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Investidores estrangeiros lideram movimentação na B3 em 2024, apesar de fuga de capital e queda do Ibovespa

17 jan 2025, 10:10 - atualizado em 17 jan 2025, 14:58
ações ibovespa investidores
A expressiva participação dos investidores estrangeiros no volume total não se traduziu em estímulo ou valorização do mercado acionário. (Imagem: Bigc Studio)

Os investidores estrangeiros ampliaram sua participação no volume financeiro negociado na B3 em 2024, atingindo 55,8%, o maior patamar desde 2019.

No entanto, esse número reflete mais a saída de outros perfis de investidores do mercado do que um movimento de sustentação ou alavancagem de volumes por parte do capital externo. O saldo líquido de investidores estrangeiros foi negativo em R$ 24,2 bilhões no ano, evidenciando a fuga de recursos. Sem considerar os aportes em IPOs, o déficit seria ainda maior, alcançando R$ 32,1 bilhões.

(Imagem: Einar Rivero/Elos Ayta)

Participação elevada com fuga de capital

A expressiva participação de 55,8% dos estrangeiros no volume total não se traduziu em estímulo ou valorização do mercado acionário. Pelo contrário, o Ibovespa acumulou uma queda de mais de 10% em 2024. Em dólares, a queda foi de 29,9%, marcando seu pior desempenho desde 2015. O movimento evidencia que, embora os estrangeiros tenham negociado volumes consideráveis, sua atuação esteve mais associada à realização de lucros e desinvestimentos do que a uma injeção líquida de capital.

Taxa Selic elevada e retração das pessoas físicas

O ambiente de juros altos no Brasil em 2024 foi crucial para a redução da participação das pessoas físicas no mercado de ações. Com a Selic mantida em patamares elevados ao longo do ano, ativos de renda fixa passaram a oferecer retornos atrativos, combinando menor risco com alta rentabilidade. Esse cenário favoreceu a migração de investidores individuais para produtos como CDBs, LCIs, debêntures e títulos públicos, reduzindo o apetite por ativos de renda variável.

As pessoas físicas, que em 2020 representavam 21,4% do volume negociado na B3, encerraram 2024 com apenas 13,3%, a menor participação no período analisado. Essa redução contínua reflete não apenas a atratividade da renda fixa, mas também o impacto da volatilidade e do mau desempenho do mercado acionário, que registrou quedas expressivas ao longo do ano.

Institucionais e outros perfis de investidores

Os investidores institucionais, segunda maior categoria em participação de mercado, encerraram 2024 com 26,4%, uma queda de 0,7 pontos percentuais em relação a 2023. Esse recuo pode ser atribuído ao cenário de incertezas fiscais e políticas, que limitou movimentos mais ousados de fundos de investimento e previdência.

As instituições financeiras representaram 3,8% do volume negociado, uma leve alta de 0,2 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Já a categoria “Outros”, que inclui empresas públicas e privadas, permaneceu estável em 0,8% pelo segundo ano consecutivo.

O impacto da saída dos investidores estrangeiros

Embora os investidores estrangeiros tenham liderado o volume financeiro em 2024, o saldo líquido negativo reforça a percepção de que sua atuação foi marcada pela retirada de capital. Essa fuga, combinada ao cenário global de aversão ao risco e incertezas locais, contribuiu para o desempenho negativo do Ibovespa. A redução da liquidez gerada pela saída de estrangeiros e pela retração das pessoas físicas fragilizou ainda mais o mercado de capitais brasileiro.

Retração das pessoas físicas e desafios para o mercado

A diminuição da participação das pessoas físicas no mercado acionário brasileiro representa um retrocesso na democratização do mercado de capitais. Com menor presença desse perfil de investidor, o mercado perde em diversificação e resiliência. Para reverter essa tendência, será necessário criar estímulos que tornem a renda variável competitiva frente à renda fixa, como incentivos fiscais, simplificação regulatória e maior educação financeira para pequenos investidores.

Cenário desafiador para 2025 com oportunidades seletivas

O ano de 2025 começa com grandes desafios para o mercado acionário brasileiro, mas também com potenciais oportunidades. A recuperação dependerá de uma combinação de fatores, como a redução das taxas de juros, avanços na agenda fiscal e melhora na percepção de risco do país, essenciais para atrair novamente o capital estrangeiro e reconquistar as pessoas físicas para a renda variável.

Apesar do cenário macroeconômico adverso, a forte depreciação dos preços das ações e os múltiplos extremamente baixos de muitas empresas listadas na B3 podem abrir espaço para oportunidades de recuperação. Esse ambiente pode ser favorável para investidores atentos, que, com uma seleção criteriosa de ativos, podem identificar empresas com fundamentos sólidos e boas perspectivas futuras, capazes de proporcionar ganhos expressivos.

No entanto, a identificação dessas oportunidades exige uma análise minuciosa dos fundamentos das empresas, seus modelos de negócios e projeções econômicas. Em um cenário ainda marcado por incertezas, contar com o apoio de profissionais especializados torna-se altamente recomendável. Esses profissionais podem auxiliar na construção de portfólios mais robustos e alinhados aos objetivos dos investidores, priorizando segurança e fundamentos sólidos.

Se 2024 foi um ano de retração e ajustes, 2025 pode marcar o início de uma recuperação, especialmente para quem souber identificar e aproveitar as oportunidades no mercado. Ainda assim, a cautela segue sendo a principal aliada em um ambiente volátil e desafiador.

Einar Rivero é CEO da Elos Ayta Consultoria e especialista de dados financeiros de mercado. Formado em Engenharia, tornou-se referência para o mercado financeiro por trazer levantamentos e insights inéditos a partir do cruzamento de dados econômicos. Durante 25 anos, atuou como líder e gerente de relacionamento institucional de plataformas de informação financeira, como TradeMap e Economatica.
einar.rivero@autor.moneytimes.com.br
Einar Rivero é CEO da Elos Ayta Consultoria e especialista de dados financeiros de mercado. Formado em Engenharia, tornou-se referência para o mercado financeiro por trazer levantamentos e insights inéditos a partir do cruzamento de dados econômicos. Durante 25 anos, atuou como líder e gerente de relacionamento institucional de plataformas de informação financeira, como TradeMap e Economatica.