Internacional

Investidores não veem guinada do Fed e se preparam para mensagem “hawkish” de Powell em Jackson Hole

24 ago 2022, 8:29 - atualizado em 24 ago 2022, 8:29
Chair do Fed, Jerome Powell, durante coletiva de imprensa, em Washington, EUA
O Fed, na ata da reunião de julho, disse ter visto “poucas evidências” de que as pressões inflacionárias diminuíram, mas reconheceu o risco de que possa apertar demais a política monetária (Imagem: REUTERS/Elizabeth Frantz)

Investidores se preparam para ouvir o Federal Reserve reafirmar seu compromisso de conter a inflação e esperam que o chair Jerome Powell transmita uma mensagem dura de aperto monetário e evapore esperanças de um corte de juros no próximo ano na reunião anual de bancos centrais em Wyoming nesta semana.

O evento de Jackson Hole, Wyoming, ocorre depois que investidores na semana passada avaliaram que a ata da reunião de julho do Fed sinalizaram uma abordagem “dovish” (flexível com a alta dos preços) e como um sinal verde para colocar algum risco de volta na mesa.

O mercado de ações inicialmente resistiu e os rendimentos dos títulos ficaram estáveis, antes que os mercados reconsiderassem essa interpretação.

O discurso de Powell na manhã de sexta-feira pode consolidar o tom do mercado até a próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) no próximo mês.

“Se Powell disser algo ‘hawkish’ (rigoroso contra a inflação) e se você comprar ações ou moedas de mercados emergentes, você perderá 3% antes que possa piscar os olhos. Então ninguém está tomando risco agora no período que antecede Jackson Hole”, disse Steven Englander, chefe de pesquisa global de câmbio para G10 e de estratégia macro para a América do Norte no Standard Chartered em Nova York.

O Fed, na ata da reunião de julho, disse ter visto “poucas evidências” de que as pressões inflacionárias diminuíram, mas reconheceu o risco de que possa apertar demais a política monetária e conter a atividade econômica.

Contratos futuros de taxas de juros que têm como ativo-objeto o juro do Fed precificavam 51% de chance de alta de 0,50 ponto percentual nos custos dos empréstimos no próximo mês, com a taxa básica de juros indo a 3,6% até o fim do ano.

Uma semana antes da divulgação da ata, na última quarta-feira, o mercado futuro de juros havia considerado incremento de 0,75 ponto percentual.

Os futuros de eurodólar embutiam pelo menos um corte na taxa básica entre março e dezembro de 2023, com a diferença de rendimento entre os dois contratos de aproximadamente -44 pontos-base na segunda-feira.

O pico da taxa de juros é visto em 3,9% em março, mostravam os futuros do eurodólar.

Ainda assim, o mercado de títulos precifica um quadro de inflação menos terrível.

A inflação implícita, que mede a diferença entre o retorno dos Títulos Protegidos da Inflação dos EUA (Tips) e as taxas nominais dos Treasuries, está em declínio desde meados de junho nos vencimentos de um a 30 anos, mostraram dados da Refinitiv.

Menos antecipação de altas dos juros?

Englander, do Standard Chartered, acredita que o Fed fará o que for preciso para reduzir a inflação à sua meta de 2%, mas não entregará todos os aumentos de juros nas próximas reuniões.

“Eles podem dizer algo como: vamos subir (os juros) o quanto for necessário, o mais alto que for necessário, mas não precisamos fazer isso nas próximas duas ou três reuniões”, disse Englander.

“O mercado está panicando à medida que nos aproximamos de Jackson Hole”, disse Englander.

Alguns participantes do mercado acreditam haver espaço para o banco central reduzir seu ritmo de aperto monetário porque a economia dos EUA está em desaceleração.

O Fed, porém, pode não dizer isso em Jackson Hole.

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