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Investidores da Alibaba se antecipam a sanções americanas

21 ago 2020, 11:02 - atualizado em 21 ago 2020, 11:02
Alibaba
A movimentação com os papéis da Alibaba indica que a retórica feroz do governo do presidente Donald Trump contra empresas chinesas de tecnologia convence investidores a tomar medidas para evitar suas potenciais consequências (Imagem: Facebook/Alibaba Group)

Muitos dos maiores investidores da Alibaba Group Holding converteram bilhões de dólares em papéis negociados nos EUA por ações listadas em Hong Kong, em parte para evitar potenciais sanções do governo americano e o cancelamento da listagem de importantes empresas chinesas de tecnologia.

Temasek Group Holdings, Baillie Gifford e Matthews Asia estão entre as grandes acionistas que trocaram participações na gigante chinesa de comércio eletrônico para aproveitar novas regras que facilitam a substituição, após a listagem da Alibaba em Hong Kong no ano passado. Questões geopolíticas contribuem para a mudança, de acordo com pessoas familiarizadas com as decisões.

“Muitos gestores de fundos de longo prazo, especialmente aqueles com gestores na Ásia, estão realizando ou considerando a troca de ADRs por ações listadas em Hong Kong ”, disse Nelson Yan, responsável por investimentos em mercados de capitais offshore da Creditease Wealth Management, se referindo à sigla para American Depositary Receipts, que são recibos de companhias estrangeiras emitidos nos EUA. “A demanda por esses ADRs nos EUA agora é atrapalhada pela política.”

A movimentação com os papéis da Alibaba indica que a retórica feroz do governo do presidente Donald Trump contra empresas chinesas de tecnologia convence investidores a tomar medidas para evitar suas potenciais consequências.

Paralelamente, com as companhias chinesas mais empenhadas em fazer listagens duplas usando Hong Kong, a liquidez dos papéis listados em Nova York é ameaçada.

Em março, James Anderson, sócio e gestor de carteiras da Baillie Gifford, disse em entrevista à Bloomberg Television que o valor de mercado da Alibaba poderia chegar a US$ 2 trilhões.

Em seguida, no segundo trimestre, a instituição trocou 10,4 milhões de papéis listados nos EUA, com valor aproximado de US$ 2,67 bilhões. A quantia corresponde a aproximadamente um quinto de sua participação e à maior mudança desde que a gestora investiu na companhia chinesa pela primeira vez, em 2014.

A Baillie Gifford, que é uma das maiores acionistas da Alibaba, converteu os instrumentos em ações listadas em Hong Kong, de acordo com uma pessoa com conhecimento da decisão. Um porta-voz da organização sediada em Edimburgo se recusou a comentar.

Um porta-voz da Temasek, estatal de investimento de Cingapura, confirmou a troca de metade de sua participação — representando 12,1 milhões de papéis com valor estimado em US$ 3 bilhões — dos EUA para Hong Kong, mas se recusou a fazer comentários adicionais.

A questão é tratada com prioridade por muitos investidores institucionais desde maio, quando o Senado americano aprovou por esmagadora maioria o projeto de lei S.945, que pode acabar impedindo a listagem de companhias chinesas nas bolsas dos EUA.

Entre suas condições estão a certificação de que as empresas não estão sob o controle de governos estrangeiros e a permissão para auditoria realizada pelo Comitê de Supervisão da Contabilidade de Empresas de Capital Aberto.

A Matthews Asia, que administra cerca de US$ 23,4 bilhões em ativos, se livrou de quase três quartos dos papéis da Alibaba que detinha nos EUA durante o segundo trimestre, totalizando ao redor de US$ 700 milhões. Boa parte desse valor agora está em Hong Kong e no Pacific Tiger Fund, comandado por Sharat Shroff.

“O local não importa muito — o importante é ter acesso a liquidez e ter acesso ao mecanismo de preços certo para continuarmos posicionados em Alibaba por meio da listagem em Hong Kong, bem como da listagem nos EUA”, disse Shroff a clientes durante um webcast em julho.