Investimentos: agro exportador é menos sensível ao risco Brasil, com risco externo no radar
Os cenários para investimentos no Brasil parecem que se dividem em dois caminhos. Para o agronegócio mais dependente do mercado externo, a sensibilidade ao risco já vinha menor mesmo antes das reformas estruturais entrarem em rota de aprovação como está agora. Para os setores secundário e terciário, onde a economia interna é mais determinante, a aversão ao risco mostra-se maior.
Naturalmente, as operações internas sofrem com o impacto dos desequilíbrios fiscais e a alta carga tributária – e portanto a soja e outras commodities carregam nas exportações o custo Brasil –, mas boa parte das receitas não vêm em reais de uma economia achatada e com alto nível de desemprego.
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings, concorda que aparentemente há “um Brasil urbano e outro do campo”, mas que ambos agora estão se encontrando com o risco externo, sob a guerra comercial Estados Unidos-China assumindo contornos mais graves e levando a perspectiva de resolução para mais para frente.
“Com a possível aprovação da Previdência no Senado e entrada em debate da (reforma) tributária, o ambiente podia começar a melhorar mais até o final de ano para investimentos, mas agora temos que monitorar o impacto externo”, explica Agostini.
De reflexo mais imediato, lembra Agostini, tem-se o câmbio, e num ambiente mais grave, a deterioração da economia mundial.
O comportamento do dólar até ajudou nos vários resultados positivos de empresas do agronegócio com ações em bolsa, no segundo semestre, como o visto semana passada da BRF, quando notou-se que a janela de exportações foi em boa parte responsável (veja acima em Leia também análise de Money Times). E veja que neste caso específico, a companhia também está focada no mercado interno.
Como é o exemplo dos frigoríficos de bovinos habilitados para exportação. Com um pé nos dois lados, mas com resultados crescentes nas exportações – e puxando investimentos na pecuária, com animais melhorados. E melhor ainda em setores pouco dependentes de negócios no Brasil, como a soja, que seguem atraindo investimentos na cadeia produtiva, a exemplo do anunciado recentemente pela chinesa Cofco, algumas agroquímicas e outras em logística.
Mas o estresse internacional está mais instalado no segundo semestre, reforça o economista da Austin, para quem o andamento da economia interna favorável também vai ajudar mesmos em setores com maior grau de internacionalização. “A demanda interna está muito represada”, argumenta.
E deverá ficar mais, com o carrego de um PIB do primeiro semestre com dados ruins, que deve ser conhecido nos próximos dias.
De todo modo, de carona no cenário menos sensível ao risco interno, há melhores expectativas do agronegócio dar uma reposta mais rápida à aprovação das reformas do que a indústria de um modo geral, admite Alex Agostini. As taxas de investimentos no Brasil, puxadas pela setor terciário, é uma das mais baixas em 20 anos, reforça.
Quanto ao risco político, do País caminhar para um ambiente radicalizado pelo estilo e ações do presidente Jair Bolsonaro, ainda há em jogo a pressão positiva das reformas sobre a economia, ao contrário de 2014 (com o movimento Catraca Livre), e depois com as manifestações pelo impeachment. “A crise econômica estava instalada”, acentua o economista-chefe da Austin, enquanto aparentemente agora há algum sinal mais claro de que poderá ficar trás. “Além disso, há a equipe econômica por trás”, complementa.
Paulo Guedes e os demais membros funcionam agora como vacina contra o Palácio do Planalto quando as empresas ponderam investimentos.
Em 2020, no entanto, com eleições municipais, o retrato político também deverá se monitorado.