Investindo em blockchains alternativos (parte 2): Nano
Este é o segundo de três textos de uma série em que Andrew Gillick, da Brave New Coin, fala sobre blockchains alternativos nos quais você pode investir, fora os blockchains já consolidados do Bitcoin e da Ethereum.
Cumprindo com a promessa de seu whitepaper, NANO foi classificada como a mais rápida das criptos por período de transação na Binance, mas seu péssimo preço não refletiu essa performance: seria essa a melhor tecnologia de transação?
Até no parque de diversões que é a criptolândia, investidores de Nano estiveram em uma montanha-russa de revirar o estômago.
A criptomoeda, anteriormente conhecida como Raiblocks, abriu capital em 2017 ao preço de 0,0091. Desde então, esteve em uma subida parabólica de níveis recordes em janeiro de 2018 apenas para retroceder bastante para um preço atual de US$0,68430.
Após notícias da repaginação da marca Nano no fim de janeiro, a criptomoeda aumentou 40% em 24 horas.
O panorama geral da Nano
O único propósito do projeto era ser uma moeda de alto desempenho, elogiando suas transações em uma fração de segundo e sem taxas, tornando-a na criptomoeda principal para transações de clientes”.
Nessa questão, cumpriu com a promessa de seu whitepaper, já que, no fim de junho de 2018, Nano foi classificada como a mais rápida de todas as criptomoedas em intervalos de transação pela Binance, com intervalos entre blocos levando três segundos para confirmar cada transação.
Nano ficou na frente da Stellar Lumens (XLM), com cinco segundos, e da Ripple (XRP), com dez segundos.
Com um tamanho de registro de cerca de 2 GB, é relativamente pequena — dado o tamanho de sua rede (Ethereum possui mais de 1 TB) — com a ideia de que hardware de baixo uso de energia diário pode ser executado como nós com o registro completo ou um histórico reduzido, contendo apenas as últimas transações para promover a descentralização.
Nano vs. Hashgraph
Uma boa forma de avaliar o gráfico acíclico direcionado (DAG) da Nano é por meio de uma comparação com a Hashgraph, e com uma visão superficial à estrutura de sua rede, pode ser difícil apontar as diferenças entre ambas.
Para entender as diferenças, precisamos entender as nuances na terminologia do diagrama.
Em diagramas de DAG, as conexões que unem os círculos são basicamente ligações entre transações, enquanto no diagrama da Hashgraph, liga o histórico das comunicações anteriores (fofoca sobre fofoca) entre os nós da rede.
Além disso, enquanto Nano foca em validar as transações sendo enviadas e recebidas, Hashgraph é focada em manter a ordem correta, ou “justiça”, em que as transações foram submetidas para certificar a precisão de processamento.
No Hashgraph, as margens (ou linhas de conexão) comunicam os vértices (círculos) de ocorrência de transação entre os nós (Bob, Alice etc.) como sinapses no cérebro, transmitindo informações para neurônios. Os vértices (círculos) no gráfico são as ocorrências (informações de pagamentos) que aconteceram e a informação é disseminada por meio do protocolo de fofoca sobre fofoca.
Cada ocorrência contém hashes dos eventos abaixo e é digitalmente assinado por seu criador, além de assegurar, criptograficamente, o gráfico com hashes.
Transações
Transações tanto em NANO como no Hashgraph são assíncronas, o que significa que mais de uma conta pode transferir para a mesma conta de destino e o remetente não precisa esperar por uma resposta do destinatário antes de começar a trabalhar em outras tarefas de processamento, assim, acelerando a rede.
Escalabilidade só é limitada por banda larga. Em junho de 2018, Nano também lançou sua carteira móvel de código aberto, que tornará fácil aos usuários realizarem transações uns com os outros fora da corretora.
Apesar de não haver mineração em Nano, um grau de proof-of-work é usado ao enviar transações para evitar spam.
Para tornar economicamente inviável uma entidade nociva enviar milhares de transações falsas, remetentes de transações em Nano devem gastar energia/dinheiro para resolver um quebra-cabeças criptografado, similar ao Hashcash.
Hashgraph afirma que a velocidade de transações por segundo (TPS) nas casa dos centenas de milhares. Por outro lado, Nano começou mais conservativamente com uma velocidade estável de 7 mil tps, apesar de as possíveis velocidades serem maiores do que isso.
O whitepaper do Nano descreve como realiza transações instantâneas:
“Já que cada conta tem seu próprio blockchain, atualizações podem ser realizadas de forma assíncrona para o estado da rede. Assim, não existe intervalo entre blocos e transações podem ser publicadas instantaneamente.”
No Hashgraph, cada nó (Bob, Alice etc.) da rede tem seu próprio “chain” pelo qual passa nos pacotes de informações ocorrências por meio da disseminação de fofoca sobre fofoca. Cada membro da rede deve manter um “chain” ao menos que tentem espalhar ocorrências falsas, criando, assim, bifurcações (forks) ou ramos no “chain”.
O Hashgraph do Nano ainda não foi testado em uma rede pública e é um protocolo patenteado que, para os “criptopuritanos”, é similar a uma rede privada/permissionada, enquanto Nano é um protocolo de código aberto sendo executado em mais de 500 nós públicos.
Como ainda vai ser lançado “publicamente”, o número de nós no Hashgraph é desconhecido, apesar de ter a ambição de milhares e, no futuro, milhões de nós em todo o mundo.
Votação na rede
O processo de votação dos stakeholders é, talvez, onde ambos os projetos possuem grande similaridade. Nano usa representante (nós), que enviam votos apenas no caso de uma bifurcação na rede.
Parecido com o proof-of-stake delegado (DPoS), detentores de conta que não podem participar da votação por questões de conectividade podem eleger um representante para votar por eles com a ponderação de seu balanço (moedas nano). Cada conta pode nomear um representante.
Com Hashgraph, stakeholders (detentores de moedas hashgraph que não executam um nó) podem influenciar o consenso ao procurar seu voto (proxy vote) em um nó de consenso. A ponderação do voto desse nó no algoritmo de consenso é proporcional ao staking mais a soma dos votos transmitidos a eles.
No Nano, a ponderação do voto de um representante também é proporcional para seu próprio stakeholding (criptomoedas retidas), mais procurações (proxy vote) e a métrica para um bom representante tem alto tempo operacional e uma carteira armazenada localmente contendo contas que outros usuários podem delegar.
Cada conta nomeia um representante. Maximizar o número e a diversidade dos representantes do Nano aumenta a resiliência da rede como também sua descentralização.
Governança e descentralização
Junto com seu elogio da Binance, a comunidade Nano teve outra vitória em seguida, quando atingiu “verdadeira descentralização” na dispersão de ponderação de votos entre seus representantes, em que desenvolvedores de stakeholding no Nano foi reduzida abaixo de 50%.
Isso aconteceu quando a Binance, cuja corretora totaliza por 73% da liquidez de negociação global do Nano, escolheu seu próprio representante de carteira para seus ativos (um stakeholding ponderado de 21,26%), assim reduzindo os ativos da equipe principal da Nano (“representantes oficiais”) para 33%.
Os três principais stakeholders agora possui 33% (total de “oficiais” do nano), 21,26% (Binance) e 14,47% (Nanowallet).
Apesar de serem chamados de “representantes oficiais”, os nós dos desenvolvedores da Nano não têm direitos especiais de votação ou de governança na rede.
O Hedera Hashgraph Council, um comitê com 39 membros (empresas corporativas) que governa a rede Hashgraph, vai ter a maioria do stakeholding, para certificar que nenhuma única parte com interesses próprios pode controlar o processo de votação.
No entanto, Swirdls, empresa que licencia a tecnologia da Hashgraph, vai ter permanência indefinida no comitê, e o restante dos membros terá permanência de 2 a 3 anos.
O que desenvolvedores de blockchain dizem sobre DAGs
Desenvolvedores de blockchains “clássicos” são inevitavelmente mais céticos sobre projetos gráficos. Conforme falamos na parte 1, Dan Larimer, fundador da EOS, está preocupado com a validade e qualidade de centenas de milhares de transações que a Hashgraph propõe a realizar por segundo.
Quando perguntado se DAGs no protocolo IOTA poderiam solucionar os problemas de escalabilidade e de consumo de energia do blockchain, Vitalik Buterin, fundador da Ethereum, disse: “Eles têm valor na redução de latência. Você pode desenvolver sistemas em que a latência diminui de, digamos, 14 segundos da Ethereum para, possivelmente, um segundo com uma perda bem baixa de descentralização. O que eles não solucionam é o problema de escalabilidade. O motivo pelo qual a escalabilidade de blockchain é difícil é porque em todos os designs atuais em um blockchain, todos os computadores têm de processar cada transação. Isso se aplica se você está construindo um blockchain. Isso se aplica se você está construindo um hashgraph”.
DAGs don’t solve any fundamental scalability problems. They solve latency problems at best, and in general I think DAG tech is overhyped.
— vitalik.eth (@VitalikButerin) June 10, 2018
Em uma apresentação sobre o futuro dos criptoativos no Google HQ em londres, Charles Hoskinson, fundador da Cardano e cofundador da Ethereum, quando perguntado se ele pensava que o Hashgraph era a próxima inovação em cripto fora de seu próprio roadmap. Ele foi direto em sua resposta:
“Em termos de coisas como Hashgraph, você me pergunta, existe muito hype sobre DAGS, galera, e hype sobre 10 mil transações ou 100 mil transações por segundo, e a minha opinião é que a maioria desse negócio é lixo, ou porque foi aplicado em um ambiente muito irreal ou porque não tem um perfil adequado de investidor ou porque o protocolo foi criado sem resistência bizantina ou, você sabe, você tem agentes bizantinos ou falhas no protocolo. E sou muito cético com coisas como IOTA, que é baseado em uma tecnologia chamada Tangle ou Hashgraph, é que você vê uma onda de hype junto com ela. O ICO vem, enchem os bolsos de dinheiro e as pessoas psicologicamente compram essa ideia, e ninguém se importa em analisar se o que foi implementado é certo ou errado. O outro ponto é que você não precisa construir um sistema onde um chain executa 100 mil ou 200 mil transações por segundo. Para falar a real, você está fazendo isso errado porque se você tem todo esse poder bruto de processamento, como você move todos esses dados?”
O futuro
Seu disparo de preço e uma ação coletiva do hack BitGrail, confiança na comunidade Nano teve um impulsionamento após os resultados da Binance e o lançamento muito antecipado da carteira móvel do Nano.
A atividade de desenvolvedores ainda é relativamente saudável, apesar de estar bem longe em comparação à Ethereum e EOS.
Apesar de uma modesta capitalização de mercado, sua descentralização melhorada, uma comunidade ativa no GitHub e sua utilidade como a moeda mais rápida são ótimos critérios para listagem na Coinbase.
Também é uma das poucas criptomoedas que está em circulação completa, com o fornecimento total de 133 milhões estando disponível — o que mitiga um risco comum relacionado a cripto para investidores.
Sem muito marketing ou hype, Nano conseguiu atingir seu objetivo e fazer muito mais do que projetos extravagantes falharam em fazer.