Economia

Investimento vai desacelerar no 3º tri e manter cenário de economia em marcha lenta, dizem analistas

29 ago 2019, 16:24 - atualizado em 29 ago 2019, 16:29
Infraestrutura
Se essa medida foi o destaque do PIB entre abril e junho, é provável que o consumo das famílias seja o motor principal da atividade no terceiro trimestre (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

O investimento na economia brasileira surpreendeu positivamente no segundo trimestre ao cravar a maior taxa de crescimento em seis anos, mas analistas veem esse movimento mais como respiro do que como um sinal consistente de recuperação, o que mantém cenário-base de economia lenta e em retomada apenas gradual.

Já no terceiro trimestre a expectativa é que o aumento de 3,2% na chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) desacelere. De forma geral, a FBCF mede os investimentos em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação.

Se essa medida foi o destaque do PIB entre abril e junho, é provável que o consumo das famílias seja o motor principal da atividade no terceiro trimestre.

“Mas o consumo já vem se recuperando nos últimos trimestres. A questão da economia não é consumo, é investimento”, disse Luka Barbosa, responsável pela cobertura de atividade econômica no Brasil do Itaú Unibanco.

Um dado que mantém economistas preocupados é a chamada taxa de investimento –FBCF sobre o PIB total. Segundo o IBGE, essa proporção ficou em 15,9% no segundo trimestre, ligeira alta ante os 15,5% dos três primeiros meses do ano (menor patamar em meio século) e bem abaixo dos cerca de 20% em 2013, antes de o Brasil enfrentar a pior recessão de sua história moderna.

Barbosa, do Itaú, chama atenção para a volatilidade dos números do investimento. A alta de 3,2% no segundo trimestre sobre o primeiro (com ajuste sazonal) se seguiu a quedas de 1,2% entre janeiro e março, de 1,6% nos últimos três meses de 2018 e de alta de 5,0% no terceiro trimestre do ano passado.

“Com 20% dos dados utilizados para projetar o PIB divulgados até agora, temos uma estimativa preliminar de contração de 0,2%”, disse Barbosa. “Definitivamente o dado melhor do PIB no segundo trimestre não representa aceleração da economia”, completou.

O Itaú mantém projeção de alta do PIB de 0,8% em 2019, em linha com a taxa mostrada pela sondagem Focus do Banco Central, considerando a mediana das estimativas de cerca de uma centena de analistas.

A XP Investimentos tem uma projeção um pouco melhor, de 0,9%. O economista Marcos Ross, frisou o efeito da contenção fiscal do governo e dos Estados como elemento a pressionar a taxa de investimento na economia, cuja recuperação, para ele, precisa passar antes pela normalização dos níveis de ociosidade da atividade. O nível de utilização da capacidade instalada (NUCI) para agosto está em 75,8%, segundo a FGV.

Um dos setores de maior destaque positivo no segundo trimestre, a atividade na construção civil foi mais guiada por linhas muito específicas, como empreendimentos voltados ao segmento de alto luxo, segundo Ross, o que indica uma retomada de certa forma ainda frágil e sujeita e solavancos.

A XP ainda vê crescimento de 0,4% do PIB no terceiro trimestre ante o segundo, mesma taxa esperada pelo Banco MUFG Brasil. Mas para a instituição estrangeira a composição desse crescimento é que mudará, com maior influência positiva do consumo em detrimento dos investimentos.

“Não vemos elementos para continuidade desse crescimento nos investimentos neste trimestre”, afirmou Mauricio Nakahodo, economista do MUFG.

Nakahodo, no entanto, ressalvou que o risco é de uma expansão mais fraca mesmo no PIB geral no terceiro trimestre, na esteira de alguns dados mais negativos na indústria.

“Além disso, o aperto das condições financeiras com a alta do dólar e dos juros (de mercado) pode impactar um pouco”, completou, minimizando o efeito sobre a atividade já no terceiro trimestre da liberação de recursos do FGTS e do PIS/Pasep, com início previsto em meados de setembro.

Para além da debilidade do investimento, analistas citaram que a economia geral pode ser ainda impactada pelo cenário de maior incerteza no plano global, com desaceleração em economias centrais que são importantes consumidores de produtos brasileiros, como a China.

“As exportações vão sofrer pressão adicional pela escalada da turbulência na Argentina e sobretudo pelas tensões da guerra comercial (EUA-China)”, disseram estrategistas do Citi em nota a clientes.

“Dito isso, vemos riscos mais elevados de nossa projeção de crescimento do PIB”, completaram. O Citi projeta taxa de crescimento de 0,7% em 2019 e 1,8% em 2020.