerando até o pico de 5,3% em abril de 2025, para fechar o ano em 4,9%. A inflação só deve voltar para dentro do intervalo de tolerância da meta em fevereiro de 2026, sendo que a projeção é que o índice encerre o ano que vem em 3,9%.

Apesar do ceticismo nas projeções, Valério avalia que a nova sistemática da meta de inflação, que passa a valer a partir deste ano, restringe ainda mais o BC em termos de condução à meta.

A metodologia considera a variação do inflação mês a mês. A partir de agora, a autoridade monetária precisará se justificar caso o índice acumulado em 12 meses ultrapasse a meta por seis meses consecutivos.

Além disso, o BC deve se comprometer com um novo prazo para cumprir a meta ao rompê-la, o que coloca mais seriedade no processo. “Tende a tornar o BC menos leniente com a inflação”, diz o economista.

Selic é um ‘remédio amargo’ para inflação

Valério afirma que o resultado fechado da inflação de 2024 não altera a perspectiva da política monetária, que já tem contratadas mais duas altas de 1 ponto percentual (p.p.) até março.

Segundo o economista, a taxa de juro ainda bastante restritiva é uma resposta às expectativas de inflação desancoradas. “Quando o BC perde o controle das expectativas de inflação, é necessário um remédio mais amargo para convencer o mercado do compromisso com a meta”, afirma. 

Mesmo com o choque de juros anunciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na última reunião em dezembro, a desvalorização cambial deve continuar afetando a inflação no curto prazo, bem como as expectativas.

A projeção do Inter é de que a Selic atinja seu pico no patamar de 15% na reunião de maio. No entanto, na contramão do mercado, a casa vê espaço para cortes em 2025, se, de fato, houver um maior controle fiscal e a ausência de choques externos significativos.

Com isso, uma eventual desaceleração da inflação a partir do segundo semestre pode permitir o início do ciclo de cortes de juros nas últimas reuniões do ano. A casa espera que a taxa encerre 2025 em 14%.

Editora-assistente
Editora-assistente no Money Times e graduada em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Entrou para a área de finanças e investimentos em 2021.
giovana.leal@moneytimes.com.br
Editora-assistente no Money Times e graduada em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Entrou para a área de finanças e investimentos em 2021.