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Investindo em blockchains alternativos (parte 3): Burst

15 fev 2020, 11:00 - atualizado em 11 fev 2020, 15:30
Burst quer ser um blockchain sustentável, com pouco gasto de energia e transações escaláveis (Imagem: Twitter/BurstFlash)

Este é o terceiro de três textos de uma série em que Andrew Gillick, da Brave New Coin, fala sobre blockchains alternativos nos quais você pode investir, fora os blockchains já consolidados do Bitcoin e da Ethereum.

Parte 1 / Parte 2 / Parte 3

Burst tem muito a provar como um adversário autoproclamado para uma forma globalmente adotada de criptoativos, que se vangloria mais do que IOTA, Hashgraph e Nano, com transações sem taxa e transações “infinitamente escaláveis” por segundo.

Burst, considerada “o Linux do Blockchain”, é uma tecnologia três em um: a primeira camada é um blockchain, em que “tangles” (“emaranhados”) no estilo do IOTA são desenvolvidos nele e, nesses emaranhados, usa a tecnologia da Lightning Network para criar canais de pagamento. Juntos, são as inovadoras camadas “dymaxion” (junção, em inglês, das palavras “dinâmica”, “máxima” e “tensão”).

Burst é muito comparado ao IOTA e até usa muita de sua terminologia em seu whitepaper para explicar como sua camada dymaxion é superior ao emaranhado, usando um consenso proof-of-capacity (em que mineradores computam e armazenam as soluções dos problemas de mineração antes dela acontecer).

O primeiro whitepaper do IOTA foi publicado em junho de 2017. Apesar de o Burst existir desde 2014, seu whitepaper dymaxion foi publicado no fim de 2017. O documento tenta se aprofundar sobre a tecnologia tangle e explica o protocolo de onde o whitepaper do IOTA surgiu: “a implementação concreta do protocolo IOTA não é discutida”.

De forma interessante, Burst e IOTA possuem a mesma árvore genealógica do desenvolvedor da plataforma NXT, conhecido como Come as Beyond (“Vindo do além”), ou mais conhecido como Sergey Ivanchelgo, cofundador do IOTA.

IOTA vs. Burst

Enquanto IOTA é construído em um tangle, Burst afirma ser “capaz de ter milhares de emaranhados sendo executados, simultaneamente, como canais de pagamento”.

O whitepaper Burst confia que seu protocolo dymaxion é uma grande evolução do tangle do IOTA que vai além e afirma: “um IOTA no futuro nunca poderia sobreviver ao dymaxion, mesmo em sua forma inicial”.

Visão simplificada do Tangle do IOTA

No entanto, Burst recorre ao tangle IOTA (gráfico acíclico direcionado, ou DAG) para microtransações em IoT (transações de máquina para máquina), unificando os papéis do emissor e do verificador de transações para que um nó realize as duas tarefas; um remetente de transações deve verificar duas transações não confirmada antes de poder enviar a transação.

Isso assegura a rede e incentiva a escalabilidade conforme mais pessoas enviam transações e a rede se torna mais rápida. O oposto ocorre em blockchains como o do Bitcoin, onde emissores e verificadores de transações são duas entidades distintas e, além disso, a velocidade de transações é limitada pela quantidade de nós-verificadores na rede, dentre outros fatores.

Nós podem monitorar a atividade de seus colegas e os “nós preguiçosos”, que não se dão ao trabalho de verificar transações, vão ser abandonados por seus vizinhos.

Burst vai ser o primeiro protocolo com camada proof-of-capacity em que qualquer um pode abrir um canal de pagamento e criar sua própria forma de pagamento (como, por exemplo, os “Starbucks dollars”, que servem como um vale-presente para ser gasto na loja).

Com a camada dymaxion, o blockchain é usado para abrir e fechar tangles descritos como “Lightning Networks baseadas em tangle”, onde um usuário pode configurar suas próximas preferências para a rede: transações anônimas ou públicas, tamanho da rede, requisitos de validação, a duração de tempo em que a rede será aberta e até mesmo escolher entre protocolos de consenso — proof-of-work e proof-of-stake são duas opções, mas proof-of-capacity é a mais preferível).

Visão simplificada da Lightning Network descentralizada (com núcleos centralizados)

Negociando moedas do Burst

O blockchain Burst opera como um blockchain de contabilidade, em que usuários (emissores de uma moeda criada no Burst) podem abrir sua própria rede dymaxion-tangle. Os usuários desses canais de pagamento podem ser pessoas, empresas, bancos etc.

Quando uma moeda é emitida, uma cor é atribuída para destacar que classe é (utility token, ação, título ou até mesmo um valor mobiliário que represente ativos do mundo real).

Abrir um tangle na rede é um processo gratuito, apesar de que o criador deve alocar uma determinada quantia de Burst como garantia, que não pode ser gasta até a rede ser encerrada.

Burst também oferece interoperabilidade com moedas de outros blockchains usando ACCT (negociação atômica entre blockchains). Moedas podem ser trocadas na corretora Burst por ativos para uma ampla gama de aplicações, e Burst é capaz de tokenizar qualquer coisa que possua valor.

A corretora Burst lista tokens para pools de mineração, fundos de pensão, fazendas de mineração cripto, sites de apostas cripto, etc.

Traçado e mineração

O protocolo de consenso da Burstcoin é proof-of-capacity, antes chamado de proof-of-space por conta da quantidade de memória exigida do hardware de usuário, em contraste ao proof-of-work, que requer poder computacional.

Burst foi criado para ser utilizado em um disco rígido e não exige fazendas de mineração externas, placas de ASIC (circuitos integrados de aplicação específica) ou de GPU (unidades de processamento gráfico), então existem poucas barreiras para forjamento (mineração) na rede.

Comuns para DAGs, ambos os protocolos abdicam da mineração de moedas apesar de usarem um elemento do proof-of-work.

No IOTA e no Burst, a fim de evitar spam, assim como o Nano, usam o algoritmo de hashing SHA256, também usado no proof-of-work do Bitcoin, que requer que os mineradores “tracem” (computem) e armazenem soluções de um quebra-cabeças de mineração em seu disco rígido antes da mineração começar em vez de serem computadas imediatamente como no Bitcoin.

Um “traçado” é um arquivo que contém hashes pré-computados que podem ser usados para forjar blocos no blockchain Burst.

O minerador que fornecer a solução de hash para um bloco, no menor tempo possível, ganha a recompensa e cria o próximo bloco.

Então, com o algoritmo proof-of-capacity, quanto mais soluções (traçados) forem salvos em um disco rígido, maior a probabilidade de se tornar o minerador mais rápido.

Intervalos entre blocos são de quatro minutos, em comparação aos dez minutos no Bitcoin. O espaço necessário para o traçado de um nó na rede é de 1 a 5 GB e nós também podem validar transações.

Gerar arquivos de traçado cria um “nonce”. Cada nonce contém 256KB de dados que podem ser usados por mineradores no prazo de cálculo de transações. Um arquivo de traçado pode conter vários nonces. Cada nonce terá 8,192 hashes e estes são agrupados em pares chamados de “scoops”.

Portanto, 4,095 scoops são criados desses nonces e seus números serão utilizados no cálculo de uma unidade de tempo chamada “prazo final”, que é o menor tempo entre criações de bloco.

Segurança: ataques de 33%

IOTA e Burst diferem nos algoritmos de hash utilizados para evitar ataques combinados de nós: o tangle usa Markov Chain Monte Carlo (MCMC) como seu algoritmo de seleção de pontas (transações não confirmadas) e o dymaxion usa um algoritmo de consenso bizantino, parecido com o do Hashgraph.

Embora os limites de segurança de cada método em uma rede sejam teóricos, o limite máximo para a quantidade máxima tolerável de nós maliciosos na rede dymaxion é de cerca de 33%, além de a validação de transações exigirem medidas adicionais de seguranças. IOTA tem um vetor de ataque parecido: 34%.

O ataque de 51% é o amplamente conhecido nos blockchains clássicos. No entanto, já que não há mineração envolvida nas redes tangle, a métrica para dominar a rede não é o poder de hashing de um invasor (assim como um ataque de 51% ao Bitcoin), mas sim quantos nós podem ser invadidos ao mesmo tempo.

Por conta da direção aleatória das conexões entre os nós em um tangle (diferente das conexões sequenciais em blockchain), fornece segurança extra que um ataque seja realizado a partir de todos os lados em escala global para dominar a rede por inteiro — um “ataque onipresente”. É claro, a advertência é para a rede se tornar grande o suficiente para deter um ataque.

Justiça

Burst sugere que proof-of-capacity é mais justo do que proof-of-stake em termos de staking com o algoritmo proof-of-stake, em que alguém pode ganhar controle proporcional da rede (mineração e votação) se tiver mais tokens retidos.

Apesar de proof-of-capacity ser mais intenso em questão de espaço, Burst afirma que mais memória computacional não resulta em vantagem já que a validação da transação é de primeiro ajuste (“first fit”), então um nó com espaço de traçado de 1GB tem a mesma chance de encontrar o hash correto que um nó com 1TB.

No entanto, isso não se aplica caso você consiga obter mais traçados com memória maior.

Além disso, não existe ganho para nós aglomerarem mais espaço de proof-of-capacity para validação já que isso não dará a eles mais “poder de validação”, então não há vantagem em ter placas de ASIC ou GPU.

“A validação proof-of-capacity é um problema de satisfabilidade de limite mínimo, pois ou é solucionado ou não. Caso um minerador com centenas de TB em traçados de proof-of-capacity decidir usá-las para validação de transações no tangle (considerando que haja mais regras do exceções), não vai dar a ele mais poder do que um nó comum de 1 a 5 GB, já que a pesquisa de validação de transações no proof-of-capacity é de primeiro ajuste.”

Uma rede de transações realmente global e escalável?

Assim como Hedera Hashgraph e a IOTA Foundation, Burstcoin estabeleceu o PoC Consortium para lançar sua rede global exaltando seus benefícios de eficiência de energia, mais justiça e descentralização de mineração em relação a proof-of-work e proof-of-stake.

IOTA anunciou dezenas de parcerias, com diversas empresas, mas ainda não teve casos de uso comprovados. Qora é um dos projetos construídos na rede Burst, mas foi abandonado e suas métricas de preço são desconhecidas.

Burst tem uma capitalização de mercado de US$ 8,6 milhões e existem 2.081.954.779 de BURST em circulação do fornecimento total de 2.158.812.800 (Imagem: Brave New Coin)

Burst tem muito a provar como um adversário autoproclamado para uma forma globalmente adotada de criptoativos, que se vangloria mais do que IOTA, Hashgraph e Nano, com transações sem taxa e transações “infinitamente escaláveis” por segundo.

Teoricamente, um bloco é criado a cada quatro minutos e pode executar 225 transações, ou seja, criar 225 nós que poderia permitir que bilhões de transações por dia fossem realizadas.

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