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Investidores brasileiros e estrangeiros salvam Ibovespa em 2020

29 dez 2020, 17:56 - atualizado em 29 dez 2020, 18:27
Ibovespa
Nem ruídos políticos ou prognósticos fiscais assustadores afastaram essa classe de investidores da bolsa, que no final de novembro somava 3,2 milhões (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Uma das máximas no mercado financeiro é de que contra fluxo não há argumento, e o encerramento de 2020 na bolsa brasileira reforça tal premissa, com o Ibovespa (IBOV) terminando o ano com sinal positivo e perto de níveis históricos.

Índice de referência do mercado acionário no Brasil, o Ibovespa renovou marca histórica intradia nesta terça-feira, no penúltimo pregão do ano, a 119.860,91 pontos.

Mesmo perdendo o fôlego, ainda acumula alta de cerca de 3% em 2020.

As ações negociadas na B3 (B3SA3) sentiram o cataclismo global provocado pela pandemia ainda no primeiro trimestre, com medidas de ‘lockdown’ minando empresas e economias e afastando as cotações dos recordes de janeiro.

No pior momento do ano, em março, o Ibovespa se aproximou dos 60 mil pontos, um tombo de quase 50% frente às máximas históricas registradas até então em janeiro, quando encostou nos 120 mil pontos, nível nunca antes superado.

“Foi um tapa na cara”, afirmou o superintendente de Renda Variável na BlueTrade, Leonardo Peggau, acrescentando que 2020 tinha começado bem, com pautas de reformas econômicas andando, entre outras variáveis benignas. “Foi um ano de superação.”

Apesar do susto, muitos enxergaram no tombo uma oportunidade de buscar melhores retornos de seus investimentos, como referendam dados sobre a participação de pessoas físicas, que cresceu exponencialmente, dado o ambiente de juros muito baixos.

Em boa parte do ano, a fraqueza da atividade econômica no país e o quadro inflacionário tranquilo respaldaram as apostas de manutenção da Selic em mínimas históricas, estimulando a busca por melhores retornos.

Nem ruídos políticos ou prognósticos fiscais assustadores afastaram essa classe de investidores da bolsa, que no final de novembro somava 3,2 milhões, de 1,6 milhão um ano antes.

Foi o fluxo local, inclusive, que garantiu as altas acumuladas em abril, maio, junho e julho do Ibovespa, mesmo com forte saída de capital externo da bolsa, em meio aos receios relacionados à Covid-19 e eleição nos Estados Unidos.

Após algum ajuste nos meses seguintes, o Ibovespa retomou a tendência de alta em novembro, embalado desta vez por um forte fluxo de capital externo, em meio à elevada liquidez global oriunda de estímulos monetários e fiscais no mundo.

Esse movimento encontrou respaldo no desfecho da eleição norte-americana com a vitória de Joe Biden e no noticiário promissor sobre vacinas contra a Covid-19, com as primeiras aplicações em vários países ocorrendo antes de 2021.

Outubro já tinha fechado com saldo positivo de estrangeiros, mas em novembro esse movimento desabrochou com as compras superando as vendas em mais de 33 bilhões de reais. Em dezembro, o superávit já alcança 17 bilhões de reais.

Diferente do primeiro movimento, quando o foco voltou-se a ações de empresas que se beneficiavam da pandemia, principalmente de tecnologia e varejo online, e papéis vistos como muito ‘esticados’, o alvo foi guiado a papéis de valor e cíclicos como bancos e produtores de commodities.

E esses dados não consideram os fluxos para a bateria de ofertas de ações (IPOs e follow-ons) registrada em 2020, ressaltou o gestor e sócio da Trígono Capital, Werner Roger. “Dinheiro novo está entrando”, acrescentou.

Desde janeiro, foram quase 50 operações entre ofertas iniciais de ações e subsequentes.

Combinando os fluxos de investidores locais e do exterior, o Ibovespa conseguiu acumular uma alta de mais de 90% desde as mínimas de 2020 em março e reverter o declínio do ano, recompensando quem se arriscou em meio a tantas incertezas.

Para 2021, o mercado não descarta ajustes, mas a perspectiva permanece positiva, em meio a estímulos ainda expressivos no exterior e ampliação da vacinação contra a Covid-19, enquanto o prognóstico para o Brasil inclui um crescimento maior e Selic ainda baixa, mesmo que em patamar mais elevado que o atual.

A XP considera 130.000 pontos um valor justo para o Ibovespa no fim de 2021, mesma estimativa do Bank of America.

Para o BTG Pactual, em um cenário de solução positiva para o dilema fiscal que traga as taxas reais de longo prazo para 3%, o Ibovespa poderia ser negociado um pouco acima disso – cerca de 133 mil pontos.