IPCA-15 ‘extremamente benigno’ traz maior conforto ao BC e contribui para aperto menor na Selic, dizem economistas
A alta abaixo do esperado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) em setembro traz maior conforto ao Banco Central em relação à inflação corrente, avaliam economistas. O índice subiu 0,13% no mês, desacelerando frente aos 0,19% apurados em agosto.
Ao elevar a Selic para 10,75% ao ano na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) ressaltou a preocupação com o IPCA cheio, assim como com as medidas de inflação subjacente, acima da meta nas últimas divulgações.
Com isso, a atenção estava voltada ao desempenho dos serviços e dos núcleos da prévia do IPCA deste mês.
Os serviços subjacentes vieram zerados nesta leitura, impactados pelas promoções nos cinemas, seguros de automóveis, conserto de automóvel e cabeleireiro. A média dos núcleos também veio abaixo do esperado (0,18%).
Os serviços intensivos em mão de obra surpreenderam para baixo. “Esta foi uma das notícias positivas de hoje. Assim como a nossa métrica de serviços inerciais, que atingiu o ponto mais baixo desde setembro de 2022, na medida dessazonalizada e anualizada de média móvel de três meses, para 3,98%”, diz a estrategista de inflação da Warren, Andréa Angelo.
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“Esperamos que serviços intensivos em mão de obra encerrem o ano em 5,3% e subjacentes fiquem próximos de 5,8%. Fica evidente que, até o momento, o que esperamos daqui para frente é uma piora nesta dinâmica, refletindo as condições favoráveis do mercado de trabalho em que todos os indicadores econômicos ligados à renda e emprego seguem bastante fortes”.
Angelo destaca que a prévia da inflação foi mais fraca que o esperado, justamente por conta de itens pontuais, que devem ser devolvidos nas próximas divulgações. No entanto, ela ressalta que trouxe boas notícias na parte qualitativa.
A estrategista entende que a dinâmica mostrada no IPCA-15 vai em linha com a expectativa de Selic subindo para 11,5% até janeiro de 2025, no ritmo de 0,25 ponto percentual (p.p.). “A inflação corrente segue mais benigna que o previsto anteriormente”, afirma.
Em linha, a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, diz que, embora o dado “extremamente benigno” não impeça que o BC continue a subir os juros, contribui para um ciclo menor.
“Estamos com um ciclo de 1,50 p.p., mas com risco minimizado de um ciclo maior de 2,00 p.p. Esse dado mostra que a inflação ainda não reagiu à atividade econômica mais forte”.
Os grupos do IPCA-15
No grupo de habitação, o principal impacto veio da energia elétrica residencial, que passou de -0,42% em agosto para 0,84% em setembro, com a bandeira tarifária vermelha patamar 1. O destaque também vai para a alta da taxa de água e esgoto (0,38%) e gás encanado (0,19%).
O grupamento de alimentação e bebidas foi a surpresa altista do mês e avançou 0,05%.
A alimentação no domicílio teve variação de -0,01%, com recuo da cebola (-21,88%), batata-inglesa (-13,45%) e tomate (-10,70%) e alta do mamão (30,02%), banana-prata (7,29%) e café moído (3,32%). Também teve alta nos preços a alimentação fora do domicílio (0,22%), em virtude das altas menos intensas do lanche (0,20%) e da refeição (0,22%).
“Esperamos que este grupo reacelere para 0,48% no fechamento de setembro e atinja altas de mais de 1% no último bimestre do ano, em razão da carne bovina. Para o ano, o grupo carnes deve apresentar alta de 4%. No mesmo sentido, vemos os alimentos no domicílio terminarem mais próximo de 6,5%”, diz Angelo, da Warren.
Os outros três grupos que registraram altas no IPCA-15 de setembro foram saúde e cuidados pessoais (0,32%), artigos de residência (0,17%), vestuário (0,12%), educação (0,05%) e comunicação (0,07%).
Apenas despesas pessoais (-0,04%) e transportes (-0,08%) apresentaram queda. Neste último, o resultado foi influenciado pela gasolina (-0,66%). Em relação aos demais combustíveis (-0,64%), o etanol (-1,22%) recuou, enquanto o gás veicular (2,94%) e o óleo diesel (0,18%) subiram. As passagens aéreas registraram aumento nos preços (4,51%).